O cineasta paranaense Estevan Silvera vai projetar no próximo dia 22 de setembro, no Instituto Histórico e Geográfico Paranaense, a sua mais recente produção. “Lata Chumbo e Prata” já foi lançada para os moradores do litoral paranaense, onde foi rodada. O filme de 52 minutos é um conjunto de três histórias curtas e independentes sobre três acontecimentos distintos ocorridos em nosso litoral em três épocas diferentes. O primeiro episódio é sobre a polêmica invasão da maconha nas praias brasileiras no verão de 1987, que causou um grande frenesi.

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O episódio virou lenda, mas foi real e na época divulgado pela imprensa. Como se tratava de maconha de alta qualidade, com cinco vezes mais concentração de  tetrahidrocanabinol (THC) do que a similar brasileira, a caça a estas latas se tornou tão frenética quanto a repressão. A origem do episódio tem pelo menos duas versões. A primeira é a de que a tripulação de um navio panamenho chamado Solana Star, com carga de várias toneladas de maconha, soube que ia ser abordado pela marinha brasileira depois que esta foi alertada pelo serviço de repressão às drogas dos Estados Unidos, que rastreou o carregamento proveniente da Ásia.

Para não ser flagrada com a carga ilícita, a tripulação decidiu jogá-la no mar, nas proximidades do litoral paulista e as ondas às trouxeram para as praias, causando grande rebuliço. De uma hora para outra, começou a louca caça à maconha. A outra versão é mais sofisticada: grandes traficantes que encontravam dificuldades em desembarcar o produto no norte do País teriam articulado este desembarque para confundir e desarticular as autoridades brasileiras de repressão ao tráfico da erva. Elas se deslocaram para o sul e liberaram o norte para os traficantes.

Cena da primeira parte do filme “Lata”. Foto: Divulgação.

Seja qual foi a verdadeira versão, o certo é que o desembarque de milhares de latas de maconha da mais alta qualidade nas praias brasileiras causou grande frenesi entre os consumidores do produto e produziu também milhares de histórias. O filme de Estevan Silvera registra histórias do encontro de várias pessoas do litoral paranaense com as latas e a reação delas. São moradores de Superagui e da Ilha do Mel. O curta-metragem “Lata” conta como reagiram Magal, Tucano, Carioca, Laurentino, Macuco, Maninho e outros personagens deste insólito episódio quando repentinamente se viram diante de uma quantidade inesperada de maconha.

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Alguns que experimentaram foram levados para um hospital de Paranaguá “de tão loucos que ficaram”. Outros dormiram por horas, alguns tentaram vender. Também teve quem avisou a polícia e ficou surpreso ao constatar que a quantidade entregue por eles não foi a mesma anunciada para a imprensa, sinal de que andaram desaparecendo latas de maconha até nas repartições policiais.

“Na época muitas pessoas achavam que as latas não chegaram ao Paraná e a Santa Catarina, porque a maior parte foi parar no litoral paulista e sul do Rio de Janeiro. Este filme procura mostrar que chegaram, com depoimento de pessoas que recolheram as latas, como também revela como cada uma procedeu diante do acontecimento”, diz Silvera. Aos que forem ver um filme um esclarecimento: “As latas que aparecem no filme não são originais. Elas foram reproduzidas a partir das informações relatadas por estes personagens reais”. Agora, sem medo de repressão, eles contam como foi que tudo ocorreu em nossas praias.

Um cacete nos ingleses

Cena da segunda parte “Chumbo”. Foto: Divulgação.
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O segundo episódio da série é “Chumbo”, sobre o dia em que Paranaguá derrotou a Inglaterra, em 1850. O navio inglês Cormorant entrou no porto decidido a capturar três navios suspeitos de praticar o contrabando de escravos, que era reprimido pela Inglaterra. Como era navio robusto, misto de veleiro e vapor e também com tripulação razoável, ele entrou sem ser incomodado. No entanto, ao sair, ele encontrou resistência através dos canhões da Ilha do Mel, cujo forte foi ocupado por um grupo de parnanguras revoltados e decididos a dar uma lição nos ingleses.

