Às vezes nem é preciso procurar. Basta um clique e pronto. Toda a sorte de conteúdo erótico, fácil e ilimitado na tela do smartphone. Entre os 10 países que mais consomem material adulto na Internet, o Brasil jamais teve acesso tão fácil à pornografia por públicos de todas as idades, incluindo crianças. Se antes o assunto, por si só, já levantava polêmica, a questão agora começa a virar problema já que, sem poderem controlar totalmente o acesso dos menores à pornografia, pais e educadores se deparam não apenas com o desafio de preservá-los desse esse tipo de exposição, mas também de combater os inúmeros equívocos em relação ao sexo transmitidos por meio desses conteúdos.
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Os números impressionam. Segundo levantamento divulgado no ano passado pela revista Forbes e pelo portal americano de conteúdo adulto, Porn Hub, o número de acessos diários à plataforma em 2017 ultrapassou a marca dos 80 milhões de pessoas. Segundo o portal, isso equivale a nada menos que 50 mil acessos por minuto ou 800 por segundo. Deste total, estima-se que 22 milhões dos consumidores diários de pornografia na Internet sejam brasileiros, segundo reportagem publicada no segundo semestre do ano passado pelo portal G1. Sem filtros precisos que indiquem a faixa etária destes usuários, sabe-se que boa parte tem menos de 18 anos, ou seja, não completaram a idade suficiente para acessar esse tipo de material.
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Na ausência de dados precisos relativos ao assunto na mídia nacional, a Tribuna foi atrás para saber a quantas anda o acesso de menores à pornografia no Brasil. Para tanto, contamos coma a ajuda da plataforma de monitoramento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) que, por meio de pesquisa implementada mediante o programa TIC Kids Online que faz levantamentos sobre o comportamento de crianças e adolescentes na Internet apontou que de 3.102 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, cerca de 620 tiveram a acesso a imagens ou vídeos de conteúdo erótico no período de janeiro a dezembro de 2017. Destas, 12% admitiram terem se sentido incomodadas após o contato com o material.
O levantamento vai além. Segundo o Cetic.br, quase 30% dos entrevistados não precisou nem procurar pelo conteúdo, recebendo as mensagens de teor sexual por amigos ou conhecidos.
É o que aconteceu com o curitibano Rafael*, de 12 anos, cuja identidade foi preservada pela reportagem da Tribuna. Quem conta é a mãe dele, a professora Cristiana*, 36, que também pediu para que não revelássemos seu nome. “Um colega da escola mandou uma foto de mulher pelada pra ele no Whatsapp. Como nosso diálogo é super aberto, ele veio me contar e eu levei numa boa”, revela. Sem pesar a mão sobre o tema em casa, Cristiana, que tem mais dois meninos, acredita que criar tabus em torno do assunto só gera mais curiosidade. “A partir do momento que você ‘encera’ demais, a coisa se torna proibida e é o que basta para que eles se sintam instigados a procurar escondidos. Não acho que a saída seja proibir ou confiscar os aparelhos celulares porque você acaba criando seus filhos numa bolha. Por isso, quando o assunto é sexo procuro tratar com naturalidade”, diz a professora.
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Já o jornalista Rodrigo*, que também conversou “em off” com a Tribuna e, da mesa forma, pediu a preservação da sua identidade, não encontra a mesma facilidade para tratar o tema com sua filha, Angela*, de 11 anos. “Percebi que algo errado estava acontecendo pelas conversas dela em casa. Quando fiquei sabendo que ela tinha tido acesso a conteúdo adulto na Internet tive uma longa conversa e tentei explicar que aquilo não servia para ensinar nada. Alertei sobre o mau uso da Internet e os perigos desse tipo de acesso e ela compreendeu”, revela. Quanto ao controle das atividades da filha, o jornalista afirma encontrar dificuldades. “É muito difícil saber o que eles estão acessando, por mais que tentemos. No meu caso, procuro restringir o uso dos eletrônicos aos períodos nos quais estou em casa. Aí fica um pouco mais fácil”, diz.
Melhor saída
Para a pedagoga e psicopedagoga clínica, Luiza Stadler, restringir o acesso das crianças aos eletrônicos pode ser uma alternativa para evitar exposições indesejadas. Segundo a especialista, no entanto, a medida deve estar atrelada a outras formas de cuidado. “O ideal é limitar o tempo de uso e monitorar as atividades da criança na Internet por meio do acesso irrestrito ao aparelho. Muita gente defende a ideia de que ter a senha do celular do filho é invasivo, mas, quando se trata da exposição de menores a conteúdo inapropriado, estamos falando também de coisas mais graves, como a própria pedofilia online”, explica.
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Contrária à ideia do confisco de tecnologias, a psicopedagoga defende que, acima de tudo, o bom diálogo ainda é a melhor saída. “É importante que os pais conversem de forma livre com os filhos e expliquem a forma de saudável de uso da Internet”, recomenda. Para a especialista, uma boa alternativa é estabelecer horários de uso para celulares e computadores, restringindo o acesso às áreas comuns da casa, como sala ou cozinha, onde os pais podem verificar o que está sendo visto pelos filhos. “É importante evitar que a criança acesse a Internet sozinha. Fechada no seu quarto, por exemplo”, diz.
Sobre os efeitos psicológicos do acesso precoce à pornografia, a psicopedagoga explica que os danos à criança vão desde problemas de aprendizagem a traumas na vida adulta em relação à sexualidade. “Quanto menor a criança, mais graves serão as consequências dessa exposição porque, de certa forma, ela não consegue processar aquela informação e psicologicamente a interpreta como uma forma de violência. Já a partir dos oito anos, isso pode resultar num vício, comprometendo o sono, a capacidade de aprendizagem e estimulando comportamentos incompatíveis com a idade”, explica.
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De acordo com o médico e secretário geral do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Luiz Ernesto Pujol, o risco do acesso precoce à pornografia está diretamente atrelado a interpretações errôneas em relação à prática sexual. “As crianças não têm estímulos hormonais para compreender o sexo. Por isso, os pais devem estar preparados e explicar a sexualidade de maneira aberta e honesta, ressaltando a importância da idade adequada para essa iniciação, bem como a valorizar o outro, tratando-o com respeito e carinho”, finaliza.
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