O futebol sempre teve presença forte na vida do guarda municipal Adriano Calisto, o “Batuta”, de 44 anos. Nascido e criado na Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), ele era o único piá da rua que tinha uma bola. Seus amigos batiam à porta de sua casa para pedir o brinquedo emprestado e convidá-lo a jogar. Um dia, ouviu gritarem “Batuta, Batuta!”. Era um vizinho chamando por ele. “Dizem que batuta é a varinha do maestro, né, mas ele disse com o sentido de pessoa legal, gente boa, e o apelido pegou”, conta.
Batuta também é árbitro, e apitou a tradicional Copa Italicus, competição de categorias de base de Curitiba e região metropolitana. “Eu passava aqui pela vila, que tem 12 praças, cada uma com uma cancha de futebol, e via as crianças jogando. Um dia, tive a ideia de aproveitar as folgas da minha escala de guarda para treinar a meninada”, diz ele, que define a iniciativa como uma mistura de paixão e trabalho voluntário.
O árbitro, que faz parte da associação de moradores da vila, aproveitou a relação próxima com a Escola Municipal Albert Schweitzer, onde estudou e trabalhou como guarda municipal, para divulgar a escolinha de futebol, cujas aulas são realizadas na praça central da vila, em frente à Igreja Matriz. “No primeiro treino, em novembro do ano passado, apareceram 12 alunos. Depois, vieram também alunos das escolas Monteiro Lobato e Nossa Senhora da Luz. Hoje, estamos com cerca de 60”, comemora. São 40 meninos na categoria sub-15 e 20 na sub-17.
Bons resultados
Ter bom desempenho escolar se tornou requisito para participar do projeto. Além dos alunos evoluírem na disciplina dentro de campo, a prática do esporte refletiu nas notas e na conduta em sala de aula. “Tivemos um aluno que teve nota vermelha, conversei com o pai dele e ele ficou um mês de castigo, sem poder participar dos jogos. Depois, tirou nota azul e voltou a treinar. Uma pedagoga veio me parabenizar porque o comportamento de outro aluno melhorou bastante depois de entrar na escolinha”, relata Batuta.
Em menos de dez meses, a escolinha já revelou talentos e teve conquistas. “Sete alunos descobertos aqui foram para uma escolinha do Atlético Paranaense. No campeonato da Secretaria Municipal de Esporte Lazer e Juventude (SMELJ), com várias escolas da região, ficamos com o primeiro lugar na categoria sub-15, segundo na sub-9 e terceiro na sub-11”, cita. As aulas são gratuitas e acontecem no período da tarde, em dias alternados. Em uma semana, às segundas, quartas e sextas; na seguinte, às terças e quintas, conforme as folgas do guarda.
Sonho mais próximo
Os meninos Nicolas Leotto Martins, 12, e Erik Henrique Bregoch, 13, têm o sonho de serem jogadores de futebol profissionais desde que se entendem por gente, quando começaram a ver o esporte na televisão e a fazer os primeiros gols. “Antes eu jogava na escolinha do Araucária. Minha mãe ficou sabendo das aulas aqui na vila e me inscreveu. Aqui consegui evoluir um pouco mais. Estou sempre procurando melhorar”, diz Nicolas, que quer ser meia ou volante. Erick jogava antes na escolinha do Santos. “Aqui é bom porque não tem que pagar taxa, e o professor é exigente, mas também é gente boa. E é do lado de casa”, aponta ele, que almeja a posição de meia ou meia-atacante no futuro. De acordo com Batuta, os dois meninos têm muito talento e potencial.