“Foram duas a três horas de combate, morreu uma pessoa do nosso lado e o navio inglês ficou bem avariado”, conta um dos personagens do filme, que revive a história. O cineasta entrevistou pessoas que estudam o assunto. O filme tem belas imagens e é uma lição de história sobre um episódio da história paranaense pouco conhecido da maioria das pessoas.

O tesouro da Cotinga

Cena da terceira parte “Prata”. Foto: Divulgação.

O terceiro episódio, “Prata”, é feito essencialmente com depoimentos de duas pessoas: o professor Ernani Straube, que foi da Secretaria de Educação em 1964 e possui bom conhecimento do assunto, e pelo coronel Acir Bezerra, que foi comandante dos Bombeiros em Paranaguá e participou da expedição para encontrar os restos do navio Bolorot, embarcação corsária de bandeira francesa, de 1718, e que naufragou nas proximidades de Paranaguá. O mais fascinante deste filme é a fala final do coronel Bezerra: ele diz que foram retirados vários objetos como canhões, cachimbos de piratas, entre outros. Mas o ouro não foi encontrado. “Acredito que a primeira coisa que eles fizeram antes de o navio naufragar foi retirar o tesouro e levar para a Ilha da Cotinga. Eu acho que este tesouro deve estar em algum lugar da Ilha da Cotinga”.

Serviço:

Os três filmes da produção “Lata, Chumbo e Prata” serão apresentados no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná no programa “O Cinema Conta a História”, na Rua José Loureiro, 43, esquina com Dr. Muricy, 43 (centro), no dia 22 de setembro, terça-feira, às 15 horas. O filme já foi exibido em pré-estreia na Cinemateca de Curitiba no dia 9 de junho e em estreias no dia 11 de julho na Ilha do Mel, 21 de agosto em Paranaguá e 22 de agosto em Superagui.

Confira o trailer:

Obras mais recentes do cineasta:

Lulu, a Louca, ficção, 16 mm, 8 minutos, 2014.

Este filme leva para a tela do cinema um conto de Dalton Trevisan que dá título ao filme, extraído do livro Capitu sou Eu. Trata-se de uma personagem que pelas ruas, becos e mictórios públicos de Curitiba.

Confira o vídeo: Vimeo e YouTube

Jonni Driver, documentário, ficção, 8mm, 15 minutos, 2013.

Obra aborda a vida de João Balduíno, taxista na fria e chuvosa noite de Curitiba. A trilha sonora faz reverência ao filme “Taxi Driver”.

Confira o vídeo: YouTube

João Baptista da Luz dos Pinhais, documentário, longa, 89 minutos, 2012.

Documentário sobre o artista e cineasta João Baptista Groff (1897-1970), pioneiro na documentação de fatos históricos no Brasil entre 1920 e 1950.

Outras obras:

1992 – Suplício de uma Saudade / assistente de direção
1992 – Tenderly / assistente de direção
1993 – A teia de renda negra / co-direção
1993 – Mulheres em Fuga / direção – produção
1994 – Conheça o Paraná / direção – produção
1995 – Ezequiel / direção – produção
1995 – Guaraqueçaba “ Ninho de Guáras” / direção – produção
1996 – Que Fim Levou o Vampiro de Curitiba? / direção – produção
1997 – Retrato 3X4 / direção – produção
1998 – Rainha de Papel / direção – produção
2000 – Tadashi “ poeta do traço “ / direção – produção
2001 – O Escapulário / direção – produção
2002 – Belo, Feio & Maldito / direção – produção
2003 – Punhal na Garganta / direção – produção
2004 – Penélope / direção – produção
2006 – Balada do Vampiro / direção – produção ( filme em 35 mm )
2008  – Fatal / direção – produção
2008  – Em Busca de Curitiba Perdida  / direção – produção ( filme em 35 mm )
2010  – O Oitavo  / direção – produção
2012  – João Baptista da Luz dos Pinhais  / direção – produção ( longa-metragem )
2012  – Não Jogue, Curta!  / direção – produção ( filme em 8 mm )
2013  – Uma carta de natal / direção ( produção: RPC / TV )
2013  – Jonni Driver  / direção – produção ( filme em 8 mm )
2014  – Lulu a Louca  / direção – produção ( filme em 16 mm )
2015  – Lata chumbo  prata  / direção – produção ( filme média-metragem )