Quando criança, ela tinha o sonho de ser bailarina. E foi seguindo esse sonho que saiu de casa aos 16 anos. Hoje, aos 74, Regina Vogue, que não virou o que planejava, mas sim uma atriz, percebe que se tornou muito mais do que esperava em seus sonhos. Seu nome se transformou em uma das grandes referências do teatro curitibano e sua incansável busca por ser sempre mais lhe rendeu a conquista de um sonho, que nem nos seus maiores planos imaginava: um teatro. Levando seu nome, o Ebanx Regina Vogue comemorou, neste mês, 15 anos.
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Podemos dizer que a comemoração do aniversário do teatro, que leva o nome de uma das atrizes mais representativas da capital paranaense, é também a celebração de uma carreira de quase 60 anos. Isso porque mesmo com tanto tempo de experiência, só depois de já ter mais de 40 anos de história que conseguiu tamanho reconhecimento numa profissão que nunca foi tão reconhecida como deveria.
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Embora a idade, Regina está forte e com muita saúde. À Tribuna ela lembrou de quando saiu de casa, fugida dos pais. “Morávamos em Caçador, Santa Catarina, e eu resolvi sair para tentar ser o que eu sonhava. Sempre fui muito movida pelos meus sonhos, nunca desisti deles”, disse a atriz, que primeiro morou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e depois se mudou para Curitiba, onde mora há 40 anos. “Escolhi Curitiba para ser a minha cidade e, aos poucos, percebi que Curitiba também me escolheu”.
Regina conta que quando se mudou para a capital paranaense já era atriz e tinha dois filhos, Adriano e Maurício Vogue, que sempre foram seus fieis escudeiros. “Já era atriz, mas tinha em mente a consciência de que, se eu quisesse chegar a algum lugar, teria que começar do zero. Então tive várias profissões diferentes antes de finalmente, aos poucos, conseguir me firmar. Trabalhei até como faxineira no antigo Teatro da Classe, que hoje é o Teatro José Maria Santos. Eu sabia que ia enfrentar tudo isso para um dia chegar lá”.
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Muitas peças e a parceria
Aos poucos, Regina foi construindo sua história no teatro curitibano e firmando território. “Sempre gostei de peças infantis, então eu procurava me dedicar também a isso. Mas sou daquela atriz que gosta de me reciclar, então eu nunca fiquei parada num assunto só e sempre que pegava um tema, ainda que já fosse conhecido, transformava esse tema e criava a minha visão daquela peça”, explicou a atriz.
Desde sempre, ainda que em alguns momentos aos trancos e barrancos, Regina Vogue nunca desistiu do teatro. Numa de suas releituras, ao fim da peça um homem lhe abordou e elogiou. “Disse que ele viajava muito e que minha peça não perdia em nada para o que ele via lá fora. Eu me surpreendi, o agradeci e ele foi embora, mas só depois que ele se foi que eu soube que ele era, na verdade, a pessoa que eu mais procurava naquela época”, lembrou.
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O homem que elogiara Regina se tratava de Miguel Krigsner, empresário brasileiro nascido na Bolívia e fundador do Boticário. “O que eu sempre busquei era alguém que me apoiasse e me ajudasse na criação do meu sonho, que era montar um pequeno teatro. Porque sempre estive com peças em cartaz, mas o tempo era curto e quando a peça se tornava conhecida já tínhamos que sair. Precisava de um teatro em que minhas peças pudessem ficar pelo menos seis meses em exibição, mas também tinha que ter alguém que me ajudasse porque não tinha condição nenhuma para isso”.
Sonho vira realidade
Após conhecer Miguel, Regina resolveu procurá-lo e foi aí que sua vida começou a ganhar os rumos que sempre sonhou. “Me recebeu prontamente e, de imediato, disse que não tinha como conseguir um espaço para mim naquele momento, mas me conseguiu dinheiro para que eu financiasse quase toda a peça que eu planejava. Isso me deu um gás na época”, comentou a atriz. Mal sabia ela que Miguel Krigsner planejava ali a realização do sonho de uma vida inteira da atriz dos roteiros teatrais.
