Tá na lei! Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, de 1997, para atravessar a rua as pessoas devem passar preferencialmente por uma faixa de pedestres, sempre que ela existir. Já os veículos precisam dar preferência às pessoas, respeitando a sinalização. Mas basta um descuido ou desrespeito às regras por parte dos motoristas ou dos próprios pedestres para que um acidente aconteça.
Em Curitiba, de acordo o Batalhão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (BPTran), somente entre os meses de janeiro e setembro de 2017, 379 pessoas foram atropeladas pelas ruas da capital, das quais sete acabaram morrendo. Os dados também mostram um aumento no número de atropelamentos, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando 355 pessoas foram atropeladas e, no entanto, oito perderam a vida.
Mas agora uma proposta pode ajudar a tornar as faixas de pedestres mais visíveis, para chamar a atenção dos motoristas e diminuir os acidentes. A ideia é pintar as faixas com uma técnica 3D, que provoca uma ilusão de ótica, dando a sensação de que o desenho está ‘flutuando‘ sobre a rua.
Comum em países como Islândia, Índia e China, uma faixa 3D já foi pintada em uma rua de Primavera da Leste, cidade do Mato Grosso, a primeira do país a adotar esse tipo de sinalização de trânsito. Na Grande São Paulo, a Prefeitura de Santo André também implantou faixas 3D recentemente.
Já em Curitiba, o pedido de análise de viabilidade desta faixa de pedestre ‘diferentona‘ foi feito à prefeitura pelo vereador Bruno Pessuti (PSD).
“Sugerimos que seja realizado um teste para verificar se a faixa 3D tem a eficácia pretendida. Se ela poderia ser utilizada a um custo menor do que uma travessia elevada, por exemplo. Após o teste, se der certo, a faixa 3D poderia ser replicada perto de escolas ou em locais onde circulam pessoas com mobilidade reduzida, oferecendo mais respeito e segurança ao pedestre”, defende o vereador.
Nada decidido
A Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) informou que analisa a viabilidade da instalação de uma faixa experimental, como sugerido pelo vereador Pessuti. Segundo a pasta, uma posição favorável ou contrária ao novo modelo de faixa só será divulgada após os estudos relacionados ao assunto.
Povo apoia!
Para a auxiliar administrativa Silvana Bárbara da Silva, 29 anos, que costuma sair com sua cunhada e os sobrinhos pequenos, a faixa mais chamativa pode fazer com que os motoristas não desrespeitem a sinalização. “Seria ótimo, para eles respeitarem mais. Às vezes tem que ficar ‘na frente‘ e forçar a passagem, para os carros pararem”, diz.
Sua cunhada, a balconista Denise Trindade, 28, que é mãe de Paulo Henrique, 3, e Paulo Celso, 2, complementa. “Com criança é ainda mais difícil atravessar”. “Seria uma boa, se o motorista puder ver de longe, ele para antes. Pode ajudar”, opina a pedestre e professora Letícia Seletti, 37.
Quem também defende a iniciativa é o aposentado Celso Sloboda, 80, que dirige diariamente pela cidade. “Acho que pode ser uma boa. Tem motorista que acha ruim, mas a gente tem que respeitar quem está na faixa, é a lei”, aponta.
No trânsito há mais de 12 anos, o motoboy Adalberto Sabala, 49, é outro cidadão que apoia a ideia. “Essa faixa 3D pode ajudar a alertar o motorista, às vezes a pessoa está deligada. Tudo o que é feito para evitar acidentes é válido. Mas o curitibano já é um motorista educado”.
Efeito oposto
Especialista em trânsito e mobilidade urbana, o professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo (UP), Glavio Leal Paura, vê com preocupação este novo jeito de pintar as faixas de pedestres. Para ele, o efeito produzido por elas pode ser exatamente o contrário do pretendido. “Vejo isso de forma perigosa. A faixa 3D pode provocar mais acidentes, mais malefícios do que benefícios, já que o motorista pode se assustar com a imagem e ‘meter’ o pé no freio, além desta sinalização não ser regulamentada”, afirma.
Para ele, a saída para diminuir o número de atropelamentos e outros acidentes deve passar pela conscientização. “O Brasil carece de campanhas de educação para o trânsito. Fala-se muito sobre multas para motoristas e agora, para pedestres, mas isso é uma inversão de valores”, conclui.