Fome de paz

Aprender a depender de Krishna (Deus) e que ele está no controle de tudo, mantendo permanentemente o “estado amoroso”. Os integrantes do movimento Hare Khrishna em Curitiba seguem isso em todas as atividades que realizam. Mas é na distribuição diária e gratuita de alimentos que esse princípio se torna ainda mais visível, pois eles servem quantos pratos de comida forem solicitados, no almoço ou no jantar.

O Prabhu (mestre) Hara Kanta garante que em quase 40 anos do movimento em Curitiba “nunca faltou” o que servir, mesmo com o crescimento da procura. “Antigamente vinham umas 30 pessoas no dia, hoje são centenas”, revela. Ele explica que esse trabalho segue os princípios trazidos pelo responsável por disseminar a cultura Védica (que devotam Krishna ou Vishnu) no Ocidente, o fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (Iskcon), Abhay Charanaravinda Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

“É função de cada templo Hare Krishna não deixar passar fome qualquer um que esteja a uma distância de 15 quilômetros da sede, até porque uma pessoa com fome fica descontrolada e até mais violenta”, conta. “A língua é a mais voraz dos sentidos, a pessoa pode cair vítima do descontrole compulsivo da língua”, ensina.

Distribuição

A única adaptação que eles fizeram ao longo dos anos foi de estabelecer horários para a distribuição, a fim de não comprometer as outras atividades do templo. Os integrantes iniciam a jornada às 4h30 e até 1h há quem ainda esteja acordado para encerrar as últimas missões do dia, dentre elas o pré-preparo das refeições (deixar os grãos de molho, cortar os temperos e vegetais, etc). “Somos em cinco no templo, mas todos são engajados e fazem como uma oferenda a Krishna todo o preparo, deixando espiritualizado”.

De segunda a sexta-feira, as janelas da sede são abertas ao meio-dia e às 20h para saciar a fome de qualquer um que estenda os braços para receber a refeição vegetariana. “Não usamos ingredientes obtidos de forma violenta, pois todo animal morto libera adrenalina e isso vai para o organismo de quem come o animal”, justifica Hara Kanta.

No almoço, o prato é à base de arroz, feijão, salada e pão. No jantar, são servidos pão e sopa com proteína texturizada de soja (PTS). E a maioria repete o prato. “Antes de servir, abençoamos todos os alimentos, e acreditamos que quem come fica mais tranquilo”, afirma.

Recursos

Diariamente são consumidos aproximadamente nove quilos de arroz e cinco quilos de feijão, além de óleo, gás, temperos, verduras e frutas, que eles não registram na ponta do lápis. O mais surpreendente é que o movimento tem como principal fonte de recursos tanto para a distribuição gratuita de alimentos, quanto para a manutenção da sede (aluguel, etc) os valores obtidos com os livros que eles entregam pela cidade.

O Bramacari (monge) Phalguna acrescenta que o segredo deles está em “usar de forma inteligente os recursos materiais”. “Quanto mais você compartilha e administra as graças divinas, mais recursos você recebe para repassar. A maioria das pessoas tende a se preocupar apenas com os sustento de si mesmo ou dos mais próximos e isso não faz aumentar a riqueza”, afirma.

Com exceção das doações que eles conseguem aos sábados, quando vão à Central de Abastecimento (Ceasa) de Curitiba garimpar frutas e verduras, não há nenhum recurso ou doação por parte de alguma instituição ou órgão municipal, estadual ou federal. “A Ceasa ajuda muito, mas os grãos e cereais, que respondem por 70% do que é consumido, é custeado com os livros”.

Voluntários

Todo apoio e doações são bem vindos, inclusive de trabalho voluntário para a própria cozinha e não precisa se transformar em um devoto. “Somos todos irmãos e filho de um pai, por isso toda forma de contribuição é válida”, explica Phalguna. Vale lembrar que eles não consomem nem carnes e peixes, nem ovos e isso inclui alimentos como massa de macarrão com ovos.

Quem vai à janela do templo aprova a refeição. “É a segunda vez que estamos aqui, além de economizar, ainda comemos bem”, explicou o casal Tiago Luís Bueno e Emeli Moroni da Rocha. O estudante Alex Neves conta que já pensa em contribuir com o templo. “Como pretendo vir sempre aqui, porque é uma forma saudável de se alimentar sem gastar, vou ajudar”.

Endereço

Quem quiser contribuir também pode entrar em contato com o templo pelo telefone (41) 3015-5106 ou email: iskconcuritibahkdb@gmail .com. O endereço da sede é: Rua Duque de Caxias, 76, bairro São Francisco.

Aqueles que se interessam pelo movimento também podem participar dos chamados festivais que eles realizam às 19h de segunda a sexta, onde são feitos estudos e mantras, ou aos domingos, às 17h.

Veja a galeria de fotos do Templo Hare Krishna e assista abaixo o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=IpR4E3BZS5w&

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504