Um olhar ávido por eternizar em imagens os instantes de beleza da natureza, seja diante de um passo de dança ou do movimento de um pássaro. Essa inspiração permanente por registrar a vida fez do subtenente da Polícia Militar reformado, fotógrafo e jornalista Nelson Zeglin, 66 anos, um colecionador de memórias. Tanto que dentre a série de itens preservados por ele, não há como ignorar em meio a tantas fotos de ballet, grupos de dança folclórica e aves, a atenção dedicada aos quase 80 mil negativos fichados e organizados em ordem cronológica.

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Esse material foi reunido somente do que ele produziu fora da extensa jornada de trabalho que marcou boa parte da sua vida. De família humilde, com nove anos começou a trabalhar vendendo maria-mole para ajudar no orçamento de casa. Aos 12 anos, ele já tinha carteira assinada e trabalhava como cobrador, e com 18 anos ingressou na Polícia Militar. Foi lá, que teve a oportunidade de cursar fotografia no Instituto Yatê, em 1969, e depois se graduar em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“Foi por pura curiosidade que aprendi fotografia e me deparei com uma profissão, a ponto da foto me render o dobro do meu salário na polícia, já que era chamado para registrar uma série de festas e eventos”, lembra.

Por três anos, ele trabalhou durante a noite no departamento de fotomecânica da Tribuna. “O trabalho era interno. Como fotógrafo eu trabalhava na folga do jornal e da polícia”, acrescenta. Não foram raras as vezes que Nelson improvisou nas pilhas de sobras de jornal o lugar de dormir, para no dia seguinte seguir direto para a aula na faculdade.

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E mesmo assim, o interesse por captar o instante mais perfeito de um movimento, com câmeras analógicas, levou Nelson a acompanhar por diversas temporadas ensaios dos grupos que fotografava para decorar cada coreografia. O espetáculo Cosmos, da extinta escola de dança Cláudia Greco, evidencia a busca pelo instante máximo de cada apresentação e as limitações tecnológicas. Ele levou duas temporadas para conseguir captar o momento em que todos os bailarinos saíam do chão na coreografia. “O que sempre me fascinou nisso tudo é que o olhar particular de cada fotógrafo é único e independe da câmera que se utiliza. A mim, sempre importou mais priorizar o movimento, sobre o risco de granular a foto, do que a qualidade técnica da imagem”.

Mapas de família

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A mesma minúcia com as fotos é percebida em toda a documentação arquivada por ele para organizar os chamados mapas de família, um trabalho de genealogia que teve início com a produção do livro “Casata Longo”, que retratou cinco ramificações distintas do mesmo sobrenome. A obra foi organizada em parceria com a companheira de toda uma vida, a pedagoga Neida Longo Zeglin, com quem Nelson é casado há 36 anos.

“Foi para atender a um pedido do tio da minha esposa, Vitório Ernesto Longo, lá pelo ano de 1986, que começamos a organizar a genealogia do sobrenome Longo”, conta.
O trabalho só foi concluído 18 anos depois, em 2004. “Viajamos pelo país em busca de informações, já que tem Longo até no Amazonas. Cheguei a formar calo no dedo de tanto preencher questionários em encontros das famílias Longo, para conseguir trazer os dados mais corretos possíveis para o trabalho. Pena que o tio dela não viveu para ver a obra pronta”, comenta.

Esse trabalho transformou o casal em uma referência para diferentes gerações que, principalmente nos encontros organizados a cada dois anos, consultam Nelson e Neide para descobrir o parentesco. “É comum chegarem perguntando para nós de quem eles são parentes diretos”.

Um cuidado que gerou polêmica na época de confecção da obra foi mostrar os sobrenomes de solteira das esposas, já que com o casamento isso se perdia, e um braço da árvore genealógica era ignorado. “Lá na frente isso complica, pois quanta informação deixamos de ter sobre nossas origens, quem foram os trisavôs e tetravôs e toda a história que conduziu a família”, defende.