Quarta-feira, dez da manhã. No Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro Alto da Glória, em Curitiba, é dia de novena e, às portas da igreja, a enorme fila não deixa dúvidas: maior que o número de pedidos à santa, somente a fé dos fiéis. Entre os devotos, dona Edilene dos Santos, de 70 anos, num cantinho da igreja, une as mãos em oração. Cheia de esperança, ela pede por seu filho, que está desempregado.
“Nossa Senhora jamais nos desamparou. Sei que dessa vez não será diferente”, afirma. Súplicas feitas, ela se dirige ao ponto de ônibus. Até sua casa, no bairro Pilarzinho, o trajeto que – pelas linhas regulares – levaria de 30 a 40 minutos para ser percorrido, é feito na metade do tempo, graças à “linha novena”, viabilizada especialmente para facilitar a vida dos frequentadores do Santuário onde, toda a quarta-feira, centenas de pessoas ser reúnem em nome da fé.
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É muita gente mesmo. Segundo a própria administração do templo católico, a cada ano, cerca de 2 milhões de pessoas vão ao Alto da Glória, atraídas pela Novena do Santuário. Considerada praticamente patrimônio cultural de Curitiba, a tradicional celebração acontece desde a década de 60 e recebe, a cada quarta-feira, uma média de 35 mil pessoas. A fama é tanta que os missionários redentoristas, responsáveis pelo templo, expandiram a transmissão das missas para o rádio e também para a televisão. “Mesmo assim prefiro vir pessoalmente”, afirma Edilene, que há 30 anos frequenta o local em busca de intercessão divina. “Foram muitas graças alcançadas nesse tempo e acho que não só comigo. Se fosse esse templo não estaria tão cheio”, brinca.
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Foi pensando nesse público que a Prefeitura de Curitiba criou uma linha de ônibus específica, cujo trajeto inclui pontos de grandes circulação do centro da cidade e que tem por destino final o Santuário. Antonio Lima da Silva, 57, é um dos motoristas responsáveis pelo coletivo. À frente da “Linha Novena” há 3 anos, o simpático condutor já é conhecido pelo nome entre os passageiros do coletivo, na maioria senhoras idosas. “Sou tratado com muito respeito e carinho. Às vezes até trazem bolo, docinhos. Me apelidaram de ‘pavão’ porque dizem que sou muito bonito”, brinca o motorista. Atencioso, Antonio cumprimenta as passageiras, uma a uma e, para as que têm dificuldade em embarcar, oferece o braço para ajudar. “Costumo dizer que levo uma carga preciosa, frágil”, afirma o motorista que garante ter cuidado redobrado ao conduzir a linha. “Como a grande maioria dos passageiros é idosa, todo cuidado é pouco. Por isso, vamos com bastante calma e paciência”, diz.
Ônibus circula somente um dia
Com itinerário específico, o ônibus cobre diversos pontos entre o Centro da cidade e o Alto da Glória, incluindo as praças Osório, Santos Andrade e Rui Barbosa, de onde parte a cada 30 minutos. Foi ali que conhecemos Maria Julia Barbosa, 79, que conversou com a reportagem enquanto esperava pelo coletivo. Moradora do bairro Capão Raso, ela encontrou na linha novena um grande facilitador em suas viagens ao templo católico. “É muito prático. A gente chega lá rapidinho e ainda com tempo pra fazer o almoço na volta da novena”, afirma a idosa que já recorreu diversas vezes à intercessão de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. “Foi graças a ela que minha filha se salvou da morte depois de complicações numa cirurgia. Depois desse evento eu nunca mais deixei de fazer as novenas. Ela nos ouve e responde”, disse emocionada.
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Nair Ly, 69, também é passageira assídua do coletivo. Morando em Curitiba há apenas 1 ano, a manauara elogia a iniciativa. “Quando cheguei de Manaus precisei procurar um lugar para fazer minhas novenas a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Quando descobri que tinha uma linha de ônibus específica para os devotos dela pulei de alegria”, afirmou entre risadas.
Lendas do busão
Emblemática, a Linha Novena pode literalmente ter uma conexão com o sobrenatural. Segundo a escritora especialista em lendas urbanas de Curitiba, Luciana do Rocio Mallon, dois eventos milagrosos cercam as história do coletivo. No primeiro, registrada no ano de 1998, uma jovem desempregada foi abordada pelo fantasma de um pároco que embarcou no ônibus enquanto se dirigia à novena no bairro Alto da Glória. Imediatamente após o encontro a jovem foi contratada por uma grande empresa.
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A segunda história dá conta de uma cética senhora que, sem esperanças, decidiu interceder em favor de sua filha doente na novena e, após o clamor das passageiras do ônibus que, com ela, se dirigiam ao Santuário, a menina milagrosamente se curou.
Brincadeiras (e lendas) à parte, a Urbs ressalta que a linha (que funciona somente às quartas) recebe qualquer passageiro e opera com o mesmo valor dos ônibus de linha normais da cidade: R$ 4,50. Confira o horário da Linha Novena.
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