Em agosto, a Guarda Municipal de Curitiba completou 31 anos e, ao longo deste tempo, a vida de muitos de seus integrantes se fez dentro da instituição, principalmente daqueles que estão desde o início, na primeira turma. No caso do inspetor Odgar Nunes Cardoso, atual diretor da GM, a história de vida se mistura fácil com a da instituição. Prestes a se aposentar, o inspetor, que decidiu ser guarda através de uma propaganda que viu na televisão na década de 80, não só tem a certeza de que fez a escolha certa como sabe que sua vida não seria a mesma sem isso. E pode ser visto como um grandioso exemplo aos novos guardas.
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Antes de entrar na Guarda Municipal, Odgar atuou como sargento do Exército Brasileiro e depois passou a trabalhar como motorista de caminhão. “A empresa que eu trabalhava era de Curitiba, mas tinha uma filial no Rio Grande do Sul, onde eu morava. Numa das semanas de trabalho, o superior me pediu que eu fosse a Curitiba para alguns compromissos e foi aí que a GM entrou em minha vida”, contou.
Odgar disse que veio a capital paranaense, fez o que precisava fazer e, ao assistir TV, teve um ‘turning point’. “Estava assistindo ao jornal à noite e, no intervalo, vi um comunicado que dizia ‘entre na guarda municipal de Curitiba’, chamando para o concurso. Vi que eu tinha os principais requisitos e resolvi me inscrever”.
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Entendendo que estava ali seu futuro, Odgar voltou para o Rio Grande do Sul decidido. “Voltei para a casa, mas já sabia que não ficaria mais por lá. Quando cheguei, pedi a conta do trabalho voltei para Curitiba para fazer o concurso. A coisa estava tão predestinada a dar certo, que minha papelada só ficou pronta no último dia de inscrição”.
‘Era pra ser’
Como já tinha atuado como sargento temporário, Odgar tinha ainda em seu estilo de vida o que fazia no Exército. “Tentei ficar, inclusive, mas não passei no concurso. Quando saí do Exército tinha um padrão de vida, mas tudo mudou com o trabalho como motorista de caminhão e quando surgiu a oportunidade da GM me chamou a atenção pelo perfil que eu tinha, porque era recente para mim o Exército. Apostei minhas fichas porque eu vi ali o meu futuro, a recuperação do meu padrão de vida, trazendo de volta a minha ideia de carreira”.
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Sem conhecer muito sobre Curitiba, afinal não morava aqui, Odgar passou a estudar sobre a cidade. Os dias que antecederam o concurso e, depois, o resultado das provas, não foram fáceis. “Eu ficava na Praça Santos Andrade estudando a praça. Ia à Biblioteca Pública estudar sobre Curitiba, porque eu tinha que saber tudo sobre a cidade para passar. Aprendi tudo em questão de dois meses. Passei fome, porque nem sempre tinha dinheiro para comprar comida. Mas no fim, passei na prova e na época entraram só 110 guardas, para mais de 3 mil candidatos. Era pra ser”.
GM é sua vida
Quando entrou na GM, no finalzinho da década de 80, a instituição estava surgindo e todos os padrões que se formaram ao longo do tempo vieram com os anos. “Por isso que, para mim, a Guarda é tudo que eu adquiri na vida. Não só na questão financeira, de bens materiais, mas também na questão pessoal mesmo. A Guarda foi uma estrutura de segurança não só para mim como também para a minha família. Me deu oportunidade e eu soube aproveitar isso”, disse Odgar, fazendo alusão aos estudos, já que ao longo do tempo em que atua como GM buscou se especializar. “Me formei em geografia e história, mas fiz especialização de planejamento estratégico na área de segurança pública e também para formação de instrutores”.
Odgar, que entrou apenas como ‘guarda municipal’, aos poucos foi abraçando as oportunidades que a carreira lhe dava. “Abriu concurso em 94, eu fiz, e passei para supervisor. Depois, em 2004, fiz o concurso para inspetor e passei também. Junto disso, no decorrer da carreira, devido ao trabalho desempenhado, tive a chance de ser diretor da GM três vezes: a primeira em 92, por um mês, a segunda em 2010 e agora, desde 2017. Já na questão pessoal, a GM me deu muito: minha esposa”.
