Para onde vai, o aposentado Gilberto Gonçalves Cicuro, 72 anos, leva um dos seus instrumentos musicais para compor a trilha sonora de suas andanças pela capital. Quando os Caçadores de Notícias o encontraram para a entrevista, na manhã ensolarada da última sexta-feira, Gibo, como é conhecido na região do Boa Vista, onde mora há 40 anos, estava esmerilhando um pequeno tambor e cantarolando clássicos do samba dentro de um pequeno mercado do bairro.
“Música pra mim é uma terapia eficaz para manter minha cabeça sempre boa. Por isso levo música para todos os lados. Toco em casa, quando eu vou à padaria, quando vou pro Centro e até quando preciso fazer compras. Sem música parece que a minha vida fica sem graça. Então, para ter minha liberdade, levo meus instrumentos para tudo que é canto”, diz.
Gibo é funcionário público estadual aposentado. Durante 35 anos realizou a contabilidade da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Depois de se retirar oficialmente das atividades profissionais, ele decidiu ter a música como sua principal atividade ao longo de sua aposentadoria. “Me faz bem. Então resolvi levar em frente”, comenta.
O aposentado não tem nenhuma formação em música. Sempre foi autodidata. Revela que aprendeu a fazer “uns batuques” com um tio que era percussionista na escola de samba Embaixadores da Alegria. Apesar de não ter estudado música, Gibo toca harmônica, cavaquinho, banjo, bongô, timba e outros instrumentos de percussão. “Sempre gostei de música. Desde pequeno batucava em lata de leite em pó. Depois fui aprendendo sozinho outros instrumentos”, lembra.
O seu repertório se resume basicamente à música popular brasileira (MPB). Gibo “manda ver” em samba-canções dos anos 30 e 40, clássicos do samba e muita bossa nova. Com o instrumento em mãos e o repertório em mente, ele segue pelo bairro batucando e cantarolando. “Levo a felicidade sempre comigo”, brinca.
Fama
No bairro, Gibo já é conhecido e os vizinhos sabem que ao encontrá-lo vão dar de frente com música. O empresário Orlando Toso é dono do mercado onde os Caçadores de Notícias encontraram Gibo. Ele conta que há 30 anos o aposentado entra no estabelecimento e solta voz para clientes e funcionários. “Toda a semana ele está aqui. Não tem erro. Às vezes cantando mais, outra vezes menos, mas sempre cantarolando. Faz tempo que aguentamos essa figura”, ironiza o comerciante.
“O pessoal já me conhece e brinca muito comigo e às vezes até reclama. Mas sempre na brincadeira e no respeito. Conheço todos aqui há muitos anos. Mas o importante é o respeito entre todos. Gosto do jeito que eu levo a vida, sem preocupações e com a música me acompanhando para todos os lados”, resume.