Cinco dias se passaram desde que vários bairros de Curitiba
foram tomados pela água por causa das fortes chuvas no último final de semana. Na Vila Barigui, Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o nível da água já baixou, o barro nas ruas diminuiu e a maioria dos móveis inutilizados já foi recolhida, mas as marcas nas paredes mostram que os impactos ainda serão sentidos por muito tempo.

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Entre os moradores, os relatos são semelhantes: nunca viram a água subir tanto e a maioria perdeu quase tudo o que tinha dentro de casa. Também é comum o trabalho permanente para tentar recuperar o que sobrou. Assim, apesar do sol tímido que tem aparecido nos últimos dias, as casas estão abertas e os varais abarrotados de roupas para secar.

A aposentada Joselia de Melo, 66, espera que o tempo esquente logo para conseguir secar sua casa, onde a água chegou até a altura do joelho. “Não tem como sair daqui e nem tem como tirar as coisas”, lamenta a senhora que mora com a filha e dois netos na Rua Zaro Ramos Proença. Ela conta que começou a limpeza ainda no sábado, mesmo no escuro por causa da falta de luz.

Do outro lado da rua, na casa da dona de casa Liliam Oliveira, 27, o estrago não foi grande, mas deixou marcas. “Aqui ficou mais o cheiro forte”, diz. Sua família não teve tantos prejuízos materiais, mas se mobilizou na ajuda aos vizinhos, especialmente os idosos e com crianças pequenas. Liliam diz ainda que seu marido, inclusive, está desde segunda-feira com o quadro de vômito e diarreia, possivelmente ocasionado pelo contato com a água suja. As duas moradoras contam que o auxílio ainda não chegou ao local.

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Dormindo no molhado

A dona de casa Ana Maria Morito, 57, se abrigou na casa da filha e espera voltar logo para casa. “Perdi tudo. A água ficou por cima do guarda roupa, passou da minha cabeça. Se eu tivesse ficado dentro de casa teria morrido afogada”. Com tudo o que sobrou espalhado pelos cômodos, ela calcula suas perdas de móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos. A ajuda vem apenas de familiares, já que ela não estava em casa quando as doações da prefeitura e governo estadual chegaram. “A gente deixa a casinha tão bonitinha, luta para colocar em ordem…”, lamenta.

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“Faltou pouco para a água chegar no telhado”, conta a coletora de materiais recicláveis Elizângela Fernandes Silvestre, 25, que também perdeu tudo e desde então depende de doações para sobreviver. “Estou dormindo no molhado e meu filho de quatro anos está ficando direto na creche porque não tem condições”, afirma ela, que precisa de um colchão, roupas para adulto e criança e alimentos.

Casa de voluntária é porto seguro

Ainda era madrugada de sábado quando os moradores da CIC que tiveram suas casas alagadas correram para o número 222 da Rua Coronel Luiz Fernando Mariano. O ponto é conhecido no bairro e em outras regiões da cidade por prestar ajuda a quem precisa, especialmente em situações de emergência.

Todos foram recebidos pela voluntária Jandira Oliveira Xavier, 67, que mesmo se recuperando de uma cirurgia na coluna tem pique para organizar um esquema especial de solidariedade. “O povo apareceu, antes das 5h já tinha gente no portão e não paramos mais. Todos tiveram problema, um pior que o outro”, lembra. Desde então o entra e sai de pessoas em busca de roupas e alimentos é constante, além de voluntários que, mesmo com problemas em suas próprias casas, também estão dispostos a ajudar.

Fazendo contatos com diversos “amigos”, como ela define seus doadores, ela consegue mobilizar o que é necessário, como um caminhão carregado de mamão vindo da Ceasa e que esvaziou completamente em pouco mais de uma hora.

O endereço também vira ponto de festa em datas especiais, como a Páscoa, Dia das Crianças e Natal, quando ela faz questão de comemorar com a comunidade. “Acho que nasci com esse dom. Vale muito a pena. Não existe mais o amor ao próximo”, afirma ela, que está há 35 anos no bairro.

Como ajudar as vítimas

As maiores necessidades são colchões, cobertores, roupas de cama, roupas, água, cestas básicas, fraldas, materiais de limpeza e higiene (como lenços umedecidos e absorventes). As doações podem ser feitas em todos os órgãos do governo do Estado, prefeituras, delegacias de polícia, unidades da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria da Saúde.

Também é possível doar mantimentos nas sedes do Provopar (Rua Hermes Fontes, 315, Batel, e Rua Sergipe, 1712, Guaíra). O Provopar também colocou à disposição uma conta bancária para doações em dinheiro: Banco do Brasil, Agência 304-4, Conta Corrente 25,101-1.

Ainda em Curitiba é possível entregar doações à Fundação de Ação Social (FAS) nas caixas da campanha Doe Calor, em 600 endereços que estão relacionados no site www.doecalor.com.br, além de unidades de atendimento da FAS, como os CRAS.

Doações para a voluntária Jandira podem ser feitas na Rua Coronel Luiz Fernando Mariano, 222. Informações: 3327-4081 / 3239-3522 / 3245-8304.

Veja a galeria de fotos da Vila Barigui.