Muitas cigarras juntas na praça Alfredo Andersen, em frente ao Hospital Evangélico Makenzie, no Bigorrilho, em Curitiba, vêm provocando um barulho ensurdecedor. O canto dos machos para o acasalamento, em época de calor das estações da primavera e do verão, chega a atrapalhar o dia a dia do hospital, onde o silêncio é importante na recuperação dos pacientes.

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As árvores da praça estão forradas de cascas (exúvia) de cigarras, que realizaram muda para a vida adulta. Fora o barulho do canto, dois lados negativos da presença do inseto são: o dano que pode ser causado na estrutura das árvores e a “garoa” provocada pelas fezes das cigarras.

Quando adultas, as cigarras se alimentam de seiva bruta (xilema) dos galhos e troncos das árvores, constituída de água e sais minerais. As larvas também, mas essas se desenvolvem nas raízes. Significa que os nutrientes roubados pelos insetos podem dificultar o processo de fotossíntese, secando as árvores. Ainda não há nada que indique o fenômeno na arborização da praça Alfredo Andersen, nem em outros pontos de Curitiba que costumam concentrar cigarras, como a área verde da Copel, no Bigorrilho, próximo do Parque Barigui.

Para quem desconfia da ação das cigarras no enfraquecimento das árvores que caem nos temporais de Curitiba, não há nada para se preocupar. No entanto, não custa ficar de olho.

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“É algo que dificilmente iria ocorrer. As árvores teriam que demonstrar algum tipo de sintoma de ressecamento de tronco e galhos e a população de cigarras, no local, teria que ser consideravelmente grande. Mas, dependendo de alguns fatores, seria possível que esses danos ocorressem”, explica Sinval Silveira Neto, 77 anos, professor-sênior do Departamento de Entomologia e Acarologia, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

Segundo o professor, as cigarras até são consideradas pragas de algumas plantas cultivadas, como o café, abacate e até da cana-de-açúcar, mas, nos centros urbanos, incômodo mesmo só com o barulho do canto. “Dependendo da espécie, os decibéis de um grupo de cigarras pode chegar a passar dos 80 dB. O que já é bem alto”, apontou o professor, revelando que as espécies são diferenciadas pelos hertz do canto dos machos. “O canto, geralmente, varia de 1 mil Hz a 5 mil Hz”.

Em Curitiba não há um estudo de como a cigarra impacta na morte de árvores. Foto: Átila Alberti/Arquivo/Tribuna do Paraná
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Em Curitiba, não há um estudo que comprove que a presença da cigarra possa impactar na morte de árvores ou que o inseto tenha alguma influência nas quedas de galhos e até de troncos durante temporais.

Mitos e verdades

Enquanto isso, na praça Alfredo Andersen, longe das explicações científicas, as pessoas se divertem com as histórias sobre cigarras. Quem passa por lá pela primeira vez, logo se depara com o barulhão do canto dos insetos, que mais parece uma turbina. “Estou esperando meu sobrinho ter alta do hospital. Ele sai hoje, por isso resolvi dar uma volta na praça. Minha nossa senhora, que barulho alto. Isso que nem está tão quente assim, hoje”, disse um senhor que preferiu não dar o nome.

Ele frequentava a praça na tarde quarta-feira (27), quando o tempo em Curitiba estava mais cinzento, com cara de chuva e frio. Mesmo assim, as cigarras não paravam com o barulho.

Já os funcionários do Evangélico que relaxavam um pouco nas proximidades da praça, no momento do intervalo do trabalho, foram além da questão do barulho. Eles partiram logo para um folclore sobre as cigarras. “Têm dias nos quais a urina das cigarras mais parece uma garoa. Caem várias gotinhas pela praça”, alertou uma mulher, que também explicou a enorme presença das cascas das cigarras nas árvores: “elas cantam até morrer”. Outra disse que o hospital já precisou lacrar as janelas, em alguns dias, porque as cigarras estavam invadindo o ambiente.

A assessoria do Evangélico Makenzie desmentiu o boato. Segundo eles, a ação do fechar das janelas não teve nada a ver com as cigarras, mas com um trabalho de prevenção contra a entrada de pernilongos em alguns espaços.

Enquanto alguns dizem que as janelas do hospital chegaram a ser fechadas para evitar a entrada dos bichos, o Evangélico nega. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Rodney Ramiro Cavichioli, 62 anos, professor doutor do departamento de zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) há 30 anos, também acabou com o mito da urina e do canto fatal. “É cocô. As cigarras se alimentam do xilema e eliminam o que não conseguem absorver. Isso ocorre com outras espécies de insetos. Então, tem essa tal chuva que mencionaram, mas, se fosse para classificar, as gotículas seriam de fezes, não de urina”, descreveu. Cavichioli apontou que esse resíduo não faz mal para a saúde humana.

Sobre a morte das cigarras pelo canto, o professor da UFPR disse que somente os machos é que cantam, para atrair as fêmeas para a reprodução, mas é mito que eles façam isso até a morte. “Na verdade, o ciclo de vida depois de adulto é que pode ser considerado curto. As cigarras passam a maior parte da vida no solo, se alimentando. Na época de reprodução, em estações quentes, a partir da primavera até verão, é que elas se agitam. Até que isso ocorra, há ciclos de vida que podem ser de dois em dois anos, incluindo nesse período o tempo como larvas”, explicou Cavichioli.

Prefeitura

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba (SMMA) foi procurada sobre um possível estudo sobre cigarras. Pessoas na praça Alfredo Andersen disseram que viram técnicos subindo nas árvores do local. Procurada, a SMMA não enviou resposta até o fechamento da matéria.