A história do cabeleireiro Wagner Moura, 32 anos é daquelas que inspiram as pessoas a espalharem o bem. No mundo da beleza, onde a concorrência entre os profissionais é grande e abre-se pouco (ou quase nenhum) espaço para crescimento, Wagner decidiu abrir a sua bancada para ajudar outros profissionais a crescerem como ele, através de ensinamentos e cursos. O cabeleireiro veio de uma infância muito pobre, num casebre alugado à beira do rio. Correu atrás do seu sonho e hoje é o cabeleireiro mais disputado do salão Torriton, do shopping Pátio Batel, em Curitiba.
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Wagner não passa mais as necessidades e a violência que viveu na infância. Sua mãe, Maristela, teve dois filhos (e anos depois uma moça, no segundo casamento). Sem a ajuda do pai das crianças, foi batalhar a vida como pode. Ela foi morar com o pai, o irmão e os dois filhos num barraco à beira do Canal Belém, no Boqueirão, e foi trabalhar de diarista. Mas diante de uma violência em casa, ela saiu e foi morar com outra irmã na Vila Pantanal, no Boqueirão, numa comunidade tão ou mais carente que a anterior.
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Antes de sair para o trabalho, muito cedo da manhã, Maristela deixava o menino sentado à beira de uma lanchonete da região, que abria só lá pelas 10h. A dona então recolhia o menino neste horário, dava um lanche (que a diarista só conseguia pagar no fim do mês) e ele ficava por ali, esperando a hora de ir pra aula. No fim do dia, ele saía da escola, encontrava com a mãe e ambos iam juntos para casa. E com a boa educação que a mãe deu, Wagner conseguiu ficar longe de toda a violência que via ao seu redor. “Tenho amigos que se envolveram com as drogas, alcoolismo, outros foram presos, um por latrocínio, outros morreram assassinados. Mas minha mãe sempre nos orientou muito, nos explicava tudo”, diz o cabeleireiro, agradecido.
Novo rumo
Passado algum tempo, Maristela arrumou um companheiro, que alugou uma casa no Uberaba para morarem juntos. “Eu tinha uns 9 pra 10 anos. Aí nossa vida começou a melhorar. Meu padrasto trabalhava na Electrolux. Quando eu completei 18 anos, ele conseguiu uma entrevista de emprego pra mim e eu entrei na vaga”, diz o cabeleireiro, que se deu bem no setor e passou por outras empresas. Aos 24 anos, Wagner ganhava um bom salário na Bosch, cerca de R$ 4.500 ao mês.
Mas um dia chegou em casa e confidenciou à mãe que estava cansado, infeliz, estressado e que achava muito monótono passar o dia inteiro montando peças. Sempre muito vaidoso, inspirou-se em dois amigos cabeleireiros e disse que queria seguir esta profissão. Wagner achou que a mãe o chamaria de louco. Mas se surpreendeu quando Maristela, que um dia já foi cabeleireira e Wagner tinha uma vaga lembrança dela cortando cabelos, o apoiou. Então ele pegou o acerto trabalhista, fez cursos e se atirou num emprego de R$ 600 por mês num salão. Rapidamente ele aprendeu muito, cresceu e chamou atenção de clientes e donos de salão.
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“Hoje sou muito feliz, amo o que faço. Adoro servir as pessoas, mexer com a autoestima delas. Me sinto realizado”, contou o cabeleireiro, que rapidamente ultrapassou o salário que ganhava na indústria. Depois de trabalhar numa grande rede de beleza, foi convidado a trabalhar no Torriton, onde há quatro anos e sete meses começou com duas cadeiras. Foi conquistando clientes, aumentando a equipe, até que no fim do ano passado ganhou um ambiente exclusivo seu, com oito cadeiras e uma equipe de seis assistentes, uma maquiadora e uma secretária.
Fazendo o bem
A caminhada do cabeleireiro Wagner Moura até chegar ao sucesso profissional foi árdua e sem muita ajuda. Mas ele resolveu ser grato às oportunidades que a vida lhe deu, retribuir e tornar a caminhada mais fácil para quem trabalha com ele. Diferente do que se vê nos salões de beleza, decidiu por conta própria capacitar sua equipe de assistentes, para que possam ganhar asas e voar mais alto, pela simples vontade de ver pessoas crescerem e serem felizes.
