Cheios de história

Foto: Divulgação/Bruno Gallerani

Eles conseguiram! A expedição que partiu de Curitiba rumo ao Parque Indígena do Xingu, no último dia 18 de julho, completou dentro do cronograma a missão de percorrer de caiaque o rio e registrar a natureza e hábitos de várias aldeias. O retorno foi no dia 10 de agosto. Na bagagem de volta, muitos ensinamentos, 10 mil fotos e mais de 180 horas de filmagens, que ainda neste ano serão disponibilizados ao público em exposição, livro e documentário.

Do planejamento, noticiado pela Tribuna, à execução do projeto “Xingu, um rio, um povo e uma floresta”, houve ajustes. Ao invés de seis, foram sete os aventureiros (Carol Lopes, Danilo Custódio, Gustavo Zarur, Vinicius Ferreira, Willian Germano, Marcelo Figueiral e Bruno Gallerani). O trajeto de Curitiba a Canarana (MT), no Alto Xingu, por onde entraram no parque, levou dois dias. A rota que alternava um dia por terra e três dias pelas águas do Rio Xingu, com parte remando de caiaque, não teve contratempos.

Mas a presença de um grupo tentando cruzar o rio irregularmente reteve a equipe de Curitiba na coordenação técnica local. Por isso, o trajeto de caiaque foi reduzido de 420 para 360 quilômetros. Para deixar o local até 8 de agosto, como autorizado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e Associação Terras Indígenas do Xingu (ATIX), foram puxados por uma “voadeira” nos 60 km restantes.

Foto: Divulgação/Marcelo Figueiral.
Na bagagem de volta, muitos ensinamentos, 10 mil fotos e mais de 180 horas de filmagens. Foto: Divulgação/Marcelo Figueiral.

“Se por um lado, nenhum celular pega na região, por outro, a comunicação por rádio é usada de forma eficiente e ajuda no controle de quem entra e sai do parque. Em toda aldeia que paramos, só entramos após eles verificarem se a nossa documentação era verdadeira e, na sequência, a liberação do cacique”, relata o idealizador do projeto, o especialista em desenvolvimento de novos mercados Marcelo Figueiral. “Eles não são simpáticos como nós estamos acostumados e recebem os visitantes ressabiados, mas são empáticos. A partir do instante que somos aceitos pelo cacique, eles passam a se importar conosco, se estamos comendo ou se precisamos de ajuda. São extremamente solidários e prestativos”.

 Coletividade

Almoço na Mata: Folhas servem como prato e levam uma cabaça com sal. Foto: Caroline Lopes Figueiral.
Almoço na Mata: Folhas servem como prato e levam uma cabaça com sal. Foto: Caroline Lopes Figueiral.

Embora cada etnia funcione como um pequeno país com línguas e tradições diferentes, a cultura do individualismo inexiste. “Cada índio age pensando que para ele ficar bem, o outro também tem que ficar bem. O respeito aos mais velhos e às regras têm reflexos como o fato de não haver roubo entre eles”, exemplifica.

Isso se reflete até na administração de recursos federais. “O dinheiro que vem para a saúde é sagrado , tanto que notamos que os postos de saúde na aldeia e a estrutura de atendimento funcionam, com direito a custear transporte aéreo para levar as gestantes em trabalho de parto aos hospitais”, observa Marcelo.

Concluída a aventura, o desafio do grupo é levantar R$ 70 mil para realizar a exposição, o livro e o documentário. Interessados em apoiar podem entrar em contato pelo e-mail.

Curiosidades garimpadas

  • A base da alimentação é pesca e mandioca em suas várias versões, incluindo farinha e biju (tapioca);
  • A divisão de tarefas nas aldeias é bastante respeitada. Aos homens cabe caçar, pescar e produzir mel. Às mulheres cuidar das ocas, da roça e ralar mandioca para a produção de farinha e biju (tapioca);
  • As aldeias do Alto e Médio Xingu costumam realizar disputas amigáveis com com uma luta chamada Huka Huka que remete à greco romana. Curiosamente, as aldeias que participam dessa disputa têm uma convivência mais pacífica que as aldeias do baixo Xingu, justamente, porque cada uma conhece o potencial da outra;
  • Cada oca serve para abrigar, em média, de 10 a 20 pessoas. As aldeias grandes contam com 10 ocas, as pequenas com três;
  • O foco é na troca de produtos (escambo), chamado de moitará, sendo a gasolina um dos artigos mais procurados;
  • Ao contrário do que se imagina, os jovens até realizam cursos nas cidade, mas estão engajados na preservação de suas culturas e tradições;
  • Eles se banham três vezes ao dia, ao acordarem (entre 5h30 e 6h), antes de almoçarem e de noite. Para eles, mais do que a limpeza o banho tem sentido de revitalização;
  • Os índios pouco adoecem, a equipe não encontrou pessoas obesas ou deprimidas e a expectativa de vida beira os 100 anos;
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