Na sua opinião, para ser considerado um “arranha-céu”, que tamanho um edifício deve ter? 112 metros de altura e 37 pavimentos, como o Centro Comercial Itália, no Centro de Curitiba? Ou 152 metros e 44 andares, como o Universe Life Square, o edifício mais alto da capital paranaense? Que tal então o Burj Khalifa, em Dubai, nos Emirados Árabes, o prédio mais alto do mundo com 828 metros de altura e 160 andares!

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Bem, na Curitiba da década de 1920, quando não existiam imóveis com mais de três pavimentos, surgiu na Boca Maldita o edifício Moreira Garcez, na esquina da Avenida Luiz Xavier com a Rua Voluntários da Pátria, na Praça Osório. Era o maior prédio da cidade, e o terceiro do Brasil. O projeto original, de um hotel de luxo, previa apenas cinco andares. Mas, iniciadas as obras, os engenheiros optaram por construir mais três em cima. Tanto é que, na divisão do quinto para o sexto andar, é possível ver um elemento decorativo da fachada delimitando a “adaptação”.

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Mas o aumento de tamanho do Moreira Garcez tinha motivo, e não era a competição para ser mais alto que o Edifício Martinelli, em São Paulo, nem o prédio do Jornal O Dia, no Rio de Janeiro, os maiores do país na época. Naquele tempo, explica o arquiteto Claudio Forte Maiolino, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR), Curitiba tinha uma lei que isentava o prédio mais alto da cidade de pagar impostos municipais.

A obra foi iniciada em 1927, projeto do engenheiro e ex-prefeito de Curitiba João Moreira Garcez. Os cinco primeiros andares foram inaugurados em 1933, o sexto em 1937 e o oitavo em 1957.

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Concreto

Para a conservadora e provinciana Curitiba da época, o Moreira Garcez foi um avanço sem precedentes. A verticalização foi o símbolo da modernidade. Curitiba havia acabado de superar um obstáculo enorme, que foi a abolição da escravatura, em 1888. Não parece, mas isso causou um impacto enorme na arquitetura das cidades, pois as residências e comércios dependiam dos escravos para abastecer os imóveis com água, retirar a água usada e os dejetos de banheiro. E tudo era feito manualmente pelos escravos, com bacias e baldes.

Com o fim da escravatura, os proprietários de imóveis se viram obrigados, urgentemente, a fazer a água chegar nas residências e escoar o esgoto com encanamentos e galerias. Foi uma mudança drástica nas construções da época. Mal Curitiba tinha se adaptado a isto, começaram a surgir as casas mistas, feitas de tijolos e madeira. Conforme o conselheiro do CAU-PR, só quem tinha um melhor poder aquisitivo residia neste tipo de construção.

Na virada do século XIX para o XX, auge das casas híbridas, surge o concreto. No Brasil, este material só começou a ser usado em 1915. Já o edifício Moreira Garcez foi o marco desta técnica construtiva em Curitiba, que só foi consolidada na década de 50 com a construção de Brasília, onde o arquiteto Oscar Niemayer planejou tudo feito com este material.

Pilares de madeira

Apesar de ter sido todo construído em concreto, o Moreira Garcez foi apoiado em pilares de madeira. Foram cravados no solo troncos de eucalipto, embebidos em óleo cru, para que não apodrecessem dentro dos lençóis freáticos. “A madeira verde, dentro da água, é altamente resistente. A Catedral foi construída logo em seguida, também apoiada em estacas de madeira. Naquela época, não tínhamos os vergalhões de aço como temos hoje. Então era preciso construir paredes de concreto muito grossas, para sustentar uma cúpula daquele tamanho da catedral, em forma ovalada e coberta com tijolos”, explica o arquiteto.

Depois das estacas de madeira, diz Maiolino, o Moreira Garcez teve a estrutura e as sapatas feitas num engenhoso sistema de vigas, com concreto e trilhos ferroviários, visto que ainda não existiam na época ferros produzidos especificamente para construções. Foi a primeira construção de concreto armado da capital paranaense, um desafio tecnológico sem precedentes para engenheiros e arquitetos da época.

Várias utilidades

Apesar do plano de ser um hotel de luxo, logo o Moreira Garcez virou um edifício comercial. Depois, foi reformado para ser um shopping center. Antes disso, diz o arquiteto, os ambientes eram maiores, mas provavelmente foram divididos durante a reforma do shopping. Escadas rolantes foram instaladas onde originalmente era um pátio aberto, espaço de circulação de ar, comum nas construções brasileiras de 1920 por causa de normas sanitárias.

Mas os vitrais geométricos, o guarda corpos e as esquadrias do edifício permanecem originais. O Moreira Garcez também já abrigou em sua trajetória o consulado da Alemanha nazista e a Federação Paranaense de Futebol. Décadas depois, o edifício foi decretado como Unidade de Interesse de Conservação, devido ao potencial histórico em relação à cidade. Hoje funciona como shopping e faculdade.

https://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/bustos-retirados-ruas-curitiba-exposicao-memorial/