Jogaram até um gato no telão, o Robocop veio dos Estados Unidos para passar algum tempo aqui e o padre entrava escondido no salão. Estas e outras grandes histórias marcam os 100 anos do Cine Morgenau, completados nesta segunda-feira (19), em Curitiba. O tradicional cinema entra no centenário valorizando a paixão da “Sétima Arte” e o valor das famílias que idealizaram um sonho que virou realidade na vida de curitibanos de várias gerações.

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O início de tudo foi em 1919, quando Bernardo Quickstedt teve a ideia de colocar algumas cadeiras e um projetor em um salão na Sociedade Morgenau. O objetivo era movimentar a comunidade nos dias em que o clube não tinha os tradicionais bailes que levavam a sociedade curitibana para a Avenida Souza Naves, no Bairro Cristo Rei. O fascínio pelos filmes e o glamour de estar em um tradicional ponto de encontro da cidade já mostravam que o caminho seria positivo para os apoiadores desta causa.

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Na década de 20 e o Cine Morgenau ganhou notoriedade ao virar ponto de encontro, de influência e até de status de quem o frequentava. Para entrar no local, o cliente tinha que estar alinhado aos costumes da época com a vestimenta em ordem, sapatos limpos, terno e chapéus da moda. Sem citar que o homem não podia pensar em “avançar” o sinal com a moça. Foi nesta época que surgiu nos cinemas a figura do lanterninha, que tinha a árdua missão de controlar os mais assanhados.

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Mesmo com o sucesso de público, o Cine Morgenau mudou de local. Em 1931, deixou a Souza Naves e foi para a Rua Schiller, ainda no Cristo Rei. Para os entendidos do bairro, a mudança foi fundamental e a época de Ouro bateu na porta. A equipe do fundador Bernardo Quickstedt aumentou e três irmãos da família Souza começaram a mostrar que o futuro estaria em boas mãos.

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Mudança de dono!

Trinta anos se passaram e Bernardo Quickstedt decidiu passar o cinema para algum interessado. Os irmãos Souza (Erasmo, Jorge e Joaquim) trabalhavam e conheciam o dia a dia do estabelecimento e montaram uma estratégia financeira para adquirir os direitos de seguir com Cine Morgenau. “Ficamos trabalhando normalmente até 1960 quando arrendamos definitivamente o local do Bernardo, fundador do cinema. Vale ressaltar que tínhamos outro emprego e não era moleza. Ficava até tarde com as sessões noturnas, mas foi válido por tudo. A relação com as pessoas e com a cidade de Curitiba aumentava”, disse Erasmo de Souza, um dos proprietários da época.

Na década de 80, vários cinemas estavam localizados no centro da cidade e naturalmente atraíam a clientela. Lido, São João, Astor, Ritz, Luz, Palace Itália, Vitória, Condor, Bristol e Plaza tinham até a preferência, mas um pedido alterou o rumo do Morgenau. O prefeito Jaime Lerner tinha o desejo de ter uma casa de eventos na Praça Rui Barbosa e a segunda alteração de sede ocorreu. Ali também o perfil do púbico foi alterado para sempre.

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Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Filmes adultos!

A programação dos filmes no Morgenau seguia normalmente e para todos os públicos. Para exibir os filmes estrangeiros, era comum os cinemas terem uma relação de amizade e o Cine Plaza era parceiro do Morgenau. Em 1983, a atração no fim do ano era o filme Retorno de Jedi, que prometia levar muita gente para as salas. “Esta relação com o Plaza alterou todo o mercado curitibano. Cinco semanas o filme ficava conosco e cinco com eles. Com tanta exibição, a cópia foi dando problema e a qualidade foi piorando. O pessoal do Plaza culpava a gente que tinha estragado e vice-versa. Era engraçado até”, relembrou Erasmo.

