Cheiro do campo

Escrito por Andrea Côrtes

Cheiro de mato, árvores e muito verde, o silêncio predomina e conseguimos ouvir o som dos pássaros. Parece que estamos falando de alguma cidade do interior ou algum recanto rural afastado da cidade. Mas não. O local descrito é o bairro Riviera, que faz parte da Regional da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), e às margens da movimentada BR-277 com a linha seca que delimita a CIC.

Com uma extensa área de preservação ambiental, o bairro fica ao lado da Represa do Passaúna e é o menos povoado da cidade, com apenas 1,19 habitante por hectare. São 289 moradores em uma área de 243,67 hectares, conforme o Censo de 2010 do IBGE. Essencialmente rural, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Finanças, a região contava em 2011 com apenas 12 estabelecimentos econômicos – duas indústrias, cinco estabelecimentos comerciais e outros cinco do setor de serviços.

Andando pela Rua Edmundo Eckstein, ainda não asfaltada, a gente encontra várias pequenas chácaras em todo o trajeto. Em uma delas encontramos a simpática dona de casa Inesilda Santos da Silva, 54 anos. “Eu trabalho e moro na chácara há mais de 15 anos e não trocaria aqui por outro lugar. Eu sinto que moro no meio do mato, mas se andar cinco minutos estou na cidade”, conta ela, que mora com o marido, o filho, a nora e o neto de cinco anos. Seu neto ama o sítio e sempre volta da escola com vontade de brincar no amplo espaço verde.

A qualidade de vida, segundo a dona de casa, é muito maior se comparada com a vida que ela teria morando em algum outro bairro no Centro da cidade. Ela não vive com medo e diz que tem tudo o que precisa. “Aqui é supertranquilo, como se eu morasse no interior. Antes de me mudar para cá eu só conseguia dormir com remédio, ou porque estava preocupada ou por causa de muito barulho. Aqui não. Eu só deito e durmo”, diz, abrindo um sorriso, Inesilda. Suas maiores queixas, no entanto, se referem ao sinal de telefone e internet, que falha muitas vezes, e em relação à quantidade de lixo que pessoas de outras localidades descartam por ali por ser uma rua menos movimentada.

A história viva da região

Seu nome é Elfi Lia Echstein de Andrade, 83 anos. Morando há 71 anos na mesma chácara, viu acontecer diante dos seus olhos todas as mudanças do último século. O pai, formado em técnica de jardinagem, veio da Alemanha, e foi pioneiro na implantação de plantas em vasos. Ele construiu estufas e com muito trabalho e ajuda da família viveu durante muitos anos com o dinheiro que ganhava através das plantas e flores.

“Quando a gente chegou aqui ainda tínhamos luz de lampião e a dificuldade pela falta de estrutura era muito grande. Mas batalhamos muito e deu certo. A gente plantava as flores e íamos entregar de bicicleta. Fazíamos plantas decorativas e ornamentais, plantas em vasos, enfim, uma variedade. Mas, infelizmente com o tempo fomos perdendo clientes e com as mortes na família a gente precisou se desfazer de tudo. Só fiquei com a chácara”, conta Elfi, que viveu na chácara com o marido e dois filhos, todos já falecidos.

Os filhos nasceram e se criaram dentro do pequeno paraíso e tinham toda a liberdade para brincar e se divertir. Segundo Elfi, antigamente era muito mais tranquilo, mas ela ainda acha que o lugar onde mora lhe traz bastante sossego e paz. O único problema da região, para ela, é que existe muito lixo jogado na rua e as pessoas abandonam muitos animais, mas a qualidade de vida ainda é muito boa.

Elfi e o neto, que brincou muito no local quando criança. Foto: Jonathan Campos
Elfi e o neto, que brincou muito no local quando criança. Foto: Jonathan Campos

Elfi tem dois netos e dois bisnetos. O neto Nelson Eloi Bini Echstein de Andrade é o único membro da família que ainda mora com ela, mas conta que com a correria do dia a dia não tem tempo para aproveitar as belezas da chácara. “Eu até preferia morar mais perto da cidade pela facilidade, mas eu brinquei demais aqui quando era criança. Era muito bom”, recorda Nelson.

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Andrea Côrtes

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