“Prazer, eu sou o Tom, o palhaço perna de pau de Curitiba”. É assim que esta lenda urbana gosta de ser chamada por aqueles que admiram a arte circense de se movimentar em cima de duas hastes de madeira, que dão a sustentação para o restante do corpo.

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Esta figuraça é o Everton Atiense, 50 anos, natural de Porto Alegre e que rodou o Sul do Brasil com apresentações, mas nos últimos anos estabeleceu residência na capital paranaense. Mora em um hotel simples na região central da cidade e para se manter faz serviços pontuais para lojas, festas infantis e alguns eventos. Ah, sem esquecer da principal atividade diária de alegrar crianças e adultos que olham com curiosidade para o gigante de 2,82m de altura. “ Ele é maravilhoso e pela primeira vez vejo em Curitiba um cara deste tamanho. Entrei em choque quando vi”, disse espantada a Brenda Castilho, de 24 anos que pediu uma foto com o Tom.

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O palhaço perna de pau é visto sempre com mochila nas costas, balões que se transformam em animais de estimação para os pequenos fãs e uma cesta com frases motivacionais. “Pega um papel aqui e se for algo legal, eu aceito dar a entrevista”, desafiou à reportagem da Tribuna. Para minha sorte e acreditando no destino, o papel mostrou o caminho: Ouça histórias das outras pessoas e encontre a força e a beleza de seus atos. O bate papo com ele estava acertado.

Antes de dar a entrevista pro Gustavo Marques, o palhaço fez um desafio ao nosso repórter, que se divertiu durante a conversa. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Susto na mãe

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Everton decidiu na adolescência apostar na veia artística. Deixou Porto Alegre e a casa da mãe para aprender técnicas teatrais em Santa Catarina. Em Balneário Camboriú, teve um dos primeiros contatos com a perna de pau. “Frequentei uma escola de teatro e ali grande parte dos alunos tinha a técnica. Eu não era bom naquilo e precisa evoluir para mostrar o meu talento.

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Nisto, a minha vida se altera e retorno para a capital gaúcha e na bagagem, levo as madeiras. Aí estou sozinho na casa da minha mãe, subo na geladeira para calçá-las. Quando percebo, minha mãe chega e se assusta com tudo aquilo que estava acontecendo na cozinha. Aproveito o meu momento de loucura para investir nos treinos e vou para a rua”, relembra com sorriso o palhaço Tom.

Nos parques de Porto Alegre, além de batalhar para melhorar na movimentação em todos os tipos de pisos, Everton renovou o sentimento de alegrar o grande público com aparições em locais públicos já vestido com peruca, nariz de palhaço e roupa colorida. “O alimento do artista é a poesia de rua. A arte está na brincadeira e levo como prioridade a informação. Quero conversar com os outros e mostrar que aqui tem uma pessoa. A perna de pau é uma extensão das minhas pernas. Sinto como um passarinho que transporta sementes de alegria e esperança para todos”, afirmou o palhaço.

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Queda quase terminou a carreira

Deixar de lado o 1,71m de altura para “ganhar” mais de 1 metro não é fácil nem para os experientes. Quedas dificilmente ocorrem no percurso, mas não estão descartadas. “A primeira queda foi muito difícil de superar. Foram dez anos sem usar a perna. É perigoso, pois se cair de lado, pode quebrar o pescoço. De frente, a cabeça é o alvo e pode machucar outra pessoa. É preciso aprender a cair na vida. É adrenalina toda hora. Pior que isto foi uma vez quando um cara colocou a bicicleta dele propositalmente no meio das minhas pernas e não vi. Caí feio, mas o cara quase foi linchado em Santa Catarina. Pura maldade! Trinquei o pulso e cortei o supercílio. No entanto, dali tenho uma imagem linda de auxílio do ser humano. Uma menina veio com um curativo e tinha até uma pomada. Foi fantástico”; relatou Everton.

Dureza nas ruas

Andar nas ruas de Curitiba é um desafio diário para Tom. Além de precisar de toda atenção com a calçada e obstáculos, o palhaço ainda sofre preconceito de alguns pedestres por estar ocupando em tese o mesmo espaço. “Sofro demais com isto como qualquer outro artista na rua. Escuto toda hora alguém falando para eu ir trabalhar, se eu sou aposentado para estar de folga nas esquinas, isto sem citar as ofensas. Tem aquele que reclama quando peço um trocado em troca de uma foto com o filho. Preciso viver e pagar a refeição, a hospedagem, ou seja, como qualquer outra pessoa. “Sempre vai ter aquele que vai te ofender por inveja”, confidenciou o artista.

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Palhaço com orgulho

O palhaço faz a alegria de muitos que circulam pelo Centro da cidade, como Brenda Castilho, que pediu uma foto com Tom e ainda ganhou uma bexiga para a filha. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Tem o lado bom de estar nas ruas. Se tem trabalhadores preocupados com o horário de trabalho, da reclamação do chefe, do colega e de todo o cenário de uma empresa, Everton não tem este problema. Faz o tempo que deseja, conhece novas pessoas e tem como principal aliado, as crianças. “O reconhecimento do artista que está na rua é o sorriso, a troca de informações e também a moedinha. Quando você assiste uma peça de teatro tem o aplauso, mas antes passou na bilheteria. Tem mãe que chega cansada por andar tanto atrás do palhaço da perna de pau. Isto é muito bom também”, ressaltou Tom.

Cenário atual

Curitiba é considerado por alguns artistas renomados como uma cidade que abraça manifestações culturais. Na música, no teatro, na dança e mesmo nas tradicionais ruas do Centro, abnegados da arte precisam de apoio para permanecer interpretando e dando espetáculo à população. No entanto, o palhaço perna de pau Tom, ao invés de pedir apoio municipal ou até mesmo de empresas, critica a postura de alguns companheiros de arte. “O artista de rua não respeita o artista que está na rua, ao lado dele. Eu já fui ameaçado de roubo, de quebrarem minhas pernas por pessoas que estão comigo no mesmo espaço. A própria classe ofende e um artista que não tem argumento é um nada. Ele pode pintar, escrever, falar, mas falta base para alguns. Curitiba, que poderia ser exemplo para outras cidades, está longe disto. Curitiba é carente de cultura de rua”.

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Doações para quem mais precisa

Everton Atiense tem tempo para ajudar quem mais precisa. Faz doação para entidades carentes que auxiliam crianças e idosos nos momentos de dificuldade. “Fraldas, roupas e sapatos são fundamentais. Peço sempre que colaborem e agradeço aquelas pessoas que ajudam de alguma forma. Eu sobrevivo das doações, divulgação de lojas e festas. Sou feliz desta forma e não preciso de mais. Moro em um hotel simples, vivo exposto e honestamente. Meu maior desejo é que todos pensem fora da caixinha e olhem para além do marco. Busque a felicidade com o trabalho, lute sempre e não esqueça da biblioteca, da banquinha de rua, do museu, do teatro, do circo e claro, dos livros. Busque informação para voltar para casa. Eu busco desde quando me conheci como gente”, finalizou o maior palhaço de Curitiba.

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