Desde que se aposentou, aos 47 anos, a professora Maria da Luz Araújo de Freitas, 83 anos, dedicou a sua vida a ajudar crianças e famílias pobres, além de moradores de rua. São 36 anos dedicados a quem não tem quase nada. E mesmo com a idade avançada, ela ainda trabalha diariamente na ONG que montou no bairro São Braz, há 18 anos, a Cantinho da Misericórdia, alimentando quem tem fome, alfabetizando, evangelizando e ajudando a encaminhar para emprego e a cura das drogas. E é mostrando a história da Maria da Luz que a Tribuna comemora o Dia do Voluntariado, neste 5 de dezembro.
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Maria da Luz é professora aposentada da rede estadual de ensino, onde via muita criança pobre nas suas turmas. Tentava ajudar distribuindo materiais escolares e uniformes, pois percebia que algumas famílias sequer podiam comprar um caderno. “Não adianta ter só fé e não ter obra. Como também não adianta ter obra sem fé. Temos que buscar as duas coisas. Não adianta só ficar vendo Jesus lá em cima. Tem que descer e ver a realidade do povo”, diz a professora aposentada, que vem de família muito religiosa.
Creche
Assim que se aposentou, a professora reativou o centro social da igreja do bairro. Ensinava as mães a cuidarem direito dos filhos, dar um banho, lavar corretamente as roupas, cuidar da casa. “Tinha umas que não sabiam nada disso. E junto com a Pastoral da Criança, íamos pesar as crianças no salão da igreja. O pano da balança chegava branco e terminava o dia preto, de tão sujas que as crianças vinham”, lamentou Maria.
Logo ela usou o galpão da igreja, de chão batido, para cuidar das crianças durante o dia. Começou com 15. Num piscar de olhos já eram 60. Então Maria conseguiu um lugar apropriado e fundou uma creche. Quando a instituição já estava bem desenvolvida e sendo cuidada por profissionais, ela decidiu cuidar de moradores de rua. “Criança todo mundo quer cuidar. São bonitinhas, fofinhas. Morador de rua ninguém quer saber. Mas são seres que também precisam de carinho, de cuidados, de palavras de afeto. Somos todos irmãos, filhos de Deus”, diz Maria.
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Assim, num terreno da prefeitura, cedido em comodato, ela conseguiu uma meia água de madeira para começar o trabalho. E ali, há 18 anos, fundou o Cantinho da Misericórdia. Com doações, ampliou a meia água e hoje tem salão de refeições, uma cozinha grande, escritório, depósito e banheiros. Do lado de fora, no terreno de 10 mil metros quadrados, há uma horta comunitária, quadra de futebol, um bosque e uma capela ao ar livre.
Alimento para o corpo e a alma
Todos os dias, na ONG, Maria serve café e almoço para moradores de rua ou simplesmente para quem tem fome. Tem também banheiro, chuveiros e tanque para lavarem as roupas. Ela conta com a ajuda de dois voluntários, uma cozinheira e uma auxiliar de limpeza, bem como dos próprios frequentadores para manter o espaço. Além da comida, Maria, com a ajuda da Pastoral do Povo de Rua, também alimenta com a palavra de Deus e dá cursos de alfabetização.
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Mãezona
“Aqui eu sou mãe, amiga e polícia”, diz Maria, que sabe que entre eles há bandidos também e precisa cuidar para que não façam nada errado lá dentro. Já ouviu muitas conversas e confissões de roubos e assaltos, bem como já botou pedófilo pra correr dali. Já foi até acusada de ser chefe de quadrilha, por receber esse tipo de gente ali. Precisou ir duas vezes à delegacia dar explicações. Os policiais entenderam que ela é uma voluntária e passaram até a ajudar a ONG com cestas básicas. “Eu não discrimino. Entendo que são pessoas que estão com fome e precisam de comida, banho e roupas limpas”, diz ela.
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