“Eu já estava deitada pronta pra dormir, pensando como que eu ia fazer pra passar o resto do mês com só R$ 50 na conta. Nunca imaginei que ia dormir pobre e acordar rica”, comemora a aposentada Maria Salete Alves Nowacki, 65 anos, que ganhou R$ 200 mil no sorteio do Nota Paraná, no início do mês de agosto. Depois de momentos muito sofridos em família, quando descobriram o câncer de uma de suas netas, e da filha ter o carro roubado com todo o seu material de trabalho e documentos pessoais e das filhas, o dinheiro veio em boa hora. Vai garantir para Maria Salete a tão sonhada casa própria, o tratamento da neta e um futuro com menos sufoco.
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Por muito pouco, Maria Salete não ficou sabendo do prêmio. “Foi bem no horário que eu começo a fazer o almoço. O telefone aqui em casa tocou, vi que era prefixo 044. Eu não tenho ninguém fora daqui que possa me ligar. Já achei que era trote, ou uma daquelas mensagens de telemarketing, nem atendi. E tocou mais algumas vezes esse prefixo 044, ignorei. Até que a última ligação era a minha filha”, diz a aposentada. Como a equipe do Nota Paraná não conseguiu contato com a aposentada, ligou para a filha dela, a dona de casa Tatiane Alves, 41 anos, e deu a notícia.
“Era a Marta Gambini. Quando ela me falou do prêmio, eu falei pra ela rapidamente que aquilo era uma bênção e contei rapidamente tudo o que tínhamos passado. Então pedi um minutinho pra ela, soltei o telefone no chão, me ajoelhei e comecei a rezar chorando. Quando eu peguei o telefone de volta, ela tinha desligado. Pensei que era trote, ou que tivesse sido engano. Mas ela ligou de novo. Falou que teve que desligar porque também estava emocionada e chorando”, contou Tatiane.
Créditos
Maria Salete conta que, desde o início do programa, pedia para colocar o CPF na nota. Mas não sabia que tinha que se cadastrar no site do programa, muito menos se habilitar para o sorteio, para receber algo. Passou meses pedindo o CPF, até que no caixa do supermercado em Pinhais, onde mora, a funcionária perguntou se a aposentada queria o CPF na nota. Maria Salete respondeu que sim e a caixa perguntou se ela já havia se cadastrado no programa. “Foi a primeira vez que eu soube que tinha que cadastrar. Cheguei em casa e pedi pra minha filha fazer”, disse a aposentada. Nos telefones de contato, Tatiane deixou os números de sua mãe e o seu também. Foi a sorte da família, pois foi através do contato de Tatiane que o Nota Paraná conseguiu contato com elas.
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Porém, mesmo cadastradas, mãe e filha não sabiam que estavam concorrendo a prêmios. Achavam que era só para receber os créditos mensalmente, que variavam de R$ 20 a R$ 40. “Todo mês eu olhava no aplicativo e vinha escrito ‘Não foi dessa vez’. Eu não sabia o que era direito, mas fui deixando para perguntar depois”, diz ela, que sempre lança todas as compras que faz, pequenas ou grandes, no CPF da mãe.
Aplicação
Um dia depois de ter o dinheiro depositado em sua conta, Maria Salete foi ao banco, pela manhã, e sentindo-se “importante”, dizendo à gerente: “Quero fazer uma aplicação!”. A gerente já conhecia toda a história da aposentada e também ficou emocionada ao saber do prêmio.
“Agora, quando eu precisar acudir a minha neta, tenho como”, diz a aposentada, que também pensa em comprar a casa própria. Muito religiosa, ela conta que, há muitos anos, um dia pediu ao seu santo de devoção que quando chegasse aos 70 anos, ela estaria morando em sua casa própria. Escreveu o desejo num papel, colocou no pé do santo e rezou com fé. “Ele atendeu”, comemora.
Fim do sufoco
A aposentada Maria Salete Nowacki, 65 anos, conta que a vida da família não foi fácil nos últimos meses. O câncer no cérebro de sua neta, Júlia, hoje com 20 anos, foi descoberto no início de 2016, quando ela estava iniciando o primeiro ano de Arquitetura na UniBrasil. Estudiosa, dedicada e determinada, a jovem havia passado também em Engenharia Civil na PUC e na Positivo. No dia que Júlia fez a cirurgia de emergência para retirada do sarcoma, Maria Salete também estava internando para uma cirurgia e só ficou sabendo depois da doença da neta.
