Chega a ser irônico. Enquanto nos Estados Unidos o sistema público de saúde se desdobra para convencer pais e responsáveis sobre a importância de cumprir os protocolos de vacinação infantil diante de uma das mais graves epidemias de sarampo dos últimos tempos, segundo publicação do periódico The New York Times, no dia 13 de março – no Brasil, a correria para manter as cadernetas em dia chega a ser quase desesperadora. Principalmente quando se fala da imunização contra a meningite meningocócica, que ganhou destaque no cenário nacional, nas últimas semanas, após vitimar o neto do ex-presidente Lula, o pequeno Arthur, de 7 anos, no início deste mês. Em Curitiba a procura pela vacina é tanta que diversas clínicas já sofrem com a falta de estoque.

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Diante da repercussão da morte do menino e da consequente onda de imunizações contra a meningite, a Tribuna foi atrás para saber: afinal de contas, a coisa está mesmo tão grave assim?

“O seguro morreu de velho”. Assim pensa Patrícia Escobar Canini Cubas, 37. Mãe dos pequenos Eduardo, de 2 anos e Milena, de apenas 5 meses, a dentista preferiu garantir as imunizações antes do assunto “virar moda”. “Nunca descuidei com nenhuma vacina da cartilha e, por própria recomendação do pediatra, sempre administrei aquelas doses extras que não fazem parte do calendário público de imunização”, revelou. Precavida, Patrícia optou por vacinar os filhos contra a meningite meningocócica (cujas doses são disponíveis apenas na rede particular) já nos primeiros meses de vida dos pequenos, a partir da liberação médica. “O Eduardo já tomou faz tempo então não preciso me preocupar. Já a Milena tomou a vacina B e a ACWY específica para a meningite meningocócica no início do mês, pouco antes do tema repercutir na mídia. Se eu tivesse deixado para depois talvez não tivesse conseguido vaciná-la”, observa a dentista que levou a bebê ao centro de imunização um dia antes da morte do pequeno Arthur Lula da Silva, no dia 1º.

Patrícia preferiu garantir as imunizações contra a meningite antes do assunto “virar moda”. Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná
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“Depois daquele dia virou um desespero, principalmente nas redes sociais”, disse. Membro de alguns grupos compostos por jovens mães no Whatsapp, ela conta que a meningite meningocócica, de repente, virou sinônimo de pânico entre colegas e amigas. “Todas queriam saber onde encontrar e o custo das doses para levar os filhos o mais rápido o possível”, lembrou a dentista, que pagou cerca de R$ 900 nas últimas doses aplicadas em sua filha menor. Como rastro de pólvora, em poucos dias, o possível risco de contágio por meningite meningocócica lotou postos de saúde e centros de vacinação em diversos bairros de Curitiba a ponto de muitos ficarem sem doses das vacinas B e ACWY e, mesmo passadas quase três semanas do “susto”, a situação não mudou muito.

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Para saber a quantas anda a procura pela imunização contra a meningite, a Tribuna entrou em contato com cinco clínicas privadas em diferentes pontos da cidade e a reposta foi quase a mesma em todos os estabelecimentos. Há vacinas. Mas é bom correr já que, por conta da grande demanda, os estoques estão acabando rápido. Felizmente, a maioria dos centros de vacinação ainda conta com doses disponíveis e, do total de clínicas procuradas pela reportagem, apenas uma localizada no bairro Bigorrilho estava com vacinas ACWY em falta.

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Com preços que variam de R$ 330 a R$ 590, a administração das vacinas “B” e “ACWY”, é recomendada principalmente para crianças a partir dos 3 meses e adolescentes, que compõe os grupos de maior risco de contaminação pela meningite meningocócica. Disponíveis somente na rede privada de saúde, as vacinas fazem parte do calendário vacinal da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), o que levanta o questionamento acerca da necessidade de disponibilização das doses também pela rede pública, afinal, doença não escolhe classe social.

Polêmico, o assunto rende “pano pra manga”. Segundo o infectologista e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Jan Walter Stegmann, a distribuição de vacinas por parte da indústria farmacêutica leva em consideração fatores referentes à incidência das doenças entre a população e o próprio custo dos medicamentos. “O ideal é que todas as vacinas fossem disponíveis para todos porém, infelizmente, não é isso que acontece na prática. Quando se fala em meningite, o que vemos, é uma preocupação maior do poder público em imunizar contra os tipos mais comuns da doença e, como a meningocócica tem menor incidência, acaba ficando de fora da rede pública”, explica.

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Fora do calendário

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde (SESA), afirmou que o calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI) oferece à população brasileira 19 vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), elas são disponibilizadas pela rede pública de saúde de todo o país, gratuitamente, para combater mais de 20 doenças.
A vacina meningocócica B é uma vacina inativada que previne meningites e infecções generalizadas causadas apenas pela bactéria meningococo do tipo B. Esta vacina está indicada para crianças, adolescentes e adultos com até 50 anos, dependendo de risco epidemiológico, conforme recomendações das Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm).

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Atualmente, a vacina meningocócica B não está contemplada no calendário do PNI, portanto não está disponível atualmente na rede pública.

A definição das vacinas no calendário do PNI é de competência do âmbito federal (Ministério da Saúde), através de análises e diversos estudos populacionais.

Afinal, devemos nos preocupar?

Segundo Stegmann, a comoção em torno da morte de Arthur criou no imaginário popular um falso alerta em relação a um possível surto de meningite meningocócica no Brasil. A hipótese foi descartada pelas autoridades de saúde nacionais. “Não houve nenhum alerta pelo sistema público em relação a isso. Diante da possibilidade de qualquer epidemia, incluindo meningite, o governo implementa trabalhos de prevenção e imunização imediatamente. Neste caso houve muita repercussão e por conta disso as pessoas ficaram assustadas”, ressalta.
O especialista considera a importância da manutenção correta da imunização infantil e tranquiliza aqueles que, eventualmente, temam um possível surto de meningite. “É fundamental que os pais estejam atentos ao calendário vacinal estabelecido pela SBIM, principalmente em relação aos filhos pequenos. Porém não há motivo para pânico”, finaliza.

O que é meningite meningocócica?

Potencialmente fatal, a meningite meningocócica é uma forma grave de meningite bacteriana, altamente contagiosa, causada pela bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como meningococo. Caracterizada por uma inflamação nas meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal), a doença é mais comum entre bebês e adolescentes. Causada por uma bactéria presente em cerca de 25% da população brasileira, a meningite meningocócica vitimou 218 pessoas no Brasil em 2108, segundo o Ministério da Saúde. No mesmo período, 316 pessoas morreram em decorrência de outros tipos, mais comuns, da doença.

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Com evolução rápida, a meningite meningocócica, requer tratamento imediato após o diagnóstico. Os sintomas da doença incluem febre alta, forte dor de cabeça intensa, vômitos, dor e rigidez de nuca (dificuldade de encostar o queixo no peito), aparecimento de manchas na pele, confusão mental, falta de apetite, sonolência, agitação e sensibilidade à luz. Em bebês, sinais como convulsões, diarreias, choro agudo e falta de apetite também podem indicar infecção.

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