Seis anos se passaram e nada acalma a dor e a inquietação que Lorena Cristina Conceição sente no peito todos os dias: o sumiço de seu filho, João Rafael dos Santos Kowalski. O menino tinha dois anos quando desapareceu naquele 24 de agosto de 2013, no município de Adrianópolis, cidade da Região metropolitana de Curitiba que quase faz divisa com São Paulo. Quando a polícia iniciou investigações, duas hipóteses foram averiguadas: a de sequestro, ou a de que João caiu no rio que passa atrás da casa da família.

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A polícia (delegacia local e o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas Sicride) acredita fortemente na versão de queda no rio, apesar de nunca ter conseguido validar a forte suspeita. Já Lorena acredita na versão de sequestro e o que ela mais quer é que seja feita uma acareação entre pessoas que foram investigadas na época pela possibilidade de sequestro.

“Eu queria que os três fossem colocados frente a frente e repetissem tudo o que falaram na época. Porque se você não deve, não teme. Se não fez nada errado, tem que se defender. E pessoas colocadas frente a frente você consegue ver se estão mentindo ou falando a verdade. Quando mentem, elas dão sinais. Desviam o olhar, roem a unha, demonstram nervosismo. Mas a delegada da época falou que não podia fazer uma acareação porque não havia contradições a serem sanadas. Como que não? Essas pessoas falaram diversas coisas divergentes uma da outra.

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Mas depois de seis anos, acho difícil alguém (polícia) fazer alguma coisa”, diz Lorena, sobre pessoas que supostamente teriam sequestrado João na frente da casa da família, para vender por R$ 30 mil no exterior.

Rio

Delegados que passaram pelo caso acreditam que o menino pode ter caído no rio que corre atrás da casa da família, mas mãe do menino não concorda. Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo

“Os delegados (que passaram pelo caso) têm plena convicção de que o João está morto no rio. Mas eu que moro aqui, assim como outras pessoas, sabemos que não. Se não a gente tinha achado. Nestes seis anos, quanta gente caiu no rio, mas foi encontrada, morta ou viva. Por quê não iriam achar o João? Com o tempo, Deus faz você enxergar as coisas. Meu coração diz que ele não caiu no rio. Se não foi sequestrado, alguém matou e enterrou”, analisa a mãe.

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Lorena diz que foram seis anos muito difíceis. Ela alterna momentos bons, em outras horas vive o velório de um filho que nem sabe se está morto ou vivo. Em outras, diz que vem uma depressão forte, tem vontade de sumir. “Eu penso: o que eu fiz para merecer esse castigo? Fico imaginando como ele pode estar hoje. Esse retrato que fizeram (progressão de como João estaria hoje, com sete anos), ao mesmo tempo que é bom, para divulgar, para mim é horrível, me dá muita angústia. Eu já perdi o que é mais sagrado para uma família, uma criança. Não tenho mais força, não sei mais o que fazer”, conta ela.

Irmã gêmea

Lorena diz que sempre que sente a depressão e o desespero chegando, tenta erguer a cabeça, respirar e seguir em frente. Afinal, João Rafael tem uma irmã gêmea, Poliana. A mãe conta que a menina passa mal todos os anos, quando chega o aniversário dos gêmeos. Lorena já tentou fazer diversas festinhas de jeitos diferentes para a criança, mas Poliana não esquece o irmão, não gosta de nenhum tipo de festa, passa mal a cada aniversário. “Penso que ela um dia vai esquecer. Mas ela nunca esquece. Esse ano não sei se vou fazer algo para ela. A gente nunca para de sofrer”, lamenta a mãe.

Morreu no rio?

Por causa da repercussão nacional que o caso teve, o Serviço de Investigação de Pessoas Desaparecidas (Sicride) recebe, até hoje, informações de crianças parecidas com João, em vários cantos do Brasil. A polícia afirma que todas as denúncias são averiguadas. E o curioso é que, na maioria dos casos, as crianças realmente são parecidas com João. Muitas denúncias vieram de Santa Catarina, onde há pessoas com características físicas parecidas com o menino. Mas uma perícia é feita em todos os casos que chegam.

Como o corpo nunca foi encontrado, não é possível afirmar com absoluta certeza a versão de queda no rio, conforme a delegada do Sicride, Patrícia Paz. Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná

A delegada Patrícia Paz assumiu o Sicride há alguns meses. Uma das primeiras coisas que fez foi pegar os casos de crianças ainda desaparecidas e pedir que fosse feita a projeção, de como estas crianças estariam hoje. O de João Rafael foi o primeiro. Os cartazes com as projeções continuam a ser espalhados por todos os cantos.

Patrícia analisou todo o inquérito e continua a seguir na mesma linha dos delegados que passaram anteriormente pelo caso: a de que o menino caiu no rio atrás da casa da família. “Foram feitas muitas análises, perícias, o Instituto de Criminalística analisou o rio e a região. Então essa é a linha mais forte. Mas como as análises não foram conclusivas, isso nos faz continuar com o caso em aberto, investigando e recebendo denúncias”, diz ela, ressaltando que, como o corpo nunca foi encontrado, não é possível afirmar com absoluta certeza a versão de queda no rio.

Arquivamento?

A delegada ressalta que o inquérito, conforme a jurisdição do caso, corre pela delegacia de Adrianópolis. Mas assim como toda e qualquer situação de desaparecimento de crianças, a delegacia local recebe o apoio investigativo do Sicride. Mesmo que algum dia a Justiça entenda que o inquérito deva ser arquivado (por ter se passado muitos anos sem solução), diz Patrícia, o Sicride vai continuar averiguando todas as denúncias que chegarem em relação ao João Rafael, ou qualquer outra criança desaparecida.

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