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Dias depois, recebeu uma ligação e era dele, o dono do Boticário. “Me chamou para uma conversa e quando cheguei já tinha até a maquete do teatro pronta. Ele me perguntou: ‘o que acha de um teatro dentro do Shopping Estação?’ e eu não tive nem reação. Quando perguntei qual seria o nome, ele de imediato me disse: ‘o teu’. Ainda bem que eu nunca tive problemas de saúde, porque naquele momento eu fui ao céu e voltei, achei que era brincadeira o que estava acontecendo, mas não era”.
Regina não só ganhou um teatro, como também teve a chance de acompanhar toda a construção de seu sonho, do começo ao fim. “Depois de já ter passado por muita coisa, muita dificuldade e ter faltado dinheiro até para o aluguel de casa, eu via o meu sonho acontecer. E o mais emocionante: pude literalmente ajudar a construir esse meu sonho”, lembrou Regina. Desde então, ganhou vida o Teatro Regina Vogue, um dos mais importantes da capital paranaense, com capacidade para 331 pessoas.
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Falta incentivo
Com quase 60 anos de profissão, Regina Vogue já tem um prêmio de melhor atriz, três como produtora e é uma das atrizes que mais pode falar sobre o quanto o teatro pode mudar a vida de uma pessoa. Mas segundo ela, falta valorização da arte. “Falta incentivo mesmo, até entre os próprios artistas, que muitas vezes formam grupos e não vão ver peças de ninguém que não seja do círculo deles. Há quem diga que eu estou em todas as peças, mas eu realmente busco estar, porque além de incentivar a arte, eu procuro sempre me reciclar. Gosto de aprender coisa nova, porque se não eu fico para trás”.
Segundo Regina, o incentivo ao teatro deveria começar em casa. “Porque as pessoas frequentam cinema, mas no teatro você precisa batalhar para trazer público. As pessoas deixam de assistir peças maravilhosas só porque, na maioria das vezes, não tem no elenco algum famoso. Isso é triste. Nós deveríamos apoiar, ir atrás de boas peças. As pessoas deveriam se permitir se apaixonar, assistir uma boa história, porque o teatro é vida, o teatro salva e move. A arte de modo geral te permite ter outro entendimento da vida”.
A atriz, que no passado recebeu a negativa dos pais quando disse que queria ser artista e, por isso, fugiu de casa, hoje já até perdeu as contas de quantas peças fez. Mesmo assim, Regina afirma não entender pais que, em pleno 2019, seguram seus filhos. “Não consigo entender mesmo os pais que não querem que seus filhos jovens sejam artistas, porque hoje nós temos inúmeras facilidades, faculdades, jeitos de formação. O teatro é maravilhoso e pode mudar a cabeça de um jovem e permite que a gente viva outras vidas, nos obriga a ler, a prestar atenção”.
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Para ela, estar com seu teatro em pé até hoje continua sendo a materialização de um sonho. “Mas é como se estivéssemos sempre cuidando de uma criança, que precisa ser cuidada. Essa é a minha filosofia de vida, não encontrar dificuldade em fazer aquilo que eu amo. Porque dificuldade sempre vai existir, hoje temos muita desigualdade, mas temos que ir atrás, valorizar o que temos e aos poucos conseguirmos mais”, completou Regina.
Em 2018, o Teatro Regina Vogue ganhou a parceria do EBANX, uma empresa de Curitiba responsável por métodos de pagamentos de grandes sites de e-commerce do mundo todo. Segundo Regina, essa parceria se fez importante porque sem ela o teatro poderia sim fechar. “Sem parcerias a gente não vive. O EBANX chegou na hora e veio para nos salvar, evitar que fechássemos por conta da crise. Mas junto disso continuamos trabalhando. O meu manifesto é continuar trabalhando. É assim que eu digo que não vão me derrubar. O artista que é artista de verdade toca em frente, com dinheiro ou sem dinheiro, porque ele vive a arte e a arte o faz seguir em frente. Sempre busquei. Diante das dificuldades, eu sempre procurei saídas”.
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