Se desde os tempos do filósofo grego Heráclito já é de conhecimento que não se pode cruzar o mesmo rio duas vezes, “porque outras são as águas que correm nele”, o que dizer sobre os rios da Bacia do Xingu, onde foi instalada a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? Sem entrar no mérito dos impactos ambientais, antes que as comportas de Belo Monte sejam abertas, uma expedição formada por seis pessoas vai partir de Curitiba para registrar a vida dos índios, dos animais e da vegetação no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, em um trajeto que inclui 420 quilômetros do rio que empresta o nome para a bacia e o parque.
Todo esse percurso será atravessado de caiaque por uma parte da equipe. A outra seguirá no barco de apoio, já que a aventura será filmada e fotografada. O projeto “Xingu, um rio, um povo e uma floresta” foi idealizado pelo especialista em desenvolvimento de novos mercados Marcelo Figueiral. Para participar da expedição a partir de sábado (18 de julho), abriu mão de um contrato de trabalho. “Conseguimos viabilizar esse projeto em seis meses. Mesmo assim, temos pouco tempo para registrar esse cenário, por isso não havia como adiar”, explica.
Vários desafios foram superados, desde negociações com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Associação das Tribos Indígenas do Xingu (ATIX), até a captação de recursos. Em abril, eles tiveram o projeto aprovado pela Lei Rouanet. “Esse respaldo mais o patrocínio da Herbarium garantiram o mínimo necessário para conseguirmos viabilizar a expedição e os equipamentos necessários, embora falte mais da metade do valor orçado para todo o projeto”, revela. Dessa viagem será produzido um livro fotográfico, um documentário, uma exposição e um banco de dados digital que será disponibilizado em plataformas educacionais.
A ATIX, que completará 20 anos de atuação neste ano, será beneficiada pelo projeto com parte do material produzido e a organização das informações da entidade. “Na negociação estabelecemos uma parceria com a ATIX, que realiza um trabalho fundamental, já que administra os interesses das 12 etnias indígenas que ficam no território compreendido pelo parque e mais as demais ao redor”, explica.
Quem quiser colaborar financeiramente com o projeto pode entrar em contato pelo email: marcelo@xingu2015.com.br
Roteiro
Durante a viagem Marcelo terá a função de coordenar a equipe e de remador. “Eu e o Gustavo Zarur iremos revezar no caiaque. A ideia é cumprir oito horas de remada por dia”, explica. Além dos remadores, a equipe é formada pela assistente de imagem, Carol Lopes, o captador de áudio Willian Germano, o fotógrafo Vinicius Ferreira, o ” Tchê”, e o produtor cinematográfico Danilo Custódio. Eles sairão em uma van no dia 18 de julho.
O objetivo é chegar na noite do dia 19 de julho em Canarana (MT), que fica a 1,8 mil km de Curitiba, onde entrarão por terra no parque. Dois índios da região foram selecionados pela ATIX para guiar a expedição, uma vez que metade do percurso (cerca de 260 km) não conta com qualquer sinal de conexão. A previsão é de que a equipe entre no rio dia 22 e suba os 420 km até 8 de agosto, quando deverão sair do parque pelo município de São José do Xingu.
“Seis pernoites em aldeias e seis acampamentos selvagens estão na nossa programação com etnias indígenas diferentes, já que a ideia é mesclar três dias de remadas com um por terra para captar os dois ambientes”, acrescenta Marcelo. Com a bagagem reduzida, a equipe ainda terá que pescar para se alimentar e se proteger de riscos naturais como os jacarés.