Antes vilã, internet hoje ajuda pais e mães na educação dos filhos

Pais e mães são julgados o tempo todo. E atire a primeira pedra quem nunca criticou algum deles que deu o celular ligado num desenho, para manter uma criança quieta num ambiente público, ou em casa, para conseguir dar conta do serviço doméstico. Criticada por muitos, a internet agregou muitos conteúdos nos últimos anos e hoje pode ser um grande aliado dos pais, pois além de entreter, pode educar e ensinar coisas positivas. Como? Por canais do YouTube, sites ou mesmo aplicativos.

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A administradora Dayana Cherbiski, 28 anos, começou a dar o celular para a filha, Maria Luiza (hoje com 2 anos e 2 meses), quando a criança tinha apenas 10 meses. ‘Senti essa necessidade porque eu não conseguia dar conta de tudo, dela, do trabalho, da casa‘, diz a administradora. Mas Dayana foi estudar sobre o assunto e encontrou uma pesquisa de uma universidade americana, para aprender formas produtivas de expor a criança à internet.

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Então Dayana passou a limitar o tempo de uso total do dia em uma hora e meia, e também escolheu desenhos construtivos para Maria Luiza. O marido de Dayane, Allan Brandalize, 32 anos, é dono de uma escola de idiomas. Então além da menina aprender sobre cores, números, animais, culturas de outros países, os pais optaram por colocar vídeos em outros três idiomas, além do português. Hoje, Maria Luiza consegue perfeitamente entender um desenho da Masha e Urso (seu preferido) em inglês ou russo.

‘A pesquisa mostra que a criança que tem contato com idiomas ainda na primeira infância, mesmo que não os fale, terá mais facilidade em aprendê-los no futuro. De vez em quando ela confunde um pouco, mas vimos na pesquisa que isso é normal nesta fase. Eu dou comandos em português, o pai em inglês, e ela entende igual‘, explica Dayane, que limita o uso da internet até 45 minutos antes de dormir, para não deixar a criança agitada. ‘Deixo ela ver enquanto cozinho ou coloco uma o roupa na máquina. Mas é um olho no arroz e outro na Malu‘, relata a mãe.

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Além de ajudar na educação da filha, o celular teve outro benefício na vida da família. Ele ajuda a acalmar e a entreter as crianças, possibilitando que os pais tenham uma vida social mais ‘normal‘. ‘Encontramos na internet uma forma de jantar com amigos ou a família, enquanto a Maria Luiza fica entretida com os desenhos. Uso a internet como aliada, não como vilã‘, diz a mãe.

A administradora conta que por diversas vezes já foi recriminada em ambientes públicos, por ter dado o celular para a filha. ‘No começo, eu deixava as pessoas falarem. Hoje em dia, eu explico como que usamos a internet de forma produtiva‘, diz ela. ‘A tecnologia está na vida de todo mundo, não tem como lutar contra isso. Mas tem que dosar‘, acrescentou. Segundo Allan, Maria Luiza também corre, anda de patinete, brinca com água, bonecas, ursinho, adora brinquedos de encaixar, anda descalço, mexe com massinha e slime, pintura, já correu na chuva, tudo que uma criança saudável precisa fazer.

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Natural e tecnológico

Yuri Lima, gerente de tecnologia educacional da Editora Positivo, é pai de duas crianças, de três e cinco anos. Educado na pedagogia Waldorf (que prega o naturalismo), com os filhos ele teve que buscar o meio termo entre o natural e o tecnológico. ‘As crianças já são nativas digitais. Você não pode privá-las da tecnologia, pois precisarão se encaixar no mercado de trabalho no futuro. O segredo é dosar‘, analisa Yuri, que notou um crescimento de 70% no uso de tecnologia em sala de aula, nas escolas parceiras da editora.

‘Tem escolas hoje que não fazem mais prova no papel. É tudo digital. A correção é imediata e o computador ajuda a cruzar diversos dados, entre eles pontos fortes e fraquezas da turma, para que o professor trabalhe nisto‘, explica o pai e especialista. Yuri também concorda que a internet, desde que bem dosada, é um aliado dos pais. Na hora de ir a um restaurante, ele busca locais que tenham brinquedos ou atividades para os pequenos. Quando não tem, leva brinquedos de casa, ou, como última opção, dá a internet.

