Uma ex-aluna do Colégio Estadual Dom Pedro II, cujo edifício é tombado pelo patrimônio histórico estadual desde 2011, restaurou um vitral de 92 anos na escola. O trabalho não foi simples, pois o vitral tem uma relação muito especial para ela e acabou dando o rumo para a sua profissão, já que Loire Nissen é artista plástica especialista justamente na restauração de vitrais, instalados desde a construção do prédio em 1928.
A ideia para a restauração do vitral partiu quando Loire, ao passar em frente ao colégio, avistou o vitral quebrado e com peças faltando. “Resolvi visitar a escola para ver como estava e reparei a parte de baixo quebrada. Para nossa tristeza eles acabaram não guardando os pedaços que tinham se quebrado. Jogaram tudo fora”, lamenta. E assim começaram os desafios para a realização do sonho de restaurar o vitral. Como reconstruir algo que não está nos livros, registros e muito menos em fotos?
Loire reuniu uma equipe e começou a buscar informações sobre o vitral. Como não existiam registros, foi preciso resgatar a memória viva de quem frequentou a escola para arrumar as peças quebradas. “Foram feitas mais de 80 pesquisas, mas nada foi encontrado sobre a história deste vitral. Partimos, junto com a pesquisadora Cristina Soto Bakker, para a memória viva de três ex-alunos e um professor”, conta.
Aí que entra o relato de Sônia Marchiorato, que estudou a escola no final da década de 50 e que recordava de partes do vitral. “Lembramos como era a disposição, especialmente das rosas e das flores da parte de baixo. O vitral é marca desta edificação. Lembro que era uma coisa bonita. Aquilo me fazia bem”, recorda a ex-aluna do Dom Pedro II que seguiu a carreira de professora.
Após descobrir como era a parte danificada do vitral, Loire encarou outro novo desafio: reproduzir as cores exatas daquelas partes originais. “O tom de vermelho foi o que nos gerou mais dificuldade, pois é necessário um ácido para chegar ao tom perfeito”, explica o nível de detalhamento.
Inauguração emocionante
O trabalho durou meses e emocionou a comunidade escolar do Dom Pedro II na inauguração, principalmente a mãe de Loire, Hanne Lore Nissen, de 90 anos, também ex-aluna do Dom Pedro II. “Quando ela se deparou com o vitral pronto foi uma grande emoção. A mãe viu como ele estava estragado e ficou contente, com muito orgulho, deste trabalho feito para a escola. É o bem tombado mais importante do bairro, é um ícone”, enfatiza Loire.
Para a vitralista, o restauro é fazer parte da história da escola. “É um pensamento de gratidão por tudo o que a escola me deu. Poder devolver o que a gente aprendeu é uma gratidão, foi um sonho fazer este trabalho”, destaca Loire. A artista ressaltou que o trabalho só foi possível graças ao apoio de Rosângela Berneck, também artista plástica e moradora da região.
Sementinha plantada
O restauro do vitral impactou também os atuais alunos da escola, que saíram com pelo menos três novas palavras e experiências no currículo. “Acredito que três palavras foram adicionadas na percepção destas crianças: patrimônio tombado, vitral e restauração”, acredita a artista plástica.
Para Loire, os alunos agora verão com outros olhos o que é um material tombado. “Eles estão vendo a escola com mais carinho. Ganhamos uma caixinha com várias cartinhas feitas pelos alunos da escola, achei isso muito bonito”, emociona-se.
Para Ruthi Mara Trentin Moraes, diretora da escola Dom Pedro II, os alunos tiveram uma verdadeira aula de artes ao vivo com o restauro do vitral. “Foi muito melhor do que a gente imaginava. Quando começaram a tirar o vitral para a restauração, os alunos sentiram falta. No final, eles tiveram uma aula de artes ao vivo, maravilhosa”, orgulha-se.