Curitiba

Feridas profundas

Escrito por Giselle Ulbrich

A professora aposentada Valci Maria Matos, que é secretária de aposentados da APP Sindicato, levou uma bala de borracha na perna durante os confrontos de 29 de abril de 2015. A médica dela disse que, por muito pouco, ela não morreu, pois faltaram milímetros para não atingir uma artéria vital. Valci levou pontos malfeitos no Hospital do Trabalhador, que estava lotado de gente em situação como a dela esperando por atendimento. Os pontos complicaram e a ferida malfechada a incomodou nos meses seguintes, doeu bastante e ela precisou de cirurgia, quando descobriu que a bala passou muito perto de uma artéria.

Valci:"Não gostaria de ver de novo a cavalaria, nem ouvir barulho de helicóptero de novo".
Valci:”Não gostaria de ver de novo a cavalaria, nem ouvir barulho de helicóptero de novo”.

Ela conta que viu um cadeirante na linha de frente, onde começava o confronto. Pensou em ir ajudá-lo, quando foi atingida por uma bomba de gás. “Fui até a prefeitura, lá me atenderam, me deram água e me senti melhor. Então pensei em voltar lá para ver se esse cadeirante ainda precisava de ajuda para sair dali”, contou Valci, que foi atingida pela bala de borracha quando voltava para a rua. Carregada por dois conhecidos, foi levada no carro particular de um deles ao hospital.

“Além da marca na perna, é uma ferida psicológica que não se apaga. Jamais iria me imaginar num cenário de guerra, num país como o nosso. Nesta sexta (29 de abril) não gostaria de ver de novo a cavalaria, nem ouvir barulho de helicóptero de novo. Sei que os PMs vão estar lá, para garantir nossa manifestação. Mas eu não quero ver mais militares na minha frente. Porém, se for preciso voltar a enfrentar tudo de novo, pelos meus direitos, meu corpo vai estar lá”, disse Valci.

Marcas de cão

O cinegrafista da TV Bandeirantes Jesus Luiz Carlos foi mordido por um cão da Polícia Militar, enquanto se abrigava das balas e bombas na rampa da Assembleia Legislativa e fazia imagens ao vivo para a TV.

Ele teve quatro perfurações na perna e perdeu alguns pedaços de carne quando o cão tirou a boca da perna dele. “São marcas que nunca vão sair. É constrangedor tomar banho e olhar aquela enorme cicatriz na coxa, colocar um short para ir à praia. Não é uma tatuagem que escolhi pra mim”, disse o cinegrafista, que foi chamado a palestras em todo o País para contar o que passou.

Ele também lamentou que, no Inquérito Policial Militar que foi arquivado, o juiz alegou que a conduta do cinegrafista estava incorreta por ele estar em local indevido e, por isto, foi mordido pelo cão. “Nós fomos autorizados a entrar ali pra se proteger e poder trabalhar com segurança”, lamentou o profissional.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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