Curitiba

Crédito roubado

Um, dois ou até três cartões de crédito diferentes são comuns na carteira de, pelo menos, 52 milhões de brasileiros. Além disso, uma pesquisa realizada em 2016 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revelou que sete em cada dez desses consumidores garantem que o cartão é algo positivo. No entanto, ao mesmo tempo em que facilita as compras no dia a dia, também pode chamar a atenção de bandidos.

Somente na Delegacia de Estelionato de Curitiba, foram registrados entre janeiro do ano passado e março deste ano quase 100 boletins de ocorrência relacionados a cartões. Ao todo, eles geraram prejuízo superior a R$ 350 mil aos usuários e têm se tornado cada vez mais frequentes. “Há diversos casos de clonagem em que os bandidos conseguem os dados do cliente e fazem compras com essas informações. Também atendemos situações envolvendo e-mails falsos que roubam dados do usuário e ainda fraudes utilizando motoboys em todos os bairros da capital”, informa Wallace de Oliveira Brito, delegado-titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba.

Golpe do motoboy

Foto: Átila Alberti
Pesquisa revela que sete em cada dez desses consumidores garantem que o cartão é algo positivo. Foto: Átila Alberti

Esse “golpe do motoboy”, segundo ele, tem se tornado cada vez mais frequente e elaborado. “Uma pessoa liga na sua residência se apresentando como funcionário do setor de segurança do cartão e informando que compras incomuns foram realizadas em seu nome. Na hora, o cliente fica preocupado e começa a responder as perguntas do estelionatário, que solicita CPF, dados do cartão e até a senha. Por fim, a vítima é informada de que precisa quebrar o cartão no meio e entregar a um motoboy que está indo até sua casa”.

Pode parecer uma situação simples de ser percebida, mas, no momento da ligação, os clientes não imaginam que se trate de uma fraude. Assim, eles prontamente atendem a solicitação do “banco” e só percebem o tamanho do problema ao receberem a fatura do mês seguinte. “Nesse período, a quadrilha realizou diversas compras pela internet e também pessoalmente em lojas, já que, ao quebrar o cartão, o chip continuou intacto e pronto para ser utilizado”, explica o delegado.

Fraudes

Foto: Átila Alberti
Entre janeiro do ano passado e março deste ano, foram registrados quase 100 boletins de ocorrência relacionados a cartões. Foto: Átila Alberti

Além desse caso, existem outras fraudes que tiram o sono de usuários como Ruth Mosquem, 23 anos. Publicitária na cidade de Araucária, ela foi vítima de um golpe diferente e também precisou registrar o boletim de ocorrência. “Fazia muito tempo que eu não usava um dos meus cartões de crédito. Aí, quando fui efetuar a compra, não consegui. No mesmo dia entrei em contato com a operadora do cartão e me falaram que eu tinha usado todo o limite”, conta.

O problema, segundo ela, é que as compras que apareciam na fatura haviam sido realizadas em Brasília. “Eu não tinha viajado e estava usando outros cartões aqui na região de Curitiba, então não era eu. Eles perceberam isso rapidamente e retiraram as cobranças. Fiquei aliviada”.

De acordo com o delegado Wallace, situações como essa ainda são comuns e acontecem devido à falta de segurança no sistema das companhias de cartões. “Bandidos invadem esses sistemas e conseguem dados do usuário para efetuar compras em seu nome. Só que o banco percebe que se tratou de uma clonagem e ressarce a vítima”.

Roubos

Também há um grande número de boletins de ocorrência envolvendo cartões de crédito na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Um desses casos envolveu a empresária Rosangela Olszewski de Miranda, 40 anos, que teve sua carteira roubada na loja em que trabalha, na Avenida República Argentina, bairro Água Verde. “Uma mulher entrou aqui com um garotinho e pediu para experimentar as roupas em uma sala reservada que temos porque a criança era muito tímida. Eu deixei ela ali e fui atender outros clientes, só que percebi depois que minha carteira havia sumido”, lamentou.

Ao sentir falta dos documentos, a empresária lembrou que a mãe e o garoto foram os únicos a chegar perto da sua bolsa. Por isso, se dirigiu à delegacia para fazer um B.O. “Também entrei em contato com a empresa do cartão de crédito solicitando o cancelamento dele, mas já era tarde porque a ladra tinha acabado com o limite que eu ia usar para comprar material escolar”.

De acordo com o delegado-chefe da DFR, Matheus Laiola, a equipe está investigando esse e outros casos envolvendo cartões. “Há casos em que o cartão de crédito é furtado e, sem estar com a senha, o criminoso consegue capturar os dados do cliente para fazer compras pela internet. Também há situações em que o criminoso leva a vítima para fazer o saque dentro da agência bancária e há até ocorrências de auto-fraude, em que o cliente simula que sofreu uma fraude para não ter que pagar o débito”, enumera.

Segundo ele, todas as situações são analisadas pelo banco responsável e, quando é comprovado que o usuário foi vítima, ele recebe o estorno do valor. “Mas cada caso é diferente do outro. Em uma situação de autofraude, por exemplo, o banco pode até estornar, mas se depois de uma investigação interna a fraude for descoberta, terá direito de cobrar o cliente. Já em um caso em que o cliente fornece a senha, ainda que coagido pelo criminoso, as instituições bancárias acabam não assumindo a responsabilidade e a situação segue para a Justiça”.

Saiba o que fazer pra “prevenir e remediar”

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Ao sofrer alguma fraude, roubo ou mesmo ao perder o cartão de crédito, o usuário precisa seguir alguns passos imediatamente.  “A primeira providência é comunicar o fato à administradora do cartão e pedir o bloqueio ou o cancelamento. Nesse momento, o cliente deve anotar o número do protocolo de atendimento e, posteriormente, ir até uma delegacia de polícia para fazer um Boletim de Ocorrência”, explica Laiola. No entanto, “prevenir é melhor que remediar”. Por isso, é necessário cuidar dos cartões e sempre evitar expor dados sigilosos. Afinal, ninguém quer transformar esse artigo da modernidade em motivo para dor de cabeça. A Delegacia de Estelionato está localizada na Rua Professora Antônia Reginato Vianna, 1177, no Capão da Imbuia, e atende pelo telefone (41) 3261-6600.

Como se proteger?

  1. Desconsidere de ligações e e-mails que peçam dados sigilosos, pois os bancos não entram em contato com você dessa forma.
  2. Memorize a senha do cartão de crédito e nunca a deixe registrada em papeis junto ao cartão ou mesmo na carteira ou bolsa.
  3. Se tiver dúvida para manusear seu cartão, procure ajuda de um funcionário identificado do banco.
  4.  Sempre que estiver usando o caixa eletrônico ou a máquina de leitura de um estabelecimento comercial, fique de frente para o equipamento, evitando que alguém veja os números digitados.

Sobre o autor

Raquel Derevecki

(41) 9683-9504