Pouca gente sabe, principalmente os mais novos, que ainda não completaram os 30 anos, que a Rua Cruz Machado, no Centro de Curitiba, já foi o “point” da noite curitibana e era referência em diversão adulta na década de 80. Boates, com músicas de vários gêneros, bebidas, garçons amistosos e garotas de programa, se espalhavam ao longo de todo seu percurso, que vai da Visconde de Nacar até a Praça Tiradentes.
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Era nesta rua que tudo e todos se encontravam (os quarentões ou mais vão lembrar). E não é que o jornalista André Wuicik decidiu resgatar esse lado B da noite curitibana para eternizar momentos, desmistificar lendas e confirmar a fama da região? O livro “Cruz Machado Os Mistérios da Vida Noturna de Curitiba” é um mergulho no passado.
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Apesar de ter apenas 24 anos e de não ter vivido a época áurea das boates na Cruz Machado, André conta que sempre saiu com amigos bem mais velhos, que falavam animados sobre as coisas vividas naquela região. E André, que gosta muito de cinema, diz que vê na Cruz Machado muito dos submundos de filmes antigos, como Taxi Driver (1976) ou Perdidos na Noite (1969). “Na adolescência, eu fazia serviço de cartório para a família, andava muito por aí. Eu sou curioso, gosto de saber de onde vem o mito disso, ou daquilo, as lendas do Largo da Ordem, gosto de ir atrás, perguntar. Então logo chegou a fase de eu começar a sair à noite. Vi que a Cruz Machado tinha histórias que as pessoas gostavam de contar e ouvir, mas não havia nada escrito sobre isso. Então desde essa época eu tinha vontade de escrever um livro sobre a região, contando o que foi mito ou realidade”, explica o jornalista e escritor.
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O que começou a trazer atenção para a Rua Cruz Machado, lá na década de 1960, foi o calçamento da XV de Novembro. Com isso, o trânsito da região sofreu modificações e mais carros passaram a circular pela Cruz Machado, que na época já era uma via de chegada à capital. Ela foi alargada pelo então prefeito Ivo Arzua, o que atraiu o comércio. Anos mais tarde, virou o símbolo da diversão na cidade.
Com a ideia do livro na cabeça, André foi descobrir quem eram os donos das boates da região (não que já não existissem outras boates de sucesso no Centro, mas não concentradas no mesmo lugar).
Descobriu vários deles, principalmente o Aldo Cardoso, que até os 30 anos era trabalhador braçal, graniteiro de profissão. Acabou arrendando um restaurante no Parolin, o transformou em dançante com música sertaneja, viu que deu certo e foi arrendando outras várias casas noturnas. Acabou dono da maioria delas na Rua Cruz Machado, como Lidô, Metrô, Baila Comigo, Flicks, entre muitas outras. A primeira que ele criou neste endereço foi a Viva Maria.
Uma das principais fontes para o livro, Aldo passou a viajar, conhecer como era a noitada em alguns locais do mundo e fez questão de “importar” todos aqueles neons e suntuosidades, o jeito das dançarinas se apresentarem e tudo o mais que era novidade lá fora, o que atraiu a atenção dos futuros clientes. Clientes, aliás, que vinham de todos os lados e das mais variadas classes sociais. A região era democrática: reunia de “magnatas” a “pé rapados”. Hoje, Aldo não é mais dono de praticamente nenhuma delas. À duras penas manteve a Lidô por algum tempo, na Rua Visconde do Rio Branco, quase na esquina da Cruz Machado, mas o imóvel foi derrubado recentemente para dar lugar a um prédio.
Passado, presente e futuro
É impossível falar do universo da rua Cruz Machado, sem quebrar uma esquina que seja. São vários estabelecimentos, como a Lidô citada anteriormente, que não ficavam exatamente na rua, mas que compunham o cenário. Com isso em mente, não dá para deixar de falar do famoso restaurante Pantera Negra, na Rua Ermelino de Leão, quase na esquina da Cruz Machado.
Embora leve este nome atualmente, ele ficou “mundialmente” conhecido por seu primeiro nome: Gato Preto. Premiado três vezes como a melhor costela de Curitiba, o restaurante dançante nasceu com a proposta de ser um local onde as pessoas pudessem jantar em qualquer horário da noite ou da madrugada, antes ou depois da animação nas boates.
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Tanto é que ele só abre à noite (18h) e fecha com o dia praticamente claro. Ali, entre muitas histórias, aconteceu uma inesperada visita na década de 1980. Após um show realizado em Curitiba, o cantor espanhol Julio Iglesias apareceu de surpresa para conhecer a casa, causando alvoroço entre os frequentadores e o proprietário do local. O acontecimento é uma das “lendas” contadas por André em seu livro.
Diferente das boates da região, cuja estrutura ou mesmo suas místicas já morreram, o Gato Preto continua firme e forte, com 52 funcionários. O local segue reunindo clientes de todas as classes sociais. O dono, Natal Santos, garante um jantar bem temperado, preparado com muito cuidado. Hoje o lugar reúne desde boêmios até a turma cult da cidade, fazendo o mesmo sucesso de três décadas atrás.
Dono polêmico
Por muitos anos, circulava uma conversa de que um conhecido político da época, que também era advogado, era dono de quase todas as boates da região e que faturava alto não só com as garotas de programa, mas com algumas ilegalidades. No livro, André diz se isto foi ou não verdade, e traz histórias, com detalhes, que aconteceram com vários do estabelecimentos da Cruz Machado, com capítulos especiais àqueles que passaram a oferecer sexo pago.
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E o futuro?
Hoje a Cruz Machado não é mais o point da noite curitibana. Vários outros bairros da capital reuniram novos empreendimentos noturnos, com outras formas de se divertir, mais modernos, sofisticados, etc. O tráfico de drogas sempre existiu na região, na época regado apenas à maconha e cocaína. A chegada do crack não só acabou com a vida de muitos viciados, como também dos donos de boates da região, que viram a clientela minguar perto dos anos 2000 por causa dos “zumbis craquentos” que importunavam todo mundo.
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Junto a estes dois fatores, some-se também o surgimento da internet e de aplicativos de relacionamentos, que mudou a forma geral das pessoas se relacionarem e afastaram muitas garotas de programa das boates. Quer conhecer detalhes e histórias mais “picantes” sobre a Rua Cruz Machado? O livro tem 152 páginas e custa R$ 35. Depois do lançamento, estará disponível nas livrarias da capital. No próximo domingo (10), das 10h às 14h, o André fará mais um lançamento do sei livro na Feirinha do Largo da Ordem, ao lado da Casa Romário Martins.
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