Força na peruca!

Parado no estacionamento do Park Shopping Barigui, o grande caminhão cor de rosa chama a atenção de quem passa pelo local. Mas o que nem todos sabem é a importância e nobreza do trabalho realizado em seu interior. Dentro dele acontecem aulas profissionalizantes do Programa “Força na Peruca”, um projeto itinerante mantido pela Fundação Laço Rosa, do Rio de Janeiro, em parceria com ONGs locais, que ensina pessoas de áreas carentes ou que buscam um emprego, a arte de fazer perucas, capacitando estes alunos para o mercado de trabalho.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Ao final do curso gratuito, que dura 25 dias em cada cidade por onde passa, as perucas feitas pelos alunos com cabelos naturais vindos de doadores de todo o Brasil, são oferecidas, sem nenhum custo, às mulheres que enfrentam o tratamento contra o câncer ou doenças que provocam a queda dos cabelos. Uma oportunidade de ajudar e ser ajudada, que conquistou a desempregada Sirlei Lopes da Silva, 39 anos.

Oportunidade de ajudar e ser ajudada conquistou a desempregada Sirlei. Foto: Felipe Rosa
Oportunidade de ajudar e ser ajudada conquistou a desempregada Sirlei. Foto: Felipe Rosa

“Estou sem trabalho e fiquei sabendo do curso através de uma amiga. Felizmente consegui fazer minha inscrição e estou gostando bastante. Já tinha feito um curso básico de costura, mas nunca tinha tecido cabelo, é bem diferente. Se tudo der certo, pretendo trabalhar com isso. É muito gratificante saber que esta peruca vai para uma pessoa que precisa. É algo que você faz com muito amor e carinho”, relata Sirlei, emocionada.

Já para Sonia Maria Soares, 51, participar do curso foi uma maneira de homenagear uma pessoa especial. “Minha cunhada Rosângela era vice-presidente da Humsol e ela faleceu faz três meses, após uma luta de 13 anos contra um câncer de mama. Ela sofreu muito, mas era uma pessoa muito feliz com a vida. E é por causa dela que eu estou aqui hoje. Sei a diferença que as perucas fazem na vida das mulheres. É muito gratificante poder ajudar”, diz.

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Primeiro em Curitiba

O caminhão do “Força na Peruca” chegou a Curitiba, a primeira cidade a receber o programa, no dia 14 e o curso deve terminar no dia 3 de agosto. Daqui ele segue para Goiânia, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas de acordo com a gerente da Fundação Laço Rosa, Patrícia Bulle, a capital paranaense foi escolhida por um motivo que não pode ser comemorado.

“Curitiba foi escolhida por ser uma das cidades campeãs em índices de mortalidade de câncer de mama no Brasil. Por este motivo, a cidade foi a primeira receber o curso, que tem como objetivo dar uma profissão a pessoas de comunidades carentes, para colocá-las no mercado de trabalho e movimentar o banco de perucas das organizações parceiras”.

Segundo ela, neste programa os alunos não têm só aulas de perucaria, têm também aulas de empreendedorismo, marketing e finanças, recebendo duas certificações, para que consigam montar seus próprios negócios. E não é só isso. Patrícia diz que o programa também busca a conscientização para a prevenção precoce do câncer, especialmente o de mama.

“Independente de qualquer ação social de empoderamento, o caminhão chama a atenção das autoridades e das mulheres, para levar esta informação sobre o câncer de maneira diferenciada. O câncer não é uma sentença de morte. E esta não é só uma ação social, você ajuda as pessoas que precisam trabalhar, o paciente que precisa de uma peruca e ainda atua no alerta da detecção precoce da doença. Isso é amor e o amor cura”, pontua Patrícia.

Ellen: faltam "peruqueiros" em Curitiba. Foto: Felipe Rosa
Ellen: faltam “peruqueiros” em Curitiba. Foto: Felipe Rosa

Parceria

Em Curitiba, o “Força na Peruca” conta com o apoio do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol) que receberá as doações das perucas para repassar às pacientes e da Casa do Megahair, que disponibilizou uma professora e fara a certificação dos alunos, formados como peruqueiros.

De acordo com a coordenadora do Humsol, Ellen Vasconcelos, o programa é uma chance única de ingressar em um mercado de trabalho, com grandes possibilidades. “Existem poucos peruqueiros, em Curitiba, há falta destes profissionais. E este é um curso que não existe na cidade, que oferece boas chances de conseguir um trabalho. Além disto, aqui o aluno não paga nada, nem a passagem para vir para as aulas. Eles só se comprometem a entregar, no fim do curso, cinco perucas prontas que serão doadas para as pacientes”.

No total, serão formados cerca de 20 alunos, que foram divididos em duas turmas, uma na parte da manhã e outra à tarde, onde eles aprender manusear a máquina de costura, tecer o cabelo e montar as perucas. No dia 4 de agosto acontece a formatura do grupo, que deve entregar as perucas às pacientes que não podem pagar por uma peruca. Os modelos feitos com cabelos naturais podem custar a partir de R$ 1,3 mil. “Só esta semana tivemos seis pedidos por uma peruca. São mulheres que sonham em resgatar sua autoestima após a doença. Isto não vai curá-las, mas ameniza o sofrimento”, diz Ellen.

Erli: o mais difícil é tecer o cabelo. Foto: Felipe Rosa
Erli: o mais difícil é tecer o cabelo. Foto: Felipe Rosa

Dom e amor

Experiente, a peruqueira e professora Erli França conta que em casos mais urgentes monta uma peruca em dois dias. No curso, os alunos conseguem dar forma ao acessório somente após uma semana de aulas. “O mais difícil é tecer o cabelo não é qualquer um que aprende, tem que ter dom, gostar do trabalho e ter amor. Mas os alunos estão se saindo bem e o mercado busca este profissionais. Tem muito espaço para eles em Curitiba. Para mim está sendo ótimo participar do projeto, um imenso prazer, não sinto nem canseira”, conta. Para quem se sair melhor e se destacar, segundo o Instituto Laço Rosa, o prêmio será um capital semente, uma máquina industrial para que ele possa trabalhar de casa.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna