O ato de ensinar já vem desde antes de surgir a escrita, na época do homem pré-histórico, quando uma pessoa da tribo era designada a passar os ensinamentos importantes às gerações seguintes. Mas a profissão de professor, mesmo, acredita-se que tenha surgido lá no antigo Egito, quando foram criadas escolas para a formação de escribas. De lá para cá, ao mesmo tempo que o ofício teve muitas modificações, continua igual em sua essência: o de ensinar, passar conhecimento e valores.
Apesar da profissão ter lá seus desafios, ainda há muitos professores que cumprem seu papel cheios de brilho no olhar e falam com orgulho do seu ofício. Este é o caso do jovem Paulo Ricardo Terto de Souza, 27 anos, que leciona em uma turma de pré II no Centro Municipal de Educação Infantil Caiuá II, na CIC. A entrada dele na rede municipal, aprovado em concurso, foi muito recente: 15 de setembro. Mas foi tempo suficiente para que a sinergia entre ele e as crianças tenha ficado gigante.
“Eu sei das fragilidades que temos em sala de aula. Mas quando a gente faz o que ama, vale a pena. Não deixo de aplicar atividades importantes para o desenvolvimento das crianças por falta de material. A criança traz muitas referências da escola para a vida. Por isso faço com amor. Se falta infraestrutura, tento envolver os pais, pois o espaço aqui não é só das crianças. É deles também”, diz Paulo, com um sorriso de canto a canto do rosto.
O professor mostra que o maior desafio da profissão é com as famílias. “Muitos pais ainda têm a antiga ideia que escolas de educação infantil são espaços só para deixarem os filhos para serem cuidados, para trocar fraldas. E não é isso. É um espaço de desenvolvimento, de conhecer através do brincar”, diz ele, que tem dificuldade de desapegar das crianças, quando algum ciclo junto a elas termina. “Eu vivo o mundo deles. Amor (ao que faz) antes do conteúdo, amor é pra vida toda”, justifica Paulo, que prefere ser chamado de educador, ao invés de professor.
Paulo diz que a maior gratidão deste trabalho é receber o carinho das crianças. Um abraço, um sorriso, ou um “eu te amo”, como ele ouviu num dia que chegou triste na escola, por causa da perda de uma amiga. E foi com amor, inclusive, que ele conseguiu “resgatar” um aluno desobediente e briguento que teve nos seis anos lecionando antes de entrar na rede municipal. Hoje, são amigos e só existe carinho e alegria entre eles. “A gente educa, ama, se apaixona, se envolve e o dia acaba sendo imensamente bom”, analisa.
Ensinando e aprendendo
A professora Sônia Maria Alves Domingues, 56 anos, sorri com o olhar quando fala dos projetos que já desenvolveu junto aos seus alunos. Ao longo dos seus 26 anos de profissão, precisou passar por algumas atualizações, para continuar chamando a atenção dos alunos ao conteúdo. E um dos maiores desafios venceu com a ajuda dos estudantes, que lhe ensinaram a usar os aplicativos mais “avançados” do smartphone. “Eles já nascem plugados. E eu sou de um tempo que não tinha tecnologia. Então aprendo com eles”, conta.
Hoje, Sônia é quem comanda os projetos de ciência, tecnologia e práticas ambientais (incluindo a alimentação saudável) da Escola Municipal Paulo Freire, no Novo Mundo. Usa muito a tecnologia em sala de aula e aproveita para ensinar os alunos o uso consciente destas tecnologias. Mostra como computadores, smartphones e tablets são aliados da educação, mas devem ser usados com parcimônia. Já aproveitou para estudar o surgimento e a evolução do celular.
Nas aulas em que leva os alunos à horta da escola, já os fez estudar a evolução tecnológica na agricultura. Ano passado, em plena febre da caça aos Pokémons, fez um projeto com os bichinhos para conscientizar os alunos dos usos positivos e negativos do celular. “Estou sempre usando o celular na aula para pesquisar dúvidas que surgem na hora. Se não usar a tecnologia, vou afastá-los de mim”, diz a professora.
Personagens e artes
Sônia conta que já criou muitos personagens para suas aulas. A Hortalina é um livro de receitas naturais. O Visconde de Sabugosa foi criado para uma aula sobre o milho, na época das festas juninas. A Rosinha ensina sobre as plantas e o Cebolinha é o personagem que ensina os alunos sobre temperos e chás. E todos os personagens foram feitos com materiais recicláveis. Aliás, ela está sempre reciclando brinquedos para serem usados nas aulas. E uma de suas criações mais divertidas foi a Geloteca, uma geladeira velha, que não funcionava mais, que ela transformou numa biblioteca. Lá dentro ficam centenas de livros, que os estudantes pegam à vontade para ler em casa ou no tatame montado no pátio.
“Eu adoro a professora Sônia porque ela arranca dente”, diz a estudante Hadassa Neugolarte Martins, 6, que quando tem um dente mole, mal espera chegar o horário da aula pra pedir pra professora tirá-lo, sempre de forma divertida e que não “dói”. Já o aluno João Augusto Candeia, 8, adora as aulas na horta e sobre subsolo, diferente do Diogo Mateus Ribas Soares, 9, que aprendeu muito sobre cobras, na aula da semana retrasada.
Dificuldade não está em sala
Uma das grandes dificuldades que a professora Sônia elenca da profissão é a de criar um elo com as famílias, trazê-las para dentro da escola e fazê-las envolver-se mais com os estudantes. Mas nem tudo é dificuldade. “Na minha profissão, me vejo como uma semeadora. E já colhi frutos”, diz Sônia, contando que já foi homenageada por uma de sua alunas, que se espelhou na professora e formou-se no magistério.
Outro aluno também procurou Sônia para contar que o jornal que trabalharam na escola, no 1.º grau, o inspirou a seguir o curso de Jornalismo na faculdade. “Isso é gratificante. Ver meus alunos encaminhados. Ou ganhar um sorriso e um abraço quando chego na escola”, diz ela, que decidiu ser professora porque diz que teve uma professora muito má quando era criança.
“Eu ainda não sabia ler. E a professora me colocava de castigo, em pé em frente ao quadro, querendo que eu lesse o que estava escrito. Eu sofri. Foi ali que eu decidi que seria professora, porque eu queria fazer diferente, com amor”, conta Sônia.