Com promessa de dinheiro fácil, curitibanos caem em golpe da bolsa; prejuízo chega a R$ 2 milhões

Polícia Federal investiga golpe da pirâmide. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

É com essa promessa, de um lucro rápido e grande, que muitas vítimas entraram pelo cano investindo na Wolf Trade Club

“Eu os defino como estelionatários e enganadores da boa-fé. Eles representam um risco para a sociedade e milhões de reais foram desviados”, relatou Gilvan Lucas Dutra, empresário, que se diz enganado por jovens que prometiam valorizar no mínimo 30% o valor aplicado em corretagem de valores. A polícia classificou a ocorrência como o golpe da “pirâmide financeira”. A empresa acusada é a WTI Administradora de Bens (Wolf Trade Club), com sede no bairro Água Verde, em Curitiba. Com seis sócios esbanjando simpatia, conhecimento da bolsa de valores e posses financeiras, a teia envolveu familiares, amigos próximos e até a participação de um pastor de uma igreja evangélica de São José dos Pinhais, na região Metropolitana de Curitiba.

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A reportagem da Tribuna teve acesso a contratos, mensagens de texto e áudios que comprovam que famílias perderam a economia de anos e agora buscam justiça para reaver o que foi investido na empresa. “Perdi todo o meu dinheiro de uma rescisão trabalhista. No total, foram R$ 30 mil de cinco anos de trabalho, levantando cedo e com o propósito de ajudar meu filho que está em uma missão religiosa. Ele está muito bem lá, mas poderia estar melhor”, relatou Thais Gonçalves, vítima da Wolf Trade Club.

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Na Justiça Civil, são 36 processos em andamento e o valor devido aos clientes, seja por descumprimento de contrato, danos morais e materiais, corretagem, inadimplência, ultrapassa R$ 2 milhões de reais.

O golpe

O contrato de aplicação de investimento assinado e reconhecido em cartório prevê que o retorno do dinheiro aos clientes da empresa seria equivalente a uma parcela de 30% do valor investido em um dos planos de compensação. Os planos eram divididos em categorias Silver, Single, Medium e Premium, a diferenciação se deve ao valor inicial que será investido.

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Na categoria Silver, o investimento de no mínimo R$ 10 mil chegaria em 3 meses a um valor próximo a R$ 13 mil, situação que em outros investimentos dificilmente alcançaria. “Eu queria investir em algo e a poupança não está rendendo. Conheci a empresa Wolf por um amigo do meu filho, que mostrou o lucro de se investir com eles. Fiz o primeiro investimento em dezembro esperando receber em fevereiro. Fiz o segundo investimento e não recebi nada até hoje”, ressaltou Thais Gonçalves, que hoje busca uma nova oportunidade de trabalho.

A empresa foi fundada em 2016 e desde então utiliza estratégias de angariar clientes que, em sua grande maioria, são conhecidos dos operadores, também denominados de traders. Estas pessoas buscam dinheiro em curto prazo e usam a volatilidade da bolsa de valores para movimentar a renda da clientela. Estes operadores também usam a relação íntima da própria família para fazer com que o negócio continue e eles naturalmente subam na pirâmide.

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“Eu entrei depois de um contato com meu sobrinho que trabalha com eles. Eu sempre fui crítico, mas meus familiares estavam recebendo até um certo momento. Resolvi experimentar e comigo deu certo. Eu investi R$ 30 mil e quatro meses depois tinha R$ 51 mil na minha conta. Isto foi maravilhoso, incrível. Investi mais e aí perdi quase R$ 300 mil reais. Juntando de todos da minha família, o rombo passa de R$ 600 mil”, ressaltou Gilvan Lucas.

O pastor

Além dos operadores serem pessoas próximas aos clientes e demonstrarem que o enriquecimento rápido seria bem vantajoso, uma vítima relatou para a reportagem que o Pastor Edson da Silva, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, de São José dos Pinhais, também teria indicado algumas pessoas para a Wolf Trade. “Tem pais que estão juntos nisto e tem até o Pastor Edson envolvido. Quando se fala em Igreja, a fé caminha ao lado. Querendo ou não, a gente acredita. Infelizmente o pastor envolveu a Igreja inteira e tinha conhecimento das condições financeiras das pessoas, sabia o valor mensal dos fiéis, quanto podia investir, se era aposentado ou não. Mexeu com a dignidade e a fé da gente e isto foi muito chato”, confidenciou uma mulher que pediu para não ser identificada.

