Luiz Antônio Bladen, 42 anos, viveu nas ruas por seis meses até receber ajuda para refazer sua vida. “Perdi meus pais, me separei e fiquei desempregado. Isso me levou às ruas. Foi muito difícil, me envolvi com o álcool e só me recuperei depois que fui resgatado e vim morar no Condomínio Social. Aqui recebi apoio para me reaproximar da família, arrumar um emprego e começar a estudar. Ano passado fui aprovado no Enem, passei em dois concursos públicos e hoje estudo para o terceiro”, relata o hoje promotor de vendas, que há quase dois anos vive no Condomínio Social, um projeto criado e mantido pela a Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS).
Primeiro no Brasil, o Condomínio Social foi inaugurado em 2014 e é uma unidade de acolhimento da prefeitura, última etapa no processo de reconquista da autonomia dos ex-moradores de rua. Funcionando no Campina do Siqueira, o prédio tem capacidade para atender 70 pessoas e abriga hoje 40 homens com idades entre 18 e 59 anos, que já trabalham. Lá os moradores dividem os apartamentos com banheiro e também têm acesso à cozinha, copa, sala de estudos, sala de jogos, academia, lavanderia e capela, cômodos que são cuidados por eles, com o apoio de uma equipe mantida pela FAS.
“O Condomínio Social nasceu de um sonho, após a Operação Inverno de 2013. Após o surgimento da ideia, procuramos e logo encontramos este local, que já foi sede de um seminário e que hoje recebe quem já passou por outras unidades de acolhimento. Ao todo cerca de 150 pessoas já passaram por aqui. No condomínio todos têm autonomia, mas seguem as regras criadas por eles mesmo, definidas no Estatuto da República do Condomínio Social”, conta a assistente social e coordenadora do Condomínio Social Marilis Baumel.
Alternativas
Outros projetos compõem a estratégia municipal de atendimento à população de rua. Recentemente, a FAS lançou um cartão de identificação para que os moradores de rua possam usar os banheiros públicos da Urbs, evitando com que eles façam suas necessidades nas ruas. E de acordo com a diretora de proteção social especial da FAS Ângela Mendonça ainda há outros benefícios.
“Além das unidades menores que temos hoje, que oferecem atendimento personalizado para as pessoas em vulnerabilidade, também criamos um posto de atendimento social avançado (ASA) na Praça Osório e vamos instalar guarda-pertences na região central, para evitar que os objetos delas fiquem pelas ruas. Oferecemos também passagem de ônibus para os migrantes e para quem deseja voltar para sua cidade”, diz Ângela. O guarda-pertences será inaugurado hoje. Terão direito as 100 primeiras pessoas que receberam o cartão de acesso aos banheiros públicos da Urbs.
No ano passado, 8.670 passagens de ônibus foram pagas pela prefeitura para as pessoas em dificuldades, gente que segundo Ângela, poderia vir a habitar as ruas de Curitiba. A diretora da FAS ainda explica que mais da metade das pessoas que estão nas ruas de Curitiba vem do interior do Paraná e de outros estados.
Entidades e voluntários
Mas a sociedade não se limita a reclamar. Trabalhos como o realizado pela Pastoral do Povo da Rua trazem alento e garantem o pão de cada dia pra muitos moradores de rua. “Promovemos a autonomia e a cidadania dos necessitados. Ofertamos refeições, banho, medicamentos, orientações para solucionar problemas com a justiça e para retirar documentos, e conseguimos até o internamento de muitas pessoas. Tudo para ajudar a minimizar este que é um problema social”, diz a agente da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Curitiba Cleudete dos Santos.
Outras entidades atuam de maneira parecida. Este é o caso da Casa de Acolhida São José, mantida pela congregação católica Filhas da Caridade com o apoio de voluntários e que oferece aos moradores de rua alimentação, espaço para banho e para lavar roupas, assistência social e jurídica e a oportunidade de participar de celebrações religiosas.
No mundo virtual, a ajuda vem de grupos que arrecadam doações, mobilizam os voluntários e de projetos como o Kmuflados.com, Curitiba Invisível e Morando na Rua, que mantêm páginas nas redes sociais, para divulgar histórias de vida dos moradores de rua.
Serviço
Fundação de Ação Social (FAS): Para acesso aos serviços, as pessoas podem procurar as unidades ou serem encaminhadas por Centros de Referência de Assistência Social – CREAS. O 156 recebe denúncias e solicitações de informações, todos os dias da semana, em horário integral (24 horas). Mais informação no site da FAS.
Casa de Acolhida São José: R. Paula Gomes, 1046 – São Francisco (41) 3221-7000.
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