Tatiane conta que a filha vinha apresentando algumas alterações hormonais desde os 11 anos. Por isto, fazia uma bateria de exames anualmente. “Os exames laboratoriais vinham todos perfeitos. Mas ela estava sempre com dor de cabeça, na nuca, ânsia de vômito, sono, não comia direito”, analisa Tatiane. Até que numa das primeiras semanas de aula na faculdade, Júlia passou muito mal. Tatiane correu com ela a várias clínicas e hospitais, até que uma neurologista, que olhou com mais calma o caso da jovem, descobriu o câncer num exame de ressonância na cabeça, que nenhum médico havia solicitado até então.
“O sarcoma estava esse tempo todo pressionando a glândula hipófise. Por isso os hormônios desregulados”, explica a mãe da jovem.
No dia que o sarcoma foi descoberto, havia seis dias que Julia havia iniciado um edema cerebral. Gelada e por vezes inconsciente, estava entrando em coma. “O médico nos mandou aqui do Hospital Nossa Senhora das Mercês pro Cajuru com a máxima urgência. Nunca dirigi tão rápido na minha vida”, disse Tatiane. Assim que Júlia chegou, foi direto para a sala de cirurgia.
Apesar de saber da correria com a neta, Maria Salete foi poupada da verdade por algumas horas, porque estava internando para uma cirurgia no ombro. Mas logo que a anestesia da cirurgia estava passando, ainda meio grogue, Maria percebeu que algo estava errado e soube do câncer. Ela só viu a neta 15 dias depois, na UTI. “Quando são os nossos filhos, você sabe que às vezes precisa deixa-los para trabalhar e dar tudo pra eles. Mas quando são os netos, é muito doído ver eles assim. Chorei demais em casa nesse dia”, lamenta a aposentada, que aos prantos pediu a Nossa Senhora Aparecida que a jovem ficasse curada.
Fome
Por 69 dias, Maria Salete foi diariamente ver a neta no hospital. Havia dias que ela não tinha dinheiro para comer. Mas aguentava firme, para que a filha pudesse ir pra casa cuidar da irmã de Júlia e também descansar um pouco, para voltar a noite ao hospital. “Tinha dias que eu tinha só a passagem de ida e volta. Se sobrava algo do lanche da Júlia, ela me dava. Ou eu ia lá no corredor, onde tinha aquelas máquinas de café. Tinha um cappuccino grátis, que eu tomava de vez em quando. Não podia ficar sem comer porque sou diabética”, diz Maria.
Nesta fase difícil, nem sempre o orçamento da família cobria o que precisavam. Então vários amigos de Tatiane passaram a ajudar. Fizeram rifas e vaquinhas. Um casal de amigos deu R$ 1.800, que Tatiane usou para comprar coisas que a filha precisou na UTI, exames não custeados pelo plano de saúde e também deu um tanto para a mãe, para que nunca mais ficasse com fome no hospital.
E como Júlia irá fazer mais uma cirurgia, os médicos não conseguiram tirar todo o sarcoma no primeiro procedimento, a família sabe que terá mais custos pela frente. “Os R$ 200 mil são da minha mãe. Não meus. Por isto continuamos com as rifas, bazares, bingos. Graças a Deus muita gente tem nos ajudado, doando coisas diversas para os eventos”, explica Tatiane.
Roubo
Não bastasse todo o sofrimento, Tatiane ainda sofreu um assalto, na porta da casa de sua mãe, em Pinhais. Quando estacionou no portão, dois rapazes, um deles armado, levaram o carro dela. Todo o dinheiro e cartões de Tatiane, seus documentos, documentos das filhas (incluindo as carteirinhas de saúde de Júlia), celulares e o seu material de trabalho foram levados. Ela trabalha como vendedora autônoma e tinha no carro blusas de lã, calças legging, cosméticos e uma máquina de cartões. Também tinha uma boa quantia em dinheiro, pois estava recebendo dos clientes justo naquela semana. Duas semanas depois, o veículo foi encontrado “limpo”, sem nada dentro.
“Mesmo assim, com todos os problemas, me sinto uma mulher feliz. Tenho braços, tenho pernas, posso trabalhar, tenho duas filhas lindas. Tenho onde morar, como dar de comer às minhas filhas”, ressalta Tatiane.
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