É fogo!

Foto: Felipe Rosa

A falta de ambulâncias e caminhões de incêndios nos quartéis do Corpo de Bombeiros de Curitiba está precarizando o atendimento às ocorrências, de acordo com soldados e oficiais que atuam na capital. Segundo eles, a má condição dos veículos e a falta de planejamento para manutenções e consertos fazem com que os postos fiquem desfalcados, sendo necessário deslocar viaturas de unidades mais distantes para socorrer os chamados da população.

“Deixam faltar viatura por falta de manutenção. Ficamos preocupados, porque isso aumenta o tempo-resposta do atendimento e sacrifica as equipes, que têm que fazer deslocamentos maiores e acabam excedendo a jornada. Não dá pra cobrar qualidade no atendimento se tem excesso de jornada”, afirma um bombeiro que procurou a Tribuna e preferiu não se identificar. De acordo com ele, o quadro é especialmente grave no 7º Grupamento de Bombeiros (GB), que abrange a região norte da cidade (Santa Felicidade, Pilarzinho, Bairro Alto, Alto da XV), além de municípios da região metropolitana, como Colombo e Campo Largo.

Segundo relatos de seus colegas, no fim de junho havia somente uma viatura para atender todo o 7º GB. O ideal, segundo o bombeiro, é que houvesse duas viaturas para cada unidade, uma do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) e um Auto Bomba Tanque (ABT – caminhão de combate a incêndio). Portanto, o 7º GB deveria ter 12 viaturas a postos para atender as ocorrências adequadamente.

Em algumas unidades do 7º GB, estacionamento está vazio. Foto: Felipe Rosa
Em algumas unidades do 7º GB, estacionamento está vazio. Foto: Felipe Rosa

Diante da situação crítica, conta o bombeiro, “taparam o buraco” com três ambulâncias emprestadas, uma delas, de Maringá, que veio a Curitiba para acompanhar a tocha olímpica. Além de a condição das viaturas ser ruim – outro bombeiro relatou que a porta de um ABT do Pilarzinho caiu, neste mês –, o planejamento das manutenções deixa a desejar. Dois acidentes por problemas no freio ocorreram com viaturas do 7º GB somente neste ano. Um deles aconteceu atrás do quartel de Santa felicidade. O segundo, em abril, foi registrado pela Tribuna. Após falha no freio, o caminhão saiu desembestado pela Rua Humberto de Campos, que é íngreme, e caiu no Bosque do Pilarzinho, ferindo dois bombeiros.

Na tarde da última segunda-feira (18), a reportagem percorreu três unidades do 7º GB: a sede, no Alto da XV, e os quartéis do Pilarzinho e Santa Felicidade. Somente neste havia viaturas estacionadas.

Ambulâncias na oficina

Foto: Felipe Rosa
Na oficina que conserta ambulâncias do Siate, havia cinco viaturas. Foto: Felipe Rosa

A Tribuna esteve também na oficina que realiza os consertos das ambulâncias do Siate em Curitiba. Um funcionário informou que, naquele momento, havia cinco viaturas no estabelecimento, mas já houve ocasiões em que 13 ambulâncias foram enviadas para manutenção ou conserto, ao mesmo tempo. “Às vezes demora pra fazermos o reparo porque temos que aguardar a prefeitura liberar a verba. Enquanto não libera, não podemos mexer. Já teve vezes em que o veículo ficou uma semana aqui parado”, afirmou.

A prefeitura tem um termo de cooperação técnica em fase de renovação com o governo do Paraná para o serviço de manutenção das ambulâncias do Siate, serviço de atendimento pré-hospitalar a traumas gerido pelo Estado. “Dois contratos vigentes com uma oficina da capital preveem orçamento mensal de R$ 20 mil para consertos de ambulâncias modelo Master e R$ 37,5 mil para veículos modelo Sprinter”, informa a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Um protocolo é seguido para reparar as viaturas. “Antes de a prefeitura autorizar o reparo do veículo, é avaliado o orçamento apresentado e são verificadas as garantias de serviços anteriores ainda existentes”, explica a SMS, que afirma que a medida tem o intuito de otimizar o recurso público e reduzir o tempo com os veículos parados.

No momento, oito ambulâncias do Siate encontram-se na oficina, de acordo com a prefeitura. “Destas, quatro foram levadas à oficina nesta terça-feira (19) e aguardam orçamento da oficina, três estão em manutenção e uma ainda não teve o conserto autorizado por ultrapassar o teto orçamentário previsto para o mês.”

Perguntas sem respostas

A manutenção dos ABTs, os caminhões que atendem incêndios, não entra nessa parceira com a prefeitura. A Tribuna questionou o Corpo de Bombeiros do Paraná a respeito da quantidade de viaturas que compõem a frota de Curitiba e da condição das mesmas, bem como do processo para conserto. O órgão respondeu apenas que “realiza a manutenção preventiva e, eventualmente, a recuperativa de sua frota pelo sistema que atende a todos os entes da administração pública estadual. No ano de 2015 foram adquiridos, com o recurso do governo estadual, 60 novas ambulâncias. Para o corrente ano, já estão em processo de montagem mais 20 destes veículos.”

Aluguel salgado

Integrantes da corporação questionam aluguel de sede no Alto da XV. Foto: Felipe Rosa
Integrantes da corporação questionam aluguel de sede no Alto da XV. Foto: Felipe Rosa

Outra questão que provoca a indignação de membros do Corpo de Bombeiros é o aluguel de um imóvel na esquina das ruas Almirante Tamandaré e Professor Brandão, no Alto da XV, para abrigar a sede do 7º GB. “A Sesp [Secretaria de Estado da Segurança Pública] acabou de autorizar o aumento de aluguel de R$ 14,8 mil para R$ 16,4 mil e a prorrogação do contrato em 42 meses, sendo que existe um quartel pronto para ser usado, à disposição”, conta o bombeiro. Ele faz referência ao quartel do Cabral, que está fechado para reforma pelo menos desde o início de 2015.

Na visão dele e de seus colegas, o prédio, que passou por reforma em 2006, estava em perfeitas condições para atender as atividades operacionais do quartel, porém, nova revitalização foi iniciada sob a alegação de aprimorar a estrutura da parte administrativa.

A Tribuna publicou matéria sobre a situação do quartel do Cabral em fevereiro. À época, o Corpo de Bombeiros informou que a nova reforma estava em fase de licitação. Desta vez, questionada sobre a renovação do contrato do aluguel e sobre a unidade fechada, a corporação não deu esclarecimentos.

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