Teve casório
No primeiro ano de GM, Odgar conheceu Silvia Maria Zoraski, a mulher que se tornaria a mãe de seus dois filhos e sua parceira da vida. Ela, que também é da primeira turma da guarda, se tornou supervisora e os dois se casaram em 89. “A história da gente se mistura com a da GM porque nos conhecemos trabalhando, namoramos, casamos e constituímos nossa família. Os mesmos valores que a gente tenta passar para os nossos filhos nós trazemos para a instituição, que é a base familiar, a convivência, a educação, a moral”, comentou Silvia.
Os dois lembraram que quando começaram a namorar tiveram que pedir permissão, porque era proibido. “Tivemos que ir até o diretor para contar que estávamos nos conhecendo e pedir permissão para continuar. Ele autorizou, mas nós também tomamos o cuidado de não deixar o relacionamento atrapalhar o trabalho e nisso se passaram 30 anos”, disse ela. “Eu não tive que falar com o pai dela, mas sim com o diretor”, brincou Odgar, destacando que, hoje em dia, namorar na GM já é mais tranquilo. “É livre, mas o cuidado é implícito porque é algo que todo mundo deve ter”.
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Assim como Odgar, Silvia buscou estudar e se especializar. “Me formei em pedagogia e me especializei em gestão de recursos humanos. É o que a gente traz para dentro, para ajudar a população. Hoje eu digo que, embora eu tenha participado de outros concursos no passado, não ter passado foi um sinal. Foi na GM que decidi ficar e acabou que aqui eu mesmo que constitui carreira, família, enfim, vida”.
O casal, desde sempre, buscou não misturar muito o trabalho com a parte pessoal. “Mas claro que a nossa vivência na GM traz o mesmo objetivo, ainda que de maneiras diferentes. Em casa se mistura mais, mas no serviço não misturamos, a única coisa que trazemos são os valores da família mesmo. Em contrapartida, na guarda ele é meu chefe, mas em casa os dois são os que mandam”, brincou ela.
A trajetória do casal, que existe desde o mesmo período da GM, é para eles um reflexo do quanto a Guarda Municipal de Curitiba se tornou importante na vida das pessoas. “Não só pela segurança que nós fazemos, mas por tudo que trazemos na história e o que a GM demonstra às pessoas. Ao longo destes 30 anos nós crescemos junto com a comunidade, aprendemos, ficamos mais próximos e é para isso que existimos. Porque segurança se faz não só com segurança, mas convivendo e mantendo o lado social, que faz parte”, avaliou Silvia.
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Ao longo dos anos, o casal passou a trabalhar de forma integrada não só em sua missão, que é ser GM, mas também na questão social: há 13 nos, Silvia mantem, junto com uma colega de função, o projeto ‘Papai Noel Azul’ da GM, que busca presentear crianças carentes. “Já demos presente a mais de 10 mil crianças nestes anos. É um trabalho social que fazemos, de aproximação com a população, e que exige somente a nossa boa intenção. Todo o trabalho é feito com guardas voluntários e que tiram do próprio bolso”, disse, orgulhoso, o marido Odgar.
Tudo compensou
Ao fazer um balanço do quanto a GM mudou sua vida, Odgar se emociona ao tentar passar esta essência aos novos guardas, já que até o fim do ano novos GMs vão estar nas ruas atuando. “Sempre falo que temos um papel fundamental que não é nominal, não é o Odgar que a população olha e sim o guarda municipal. Por isso temos que passar uma imagem boa e a nossa missão fica ainda mais importante. Temos que ser o nosso próprio orgulho e essa credibilidade que a GM tem perante a população é devido ao trabalho que fazemos”.
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Odgar tem certeza de que se não tivesse desistido de tudo, sua vida seria completamente diferente. “Não teria a estrutura que tenho hoje, a começar pela esposa, por exemplo. Acredito que não teria a responsabilidade na vida que eu passei a ter, pois a visão era outra no passado. É por isso que me sinto feliz e grato à Guarda Municipal. Porque o futuro que eu terei se dá pelo respeito que tive de valorizar o trabalho que escolhi para a vida. A evolução da minha vida foi espetacular e tudo gira em torno da guarda. Tudo que eu tenho foi a guarda que me proporcionou”.
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