Sabe quando você está perto de uma pessoa do bem e tem certeza que dali só vão sair boas histórias. A missão de entrevistar o Diego Saldanha, de 33 anos, em Colombo, foi daquelas reportagens que todo jornalista gosta de fazer.
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O personagem é um verdadeiro campeão na vida com exemplos de solidariedade e ajuda ao próximo. Aliás, Diego é um dos 5 finalistas do Prêmio Bom Exemplo Paraná 2019, da RPC. Iniciativas como a dele, de limpar o Rio Atuba, se destacam pelo desenvolvimento de ações solidárias voltadas à promoção da cidadania. “Estar entre os cinco finalistas do prêmio Bom Exemplo é uma gratidão e um honra muito grande. Um reconhecimento pelo trabalho que realizo e pela luta de ver o Rio Atuba melhor. Eu não conheço ainda os outros finalistas, mas tenho certeza que são pessoas especiais”, disse Diego Saldanha.
Bem, lá fomos nós para o bairro Jardim das Flores. O nome é convidativo e penso logo em um lugar florido e com toda a estrutura para morar. Realmente, o espaço é tranquilo, ar puro, barulho de rio, cachorros brincando e um clima pacífico no ar. Até que uma voz surge e um braço no ar aparece para dar boas-vindas. Chegamos na terra do Diego, o cara que madruga para comprar frutas na Ceasa, vende os produtos em semáforos durante o dia e ainda entra no rio para recolher o lixo que alguém jogou.
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A relação de Diego e da família com o rio é antiga, semelhante a de todos os paranaenses. O Atuba avança por Curitiba, Colombo e Pinhais. Historicamente, nas suas margens se deu o início da colonização da cidade de Curitiba e na união com o rio Iraí, é formado o Rio Iguaçu, o maior do Estado e que desemboca lá nas Cataratas em Foz. Com o Atuba passando na lateral de casa, Diego aproveitava a época em que se nadava no rio e se alimentava dos peixes. “Na década de 1990, brincava com meus amigos dentro do Atuba. Com o tempo, fui percebendo que o rio foi ficando sujo e decidi sair do comodismo para tentar trazer uma vida melhor ao rio”, relatou Saldanha.
Ecobarreira com galões
Chateado e revoltado com o que via passar no rio da sua infância, Diego procura entender mais sobre ecologia e, especialmente, fazer a sua parte para melhorar o dia o dia. Afetado com a sujeira que era cada vez maior, uma Ecobarreira foi confeccionada aos poucos. O bolso não ajudou e a grana era pouca para o tamanho da proeza. A princípio, em janeiro de 2017, ele pegou garrafas pet de dois litros e uma rede e estendeu de uma margem à outra com uma extensão de 12 metros. O simples protótipo teve ótimo resultado, mas a ideia de aprimorar o projeto avançou e Diego comprou 25 galões de 50 litros, uma rede bem mais forte e o resultado aumentou. “Neste caso, a quantidade de material recolhido não é nada legal. Eu fico triste demais por recolher os objetos, mas logo chega a felicidade de limpar o rio”, desabafa Diego.
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Em quase três anos de projeto, 3 toneladas de lixo foram retiradas por Diego. A quantidade exagerada de produtos recolhidos no rio assusta qualquer um. Depois de tirar, tudo é secado ao ar livre até para não deixar resquício de água parada que pode ocasionar doenças como a dengue. O material reciclado é vendido e a renda (R$ 400) é utilizada para outros projetos ou até mesmo o deslocamento de Diego para escolas de Colombo, onde ministra palestras para crianças. “Elas perguntam de tudo e demonstram muita atenção no tema. Acredito que esta geração vai mudar um pouco desta realidade. Infelizmente, temos a falta do poder público. É preciso mais incentivo e orientar as crianças sobre a importância da limpeza dos rios urbanos do Brasil. Eles estão sofrendo”, ressaltou o vendedor/ ativista.
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Museu do lixo
Além de ir aos colégios, Diego abre a sua própria casa para estudantes interessados no projeto. Ao chegar no reduto ambiental é impossível não visualizar o Museu do Lixo. A ideia é chocar mesmo a sociedade com o que estava dentro do rio. Ali você encontra garrafas de vidro, garrafas pet, carcaça de máquina de lavar, televisores de tubo, capacetes de motociclistas, para-choque de carro, fogão, escada, bonecas e bolas esportivas. “Ele tem um prazer em fazer isto. A consciência que temos hoje é diferente de outros tempos. O Diego é especial e o reconhecimento de todos deixa a gente muito feliz”, confidenciou Marizete Saldanha, mãe do Diego.
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Além da Ecobarreira, na casa dos Saldanha, mais duas situações ecologicamente corretas chamam a atenção, ou seja, é um verdadeiro ponto de educação ambiental. Na entrada, um pequeno poste solar ilumina o jardim florido da Dona Marizete. O sistema é simples e utiliza uma placa solar, uma bateria de moto, canos de obra e uma garrafa pet que protege o LED. “Uma energia limpa e sustentável. Funciona como uma maravilha e pode ser utilizado futuramente em lugares sem iluminação pública. Está em teste ainda, mas é o Ecoposte”, avisou Diego.
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Ainda no terreno, tem a Ecofossa. O objetivo é tratar o esgoto de maneira sustentável para lugares sem tratamento ou coleta, o que é muito comum no bairro em que reside a família Saldanha. Ali e em outros locais, as pessoas jogam o lixo de maneira errada ou cavam uma fossa negra que certamente irá contaminar o lençol freático. “Eu construí um quadrado de alvenaria todo selado com um túnel de pneus. Uso bananeira e taioba que fazem um trabalho de limpeza. É sem dúvida, mais um trabalho de ajuda ao rio Atuba”, concluiu o ativista.
Por fim, a reflexão do que estamos fazendo com a natureza é inevitável. Como diria o bilionário americano e filantropo Ross Perot, falecido em julho deste ano: “Ativista não é o homem que diz que o rio está sujo. Ativista é o homem que limpa o rio”.
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