Corte na carne

Foto: Felipe Rosa

O preço da carne bovina tem assustado a muita gente. Só nos dois últimos meses, o aumento foi de 7,02%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Apesar de a variação no ano ter sido quase nula (0,26%), os reajustes subsequentes nos dois últimos meses atingiram em cheio o bolso do consumidor.

O produtor de eventos Abel França se surpreendeu com o preço do mignon. “Quase R$ 50 o quilo, e a picanha não fica muito atrás. Está muito caro. O jeito é aproveitar o fim do ano pra manter a ceia só com peru, mesmo. Churrasco não vai ser a primeira opção‘, diz Abel, que acredita que o aumento tenha a ver com a atual situação financeira do país. “As carnes vermelhas subiram muito. Antigamente dava para estocar carne, hoje em dia se conseguir comprar bifes para o fim de semana já está ótimo. Se não, é dinheiro parado”, argumenta.

Abel acredita que o aumento tenha a ver com a atual situação financeira do país. Foto: Felipe Rosa
Abel acredita que o aumento tenha a ver com a atual situação financeira do país. Foto: Felipe Rosa

A psicóloga Ana Marta costuma comprar carne moída, posta, maminha e também frango. As compras são para o mês inteiro. “Deixo as carnes congeladas. São oito pessoas em casa e acabo estocando na medida do possível. Com o valor mais caro, eu acabo optando por aumentar a quantidade de frango na mesa, ou às vezes a gente apela para o peixe. O ovo também ando fazendo bastante”.

Para a advogada Zilma Zenkner, o aumento ainda não foi percebido. Entretanto, ela acredita que os reajustes são comuns no período de fim de ano. “É normal, né? Aí a gente diminui a quantidade de compra ou vai pra carne de frango ou suína, mesmo”.

Açougueiro há mais de 30 anos, Natanael Pio de Souza, diz que as vendas, neste ano, fugiram do padrão dos últimos anos. “Os miúdos do boi, como língua, rabada, bucho. Todo fim de ano sobrava isso. Agora não se acha mais. O pessoal quer manter o churrasco, mas está optando pelos cortes mais baratos”.

A psicóloga Ana Marta costuma comprar carne moída, posta, maminha e também frango. Foto: Felipe Rosa
A psicóloga Ana Marta costuma comprar carne moída, posta, maminha e também frango. Foto: Felipe Rosa

Como dica para quem não abre mão da carne vermelha, Souza sugere o contra-filé com osso (bisteca). “Mas também dá para partir para um corte dianteiro. As pessoas pensam que não é carne boa, mas é de qualidade, sim. É carne de segunda, mas é boa. O setinho é uma boa pedida”, explica.

Subiu mesmo

acredita que os reajustes são comuns no período de fim de ano.
acredita que os reajustes são comuns no período de fim de ano.

Um levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná mostra que em alguns casos, a alta, nos últimos 12 meses, chega a quase 18% em alguns tipos de carne bovina. É o caso do mignon sem osso que, em novembro de 2015, tinha o quilo vendido a R$ 41,02. Em novembro de 2016, saltou para R$ 48,36, um aumento de 17,89%. Já o alcatra sem osso, que tinha o quilo vendido a R$ 27,33, subiu para R$ 30,46 ­ 11,45% a mais.

Para o Deral, alguns fatores têm feito com que as cotações da carne permaneçam altas, entre elas a oferta limitada de animais prontos para o abate, pastagens em más condições para a engorda dos animais, pela demora na brotação e desenvolvimento, devido ao clima adverso (falta de calor em muitas regiões). Além disso, a alta do milho encareceu o custo com a engorda dos animais nos sistemas de confinamento e semiconfinamento. Dessa maneira, os pecuaristas reduziram o uso da suplementação (alimentação alternativa), o que tem estendido o tempo de engorda.

Exportação prejudica mercado interno

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Para o economista do Dieese, Fabiano Camargo da Silva, o envio da produção brasileira para o exterior desfavorece o mercado interno. “O momento atual, com o aquecimento do câmbio, favorece a exportação. As empresas preferem enviar para fora do país e, assim, garantem um lucro maior. Com a oferta interna reduzida, o valor sobe”, diz.

Para ele, outro fator que possibilita os aumentos dessa maneira é o fato de que são poucas as grandes empresas frigoríficas que dominam o mercado brasileiro. “Historicamente, e a grosso modo, elas ‘colocam o preço que querem’. Ter o dólar em alta é uma justificativa para esses reajustes. Tivemos um cenário parecido no ano passado, quando a moeda norte-americana chegou a quase R$ 4”, relembra.

Comércio de suínos comemora crescimento

No terceiro trimestre de 2016, o abate de suínos chegou a 10,57 milhões de cabeças ­ é o maior índice desde 1997. O aumento é de 1,1% em relação ao trimestre anterior e de 3,8% na comparação com o mesmo período de 2015. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o órgão, o abate de 389,27 mil cabeças de suínos a mais no 3º trimestre de 2016, em relação a igual período de 2015, foi impulsionado por aumentos em 17 dos 25 estados brasileiros, com destaque para São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. No ranking dos estados que mais abatem porcos, o Paraná é o terceiro colocado. Santa Catarina lidera o mercado e o Rio Grande do Sul aparece na segunda colocação.

Ofertas no Face

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

No Facebook, quase 30 mil pessoas têm como objetivo encontrar e divulgar ofertas de carne em Curitiba. O grupo ‘Carne Barata ­- Curitiba’, conta com mais de 27 mil membros que, ao localizar alguma promoção, compartilham a informação com os outros membros. Em outro grupo, o foco é nas carnes consideradas nobres e que, por isso, têm um preço acima dos cortes tradicionais. Para encontrar, basta pesquisar no Facebook por ‘Carne Nobre, Preço Justo ­ Curitiba’.

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