Da obra que um dia seria o Centro Cultural Multiuso da Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), resta uma carcaça abandonada. A estrutura em construção na Rua Davi Xavier da Silva, atrás da Escola Municipal Albert Schweitzer, foi abandonada pela metade, e virou ponto de consumo de drogas, descarte de lixo e abrigo para pessoas em situação de rua.
O local foi pensado para ser uma espécie de teatro, que receberia diferentes eventos artísticos, de acordo com o presidente da Associação Beneficente Voluntariado da Cidade Industrial de Curitiba (ABVCIC), José Ney da Silva, conhecido como “Faísca”. Liderança comunitária e morador da vila, ele fez parte da concepção do projeto, em 2010.
“O governo Lula lançou vários projetos culturais para comunidades carentes. Para o Centro Multiuso foi destinada uma verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mas, durante o governo Luciano Ducci, nada saiu do papel. Em 2012, na gestão Gustavo Fruet, conseguiram R$ 2,1 milhões pra essa obra. Foi contratada uma empresa para iniciar a construção, mas uns seis meses depois ela abandonou”, conta.
Segundo ele, que na época foi buscar informações junto com vereadores, “a construtora pediu subsídios do contrato, e como não dava pra fazer, a firma foi embora”. “Ninguém soube me explicar direito, e tudo tem que ter uma justificativa. Cadê esses milhões que foram destinados para essa construção?”, questiona.
Depósito de entulho
Há cerca de dois meses, os moradores da vila organizaram um protesto, com gritos de ordem e faixas, pedindo providências para o local, que estava repleto de lixo. “Tinha tanto entulho que não dava nem pra entrar. Chamamos emissoras de televisão e fizemos barulho por causa da epidemia de dengue. Vieram uns dois vereadores aí, e então a prefeitura limpou”, relata Faísca.
A obra abandonada, no entanto, já acumula detritos de novo. Além de sacolas com dejetos domésticos, há restos de material de construção, colchões e até sofás deteriorados. A situação é uma ameaça sanitária para a comunidade. A comerciante Dirce Santos Silva, de 58 anos, tem um restaurante bem em frente à construção. “Daí sai rato, sai barata, tudo quanto é bicho. E entra uma maloqueirada pra usar droga”, lamenta.
Saudosa quadra
Anexo ao terreno que abrigaria o Centro Cultural Multiuso, há outra carcaça de construção sofrendo com a ação do tempo. Um ginásio que era utilizado pela Escola Municipal Albert Schweitzer e movimentava a vila virou “criação de pombo”. “Já tem 10, 12 anos que a cancha está parada, fechada, desde que a escola a entregou para a regional da CIC. A manutenção saía muito cara, e como ganhamos uma outra quadra, cedemos aquele espaço para a comunidade. Desde então, está abandonado”, diz o vice-diretor da instituição, Emídio Nicodemos Angelotti.
A dona de casa Iracema Abreu lembra com nostalgia dos tempos em que o ginásio recebia alunos de fora para disputar com os estudantes da comunidade. “Era maravilhoso. Os filhos da gente faziam esporte, e como os filhos jogavam, a gente acompanhava. Era muito gostoso. Hoje em dia não tem o que fazer, está muito triste a nossa vila”, diz a idosa de 75 anos.
Nova licitação
A Companhia de Habitação Popular (Cohab) de Curitiba informou que as obras foram interrompidas após a construtora ter rescindido o contrato e abandonado a obra, em março de 2014. “O projeto precisou de ajustes estruturais e um novo orçamento está sendo atualizado para ser enviado à Caixa Econômica. Após aprovação, será aberta nova licitação para definir a empresa que realizará a construção”, detalhou, em nota. Mas não há prazo para a realização do procedimento.
Após concluído, o espaço contará com auditório, área para exposições e salas para a realização de oficinas. O órgão explica que cercou a área com madeirite logo que a obra parou, mas o material foi destruído por vândalos. A promessa é que, em até 30 dias, o local será cercado com muro de tijolos.
O contrato com a Cohab para a construção do centro cultural foi de R$ 2,2 milhões – R$ 1,17 milhão de recursos próprios da prefeitura e R$ 1,025 milhão do Ministério da Cultura, liberados pela Caixa Econômica. O órgão esclareceu que o pagamento é realizado segundo medição de obra, não há liberação de recursos antecipadamente. Após o término das obras, o espaço será gerenciado pela Fundação Cultural de Curitiba.