No período em que o filme estava no Plaza, os proprietários do Cine Morgenau chegavam a exibir filmes infantis. Mas na frente do próprio cinema, uma fila chamava a atenção. Uma pequena sala exibia filmes adultos e a partir daquele momento, o público seria alterado radicalmente. “Era entranho a gente colocar infantil e eles com um filme bem diferente. Colocamos o filme “Garganta Profunda” e foi um grande sucesso. Ficamos com 12 semanas lotado e decidimos acreditar neste produto que dura até hoje”, ressaltou Erasmo.

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Longa metragem!

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Em 100 anos de cinema, muitas histórias ocorreram dentro da sala. O primeiro beijo de vários casais, pedido de casamento, parto e até um gato lançado no telão. “Uma vez um rapaz entrou com um gato escondido e jogou na direção da tela. Já imaginou a cena? Ainda lembro de um sábado de Aleluia quando colocaram uma cerca em redor do cinema e botaram uma vaca no meio. Ninguém entrava e o Judas estava pregado. No Cine Morgenau até os padres entravam pelos fundos, pois era proibido”, relembrou o antigo proprietário.

Quantos aos filmes com maior bilheteria, nada se compara a Paixão de Cristo. Por vários anos e até mesmo já no período de cine para adultos, a película é exibida na Sexta-Feira Santa. “Perdemos a quantidade de vezes que exibimos Paixão de Cristo. A relação nossa e muito forte e mantemos a tradição de exibirmos antes da Páscoa”, finalizou Erasmo.

Morte de mentor

A morte de Jorge de Souza, um dos proprietários em 2009 causou uma enorme desconfiança na continuidade do Morgenau. Para muitos que conviviam com a família, era o momento de fechar a cortina e esquecer a história. No entanto, o filho assumiu o controle e mesmo no momento de tristeza conseguiu ter força para permanecer com o objetivo, que era de chegar aos 100 anos do cine. “Todos apostavam que ia fechar. O sonho dele era fazer a festa de cem anos e não conseguiu, pois morreu com 80. Mas até como promessa, o cinema da família vai chegar ao centenário. Não importa o que aconteça daqui alguns anos, mas estamos vivos. Eu não sei como vou estar nesta segunda-feira, mas acho que vai ser complicado, pois iremos pensar naqueles que se foram”, afirmou Jorge Luiz de Souza Filho.

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Personalidades

O cinema atrai todos os públicos e algumas personalidades passaram pelas poltronas do Cine Morgenau ou até pela entrada. O desenhista curitibano Poty Lazzarotto chegava a desenhar no portão. “Meu pai sempre falava que o Poty ficava lá na frente rabiscando algumas coisas. O Paulo Leminski falava que ia para espairecer a cabeça. Até o Robocop dos Estados Unidos chegou por aqui”, confirmou o atual proprietário. O Cine Morgenau ainda alterou de local por mais duas vezes. A terceira sede foi na Avenida João Gualberto, próximo à Praça 19 de Dezembro. Atualmente, está localizado na Conselheiro Laurindo, no Centro. Uma sala de aproximadamente 40 lugares, um telão com tecnologia digital e filmes para adultos são exibidos sem interrupção das 10h até 20h no preço de R$15.

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Queda de bilheteria!

A venda de imóveis para igrejas e a entrada dos cinemas em shoppings acabou mudando radicalmente o cenário. Além disto, com o avanço da tecnologia, os filmes estão cada vez mais perto do consumidor e a tradicional passada no cinema ficou em segundo plano. “Depois que surgiu o videocassete, DVDs e a internet, o cinema de rua perdeu demais. Hoje em dia para se manter é difícil. Estamos aqui para manter o local vivo. Posso dizer que não trabalho somente com o cinema, pois tenho outras profissões. Alguns objetos antigos nossos foram doados como filmes, livros e cartazes que estão no Museu da Imagem e do Som de Curitiba”, comentou Jorge Luiz.

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Programação de Aniversário

A programação para esta segunda-feira, dia em que o local completa 100 anos, conta com a exibição de filmes clássicos a partir das 15h com entrada gratuita. Mazaroppi, Charles Chaplin, Tarzan, Gordo e Magro e desenhos. No período noturno, um coquetel para convidados irá celebrar os cem anos do Cine Morgenau.

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