“Maldita Copa”. Essa é a declaração da empregada doméstica Leonice Pereira Domingues, 48 anos, que passou por uma verdadeira saga nos últimos dois anos para conseguir realizar uma cirurgia ginecológica que, finalmente, ocorreu no dia 15 de abril, no Hospital Evangélico. A Tribuna acompanhou as idas e vindas a que ela foi submetida assim como ocorre com milhares de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) dia após dia.

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Diante da falta de recursos para a saúde, Nice, como é chamada desde a infância, não consegue se manifestar de outra forma em relação ao mundial que inicia no próximo dia 12. “Se não fosse o jornal, não sei o que seria de mim, porque o nosso governo esqueceu a saúde de vez com essa Copa. E não é culpa dos funcionários. Não existem recursos, tanto que gastei uns R$ 500 entre medicamentos e até gases porque não tinha na rede pública”, conta.

Mas as despesas, que custaram todas as economias de uma vida inteira de muito trabalho, são apenas um capítulo dessa saga. O sofrimento dela não encerrou na cirurgia, seis dias depois, durante o banho, todo o inchaço da cirurgia se converteu em hemorragia. “A dor era de travar os dentes, a ponto de eu preferir estar morta, mas no dia da hemorragia perdi a voz de tanta fraqueza”, afirma. “Acho que foi infecção, sei que minha barriga foi ficando preta, quente e inchada, a sensação era que iria explodir mesmo, e dias depois da alta do hospital precisei voltar por conta da hemorragia”, descreve.

Com a perda de sangue, ela precisou passar por uma transfusão e, no dia seguinte, um procedimento de drenagem daquele líquido acumulado. Ela recebeu alta no dia 23 e durante uma semana foi diariamente ao hospital para um acompanhamento. Ela conta que desde então sente que a cicatrização está seguindo o ritmo esperado. “O médico disse que leva uns 90 dias para não sentir mais dor”.

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Mas o verbo esperar continua na rotina de Nice. O resultado da biópsia dos miomas retirados ainda não saiu. “Liguei esta semana e me pediram para ligar na próxima. O jeito é esperar”, comenta. Ela também conta os dias para a perícia do INSS, marcada para a última semana de junho. “Só depois da perícia vou saber quando posso voltar ao trabalho. Não vejo a hora disso acontecer, porque não sei ficar parada”, explica.

O retorno ao trabalho também tem sabor de gratidão, já que a patroa dela, Luciana dos Santos Lima, foi quem a apoiou. “Quando comecei a trabalhar com ela, já esperava pela cirurgia e a avisei que precisaria parar por um tempo quando chegasse a minha vez de ser operada. Só que depois de dois anos, eu tinha medo que ela achasse que fosse mentira o meu problemas. E foi exatamente o contrário, pois ela me ajudou a buscar o jornal”.

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– Se a Copa não fosse no Brasil, você acredita que a saúde pública estaria funcionando melhor?

– Qual a sua experiência com o serviço público de saúde?

– Faltam recursos para a saúde pública ou o problema está no gerenciamento