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Wagner conta que quando ainda trabalhava na indústria, com um bom salário, comprava coisas caríssimas, como tênis de R$ 1.500 por exemplo, só para matar a vontade das coisas que não teve na infância e adolescência. Quando foi trabalhar como cabeleireiro, em pouco tempo cresceu e superou o antigo salário. Hoje ele mora numa casa confortável, próximo do shopping em que trabalha, casou-se e pode comprar o que deseja. “Eu sempre sonhei em dirigir uma Mercedes. Mas hoje, que eu posso, passei a analisar a real importância das coisas. Não preciso de um carro caro. Moro perto do trabalho, vou e volto a pé. Não preciso da roupa da marca mais cara. Há outras coisas importantes na vida”, diz o cabeleireiro.
Logo ele também passou a questionar essa relação com o dinheiro na vida profissional. “Na maioria das bancadas, os cabeleireiros pagam muito mal os assistentes. Mesmo fora do mundo da beleza, quem tem dinheiro tenta explorar quem não tem. Mas eu não coloco mais o dinheiro em primeiro lugar e tento passar isso pra equipe. Dentro desse ramo da beleza, existe uma briga de egos muito grande entre os profissionais. Não estão interessados em ver seus assistentes crescerem, querem ser estrelas e ganhar dinheiro. Eu penso diferente, tento plantar a semente do crescimento profissional e pessoal em cada um. Ensino, estimulo, tento inspirar, facilitar para eles o caminho que pra mim foi difícil. Se os outros cabeleireiros têm inveja de mim eu não sei. Mas eu não tenho de ninguém, porque tento manter meu foco no trabalho, não perco tempo olhando pro lado, tendo inveja. Tento ajudar as pessoas o máximo que posso. Passo meu conhecimento para meus assistentes e para qualquer profissional que me pedir”, diz o cabeleireiro, que decidiu bonificar melhor a sua equipe de trabalho e dar cursos mensais.
Num dos últimos cursos que Wagner deu, quatro pessoas que não são da sua equipe participaram, incluindo o primeiro patrão que ele teve em salão e que foi se atualizar. “E sobre os clientes, tem alguns que eu é que deveria pagar por sentarem na minha cadeira, porque eles me inspiram,”, diz o cabeleireiro.
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Remuneração
Evelyn Cardoso, 19 anos, é assistente de Wagner há oito meses. Ela trabalhava como vendedora, mas odiava o que fazia e decidiu trabalhar em salão de beleza. No primeiro emprego do ramo, diz que foi muito humilhada. Em outro, passava o dia sem fazer nada. “A cabeleireira não me passava serviço, só ela queria aparecer para as clientes, fazer tudo. Ninguém podia brilhar mais que ela. Eu moro em Colombo, quase na divisa com Bocaiúva do Sul. O salário de R$ 400 mal pagava o ônibus e o almoço. Já estava bem desanimada, em depressão, querendo mudar de ramo”, diz a jovem, que viu um anúncio de Wagner procurando assistentes e decidiu dar uma “última chance” ao mundo da beleza.
A jovem entrou na vaga sabendo apenas lavar cabelos e muito mal fazer uma escova. Em oito meses, aprendeu diversos novos serviços e, ainda no início do emprego, ganhou R$ 600 em apenas uma semana de trabalho.
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Quase lá
Enquanto Evelyn está só começando, Solainy Machado, 24 anos, a “Sol”, já é assistente de Wagner há dois anos. Wagner faz os cortes e combinações de colorações e delega aos assistentes os demais serviços, como escovas, colorações, hidratações, etc. Sol já sabe praticamente tudo, conquistou muitas clientes e um ótimo padrão salarial, a ponto de já ter a sua própria assistente.
“Eu já trabalhava em salão. Mas passei um tempo fora deste ramo e, quando voltei, precisei me atualizar. O Wagner me atualizou e nos dá oportunidade de crescer. Exige apenas que a gente atenda bem a cliente e seja feliz com o que faz”, diz Sol. Ela fala que, no futuro, enxerga Wagner abrindo o próprio salão e ela trabalhando junto, comandando a sua própria equipe ou gerenciando o negócio.
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