“Justina”. É assim. Identificada apenas pelo primeiro nome que a pequena escrava de 4 anos consta nos registros de sua venda datada de 1861, no município de Vila do Príncipe, atual Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No “recibo”, chamado na época de “meia siza”, poucas informações sobre a criança, como a cor de sua pele e município no qual nasceu. O comprador, Fortunato José de Almeida, pagou pela pequena, 40 mil réis: uma bagatela. Preservado, o documento original está exposto, ao lado de outros 2 mil itens históricos, no Museu do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) que, em 2019, completa 45 anos. Aberto ao público, o local tem entrada franca e traz no acervo a evolução da justiça no Estado desde o período imperial.
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Mapas, quadros, documentos, peças de roupa, louças e bens de uso pessoal dos primeiros nomes do judiciário paranaense. Entre os itens mais curiosos em exibição no espaço situado em pleno Centro Cívico de Curitiba, estão grilhões originais utilizados para acorrentar escravos, fotografias da Guerra do Contestado e uma carta, escrita pelo próprio imperador Dom Pedro II em 1866, na qual nomeia o Bacharel Antônio de Barros Júnior, juiz municipal de órfãos em Paranguá e Guaratuba.
Pelas paredes, representados em belos quadros emoldurados e enfileirados pela data de cada gestão os presidentes do Tribunal acompanham os visitantes do museu que, enquanto caminham pelo espaço, têm contato não apenas com as relíquias de valor histórico mas também com a própria história da justiça no Paraná que, a partir do litoral, foi chegando às comarcas do interior. Máquinas de escrever, canetas, escrivaninhas e até um tribunal do júri, cada item devidamente organizado, catalogado, preservado e, no caso dos documentos, traduzido.
Darbi Wolf está à frente da instituição há mais de 15 anos. Responsável pela preservação do acervo, o funcionário público se orgulha do museu, que nem sempre funcionou no mesmo endereço. “Criado em 1974, pelo desembargador Edmundo Mercer Junior, o Museu da Justiça do Paraná foi o primeiro museu judiciário do Brasil. Montado aos poucos, a partir do acervo do próprio Tribunal e das doações das famílias dos magistrados, o espaço passou por vários ‘despejos’”, brinca. Segundo Wolf, o museu teve como sedes o Tribunal do Júri e o Palácio da Justiça até que, por ocasião da comemoração dos 120 anos do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, foi transferido para a esplanada do prédio anexo ao TJ, onde funciona até hoje.
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Aberto ao público, o local recebe alunos de ensino médio, fundamental e calouros de direito. “Ao contrário do que muitos pensam, no entanto, o espaço não é só para estudantes, mas para todos que se interessam pela história no nosso Estado”, ressalta Wolf que considera a antiga máquina de escrever da marca alemã Gundka, datada da década de 20, um dos “cristais” da exposição.
Fantasmas?
Além dos objetos em exibição, um dos pontos altos do Museu da Justiça é o acervo digital, que guarda mais de 7 mil processos catalogados desde a época em que a caligrafia para “Paranaguá” era “Parengva” e o Tribunal de Justiça era chamado “Tribunal de Apellação”. Entre os destaques, documentos oficiais assinados por Ruy Barbosa e julgamentos emblemáticos na história da instituição. Um deles, lembrado por Ibramar Socreppa, também responsável pelo espaço, só não terminou em tragédia graças à destreza de um garçom que, munido de um pão, conseguiu se defender da facada de um cliente insatisfeito. “São casos do dia a dia e processos que, após julgados, ajudaram a construir a jurisprudência no Estado e do país. Mais que simples registros, esse documentos mostram as transformações do judiciário paranaense e da própria legislação”, afirma.
Para os entusiastas do além-vida e do sobrenatural, uma curiosidade. Segundo o próprio Socreppa, uma das cristaleiras do acervo tem fama de assombrada. Localizada no coração da exposição, a cristaleira guarda peças doadas por famílias e itens pessoais de magistrados já falecidos. Assim como os demais, o móvel é trancado e, durante a noite, isolado. “Diversas vezes, ao chegarmos de manhã para abrir o museu, a cristaleira está aberta. É estranho porque ninguém tem acesso ao local depois de fechado e é preciso destrancá-la para abrir”, afirma. Será que algum desembargador sente falta de sua caneta-tinteiro? Ou será de um carimbo? Será saudades do prédio ou eterna paixão pelo ofício? Viste o Museu da Justiça e tire, você mesmo, suas conclusões.
Serviço
Museu TJPR
Endereço: Praça Nossa Senhora de Salette – Centro Cívico
Horário de Funcionamento: Segunda a Sexta, das 12h às 18h
Telefone: (41) 3200-2000
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