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O especialista mostra que há muitos aplicativos próprios para crianças ou que oferecem filtros para controle dos pais. Mas como nem todos os pais têm tempo de ficar configurando, o jeito é monitorar, trazer os vídeos pra TV da sala (onde todos podem estar juntos) e estipular o tempo máximo. ‘Esses vídeos que as crianças ficam abrindo presentes e testando o brinquedo, pela nossa filosofia, não permitimos. Esses que a criança fica brincando de massinha, por exemplo, também não, pois prefiro eu brincar de massinha com meus filhos‘, defende o pai.

Questão de equilíbrio

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Dayana encontrou na tecnologia uma aliada para ajudá-la a dar conta da educação do pequeno e das tarefas diárias. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

‘Demonizada‘ por psicólogos e pedagogos, hoje já é possível ver a internet como aliada, mas não como única fonte de informação e formação. ‘A internet pode se tornar um problema, dependendo do tipo de uso que se faz. A criança não tem controle sobre o que está vendo. Quem tem esse conhecimento é o adulto. Então seja para crianças ou adolescentes, vira problema quando não tem monitoramento‘, analisa a psicóloga Talita Quinsler Veloso, coordenadora do Núcleo de Infância e Juventude, do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.

Conforme Talita, os adultos reclamam que as crianças acessam a internet e ficam sabendo de muita coisa por ela. ‘A questão é que quando elas vêm perguntar alguma coisa e a gente não responde, se o adulto não tem segurança para passar uma informação, elas vão procurar a resposta com outras pessoas, em outros meios. Só que a internet não substitui o ensinamento de um adulto. O que ela pesquisa na internet nem sempre condiz com a realidade. Portanto, cabe ao adulto monitorar e explicar se o que ela está vendo está certo ou errado‘, diz Talita, mostrando o quanto os adultos precisam estar mais ‘sintonizados‘ com as crianças.

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Corpo a corpo

Os amigos da internet não substituem o contato pessoal. Primeiro que o uso da internet para acalmar a criança, em todas as situações que a gente quer que ela fique quieta, não deve ser uma regra, a única estratégia, diz a especialista. ‘Nos jantares de família é bem comum os pais colocarem o celular para as crianças se aquietarem ou comerem. Mas o que todos precisam entender é que criança é criança, não um adulto, que sabe comer direitinho e se comportar. Elas estão aprendendo‘.

De acordo com Talita, quando os pais dão um celular com esse objetivo, privam ela de viver aquela realidade e a criança deixa de conhecer melhor os tios, de brincar com os primos, de saber quem são os amigos do pai e da mãe. ‘Busque fazer com que os pequenos tenham convivência com outras crianças, leve outras atividades de lazer para distraí-los. O mesmo vale para o lazer. A internet tem que estar equilibrada com o brincar, estudar, se alimentar, descansar, dormir. A internet é uma ferramenta. Mas não deve ser a única‘, analisa, frisando ainda que a exposição excessiva à tecnologia pode ser considerada uma violação de direitos da criança, porque a priva de várias outras áreas do desenvolvimento.

Mas por quanto tempo?

Quanto ao limite de tempo que os pais devem permitir a criança a usar a internet, seja por meio de pesquisas, vídeos ou aplicativos, isso é muito individual, varia de como cada criança responde aos estímulos. ‘É uma estratégia para o adulto ter um tempo, mas tem que observar as emoções que a criança expressa. Os adultos correm o dia todo, sempre estão cheios de coisas na cabeça, mas não devem substituir a atenção da criança. A gente não pode reclamar que a criança está viciada na internet se a gente mesmo reproduz aquele comportamento, não sai das redes, está o tempo todo com o celular na mão. Não cobre da criança aquilo que você não é exemplo. Aí vai ser mais trabalhoso tirar a internet da criança‘, analisa, mostrando que a criança que pede e procura o aparelho a todo instante, por qualquer motivo, em qualquer ambiente que vá, é um sinal de vício.

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Informação x formação

A psicóloga ressalta que a internet é fonte de informação, mas não de formação. O conhecimento é adquirido a partir de uma vivência. E na internet, a criança é superestimulada, adquire muita informação, mas não consolida nenhuma delas, porque não as vivencia. As crianças são curiosas e estão sempre perguntando sobre tudo, a todo instante. Para o adulto, isto é cansativo, até porque os adultos não sabem sobre tudo. Mas se a criança pergunta e o adulto não fala, a criança deixa de conversar com o adulto e vai buscar o conhecimento em outro lugar. ‘E isso não pode acontecer. O porto seguro da criança tem que ser sempre o seu adulto responsável. Não que a internet não seja válida. Afinal, tem muita coisa bacana nela. Mas sempre tem que questionar a quem a internet está respondendo positivamente: aos pais ou à criança?‘, alerta a psicóloga.

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