A informação da testemunha ouvida pela reportagem dá conta de que o pastor pertencia à Assembleia de Deus. A reportagem entrou em contato telefônico com a sede da entidade em SJP, e nova fonte ouvida de forma anônima confirmou que o pastor realizava “alguns serviços para a igreja”.

No entanto, no final da tarde desta segunda-feira (7), advogados da Assembleia de Deus enviaram uma notificação à reportagem dizendo que “o Sr. EDSON DA SILVA, não é membro da Assembleia de Deus em São José dos Pinhais, sequer pastor vinculado a esta igreja, conforme veiculado na matéria”, desmentindo a fonte ouvida pela reportagem na última quarta-feira (2).

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Procurado pela Tribuna, o Pastor Edson desmentiu que teria indicado pessoas para a empresa e naturalmente não teria ganho comissão para tal. A comissão de indicação é de 10% do total investido pelo novo sócio.

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Foto: Pixabay.

Vida de luxo

Sócios da empresa esbanjavam dinheiro e ostentavam nas redes sociais, com roupas, carros, viagens e apartamentos

Como parte de demonstrar o enriquecimento rápido e fácil, os 6 acionistas da empresa esbanjavam poderio financeiro. No dia a dia e nas redes sociais, roupas da moda, ternos bem alinhados, carros importados, coberturas em Balneário Camboriú e vídeos ostentando uma vida de sonhos.

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Lucas de Mello Bubniak (Presidente e fundador) e os sócios Caique Marques Fontana (Diretor de Marketing), Gabriel Maximiano Picancio (Diretor de Tecnologia), Hugo Felix da Silva (Vice Diretor de Expansão), Henrique Oldair Mendes da Silva (Diretor de Expansão) e Gabriel de Mello Graminho (Vice-Presidente e Diretor de Operações) arrecadavam um bom volume de dinheiro e conseguiram movimentar o ciclo em que todos estavam satisfeitos. “Eles faziam palestras, apresentações e mostravam um padrão altíssimo de vida. Estratégia do golpe! Eram demonstrações de luxo e percebemos isto depois”, disse o empresário Gilvan Lucas.

No entanto, no começo de 2019, os problemas começaram a bater na porta e a briga pelo poder na Wolf aumentou. Desconfiança, ego e cobranças de clientes insatisfeitos provocaram um “racha” na direção e os calotes aumentaram. Em abril, a Polícia Civil recebeu os primeiros casos no 2º Distrito e as investigações transformaram a vida destes jovens que perceberam que podem ser presos por estelionato e principalmente por não cumprimento de contrato que foi assinado e reconhecido pela empresa/sócios.

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Polícia Federal

Com as investigações em andamento e depoimentos de testemunhas, a Polícia Civil encaminhou para a Polícia Federal um requerimento em que pede para que o órgão federal assuma o caso. Deve-se a isto a suspeita que o dinheiro das vítimas tenha deixado o Estado do Paraná com destino a outras cidades do Brasil e até outros países como Argentina, México e Alemanha. Procurada pela reportagem da Tribuna, a PF informou que não se manifesta a eventuais investigações em andamento.

Com os processos Criminal e Cível, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Economia suspendeu desde o dia 9 de julho de 2019, qualquer tipo de atuação da empresa e, naturalmente, de todos os sócios em território nacional. A CVM verificou indícios de que os envolvidos não obedeciam aos requisitos legais ou regulamentares para administração de carteiras de valores mobiliários. A Comissão ainda alerta que o não cumprimento da suspensão acarretará em multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Resposta dos envolvidos!

O presidente da empresa, Lucas Bubniak, alega que um golpe afetou o investimento e assim não pôde honrar os compromissos com os clientes. “Sofremos um golpe e tivemos dificuldade para recompor. O racha com os outros sócios ocorreu devido a propósitos diferentes e improbidade administrativa. Denunciei os responsáveis pelos valores e entreguei para a Polícia Federal os nomes, transações efetuadas, conversas e vídeos gravados, que demonstram os detalhes do acontecido”, ressaltou Bubniak.

Quanto aos valores devidos, Bubniak acredita que poderá ressarcir aos poucos a clientela. “ Projetos foram desenvolvidos na área de tecnologia e a partir dos recursos que iremos obter foi criado um fundo para reparar a todos aqueles que sofreram juntos à empresa neste processo”, ressaltou o Presidente da Wolf. Os outros sócios citados não foram encontrados ou preferiram não comentar sobre o assunto.

Novas promessas de pagamentos seguem sendo feitas semanalmente. Dinheiro em moeda virtual, prazos de 90 dias para depósitos parcelados e críticas abertas em rede social contra os antigos parceiros são estratégias para manter a relação e mostrar transparência ao grande público.

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