Casos violentos envolvendo policiais chamam a atenção. E aí, PM?

Foto: Átila Alberti/Arquivo.

Fazia apenas cinco dias que o soldado Willian Moreira de Almeida, do 22º Batalhão, tinha voltado ao serviço operacional da PM, quando matou, na última sexta-feira, a esposa e o primo dela no bairro Atuba, em Colombo, usando a arma da corporação. Antes disso, ele havia passado sete meses afastado, em tratamento psiquiátrico, até receber alta do seu médico particular e da junta médica da PM, dias antes da tragédia.

Conforme o coronel Everton Puchetti, diretor de pessoal da PM, o soldado Willian ingressou na corporação no concurso realizado em 2013. No final de 2014, foi considerado apto no teste de aptidão psicológica e frequentou o curso de formação de soldados em 2016. Ele vinha trabalhando normalmente até apresentar o seu primeiro atestado psiquiátrico em dezembro de 2017. E mais outros três atestados vieram nesta sequência, o que somaram sete meses de afastamento, em tratamento psiquiátrico.

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O coronel explicou que, no final de julho deste ano, o médico psiquiatra que atendia o soldado no Hospital Bom Retiro, entidade que a PM mantém convênio para atender estas demandas psiquiátricas da corporação, deu alta para Willian, o considerando apto para retornar ao trabalho operacional (armado e na rua). Conforme o coronel Puchetti, o atestado foi recebido pela Junta Médica da PM que, por precaução, decidiu mantê-lo mais um tempo em acompanhamento com um psicólogo da PM.

Willian não foi mandado para as ruas; ficaria em serviço administrativo e avaliação psicológica até novembro. Mas, no final de agosto, o psicólogo também deu alta para o policial, o considerando apto para voltar às ruas e corroborando com o atestado dado pelo médico do Hospital Bom Retiro. A Junta Médica avaliou tudo isto e liberou o policial para o serviço ostensivo.

Na segunda-feira da semana passada, Willian recebeu de volta sua arma da corporação, mas não voltou para as ruas porque ontem, entraria em férias. Assim, só voltaria às ruas em outubro. “Mas foi justo neste meio tempo entre ele receber a arma de volta e sair de férias que tudo aconteceu. Em alguns casos, a junta médica reduz o tempo de retorno do policial e em outros aumenta. No caso do Willian, a junta teve o cuidado de aumentar o período, para ter certeza de que poderia dar alta. E mesmo com toda essa avaliação psicológica, o crime aconteceu.

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Infelizmente a ciência ainda não conseguiu desbravar tudo o que se passa com a mente humana”, lamentou o coronel.

Explicações

Por causa deste caso e de outros ocorridos nos últimos meses, que tiveram policiais militares como autores de crimes chocantes, a Polícia Militar decidiu convocar uma coletiva de imprensa, para explicar como funcionam os procedimentos para policiais em atestados psicológicos e psiquiátricos. Conforme as estatísticas da corporação, cerca de 5% do total da tropa (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros) está afastada por questões psiquiátricas.

Sempre que um policial entrega algum tipo de atestado, explicou Puchetti, ele é encaminhado à Junta Médica da PM, composta por três médicos. Os médicos podem ser de especialidades diversas (urologista, cardiologista, etc.), mas no caso de doenças psiquiátricas, um dos três médicos é obrigatoriamente um psiquiatra. Assim, a junta analisa o atestado, chama o paciente e faz suas averiguações. Em alguns casos, a junta entende que o policial deve permanecer afastado das funções, às vezes até prorroga o prazo dado pelo médico que emitiu o atestado (que pode ser o médico do convênio da PM com o Hospital Bom Retiro, pode ser um médico particular, do SUS, ou de plano de saúde). Em outros casos, a PM avalia que pode antecipar a volta do policial ao trabalho, administrativo ou operacional. “Depende de cada caso”, avalia o diretor de pessoal,que também negou que a junta médica se negou a receber atestados médicos de alguns policiais e os mandou de volta ao trabalho, mesmo sem condições, conforme  informações que circularam no meio policial.

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Coincidência

Quatro ou cinco casos se destacaram na mídia nos últimos meses, colocando policiais como autores de crimes bárbaros. Por coincidência, vários deles pertenciam ao 22º Batalhão (que atua  a região metropolitana de Curitiba) e eram da tropa formada no ano de 2016. Apesar disto,  coronel afirmou que não houve falhas na formação dos soldados, muito menos na testagem psicológica. Para reforçar esta tese, mostrou alguns artigos publicados em revistas e jornais de âmbito nacional, que provavam com estatísticas o aumento dos casos de suicídios na população em geral, nos últimos anos, e de como a ciência ainda não consegui desbravar os mistérios da mente humana, para justificar, assim, como pessoas consideradas aptas e saudáveis podem cometer um crime a qualquer momento.

Afastamentos Psiquiátricos

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Relembre alguns casos polêmicos envolvendo policiais!

Sd. Santos, Ivaiporã

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Três policiais militares morreram em confronto entre eles próprios, dentro de uma companhia da PM e Ivaiporã, no centro-oeste do Para no início do mês. Neste dia,o soldado Lucas Santos Araújo já estava na companhia, quando atirou nos colegas que chegavam para trabalhar, o subtenente Luiz Antônio Abba e o soldado Robson Alves Medina. Conforme o coronel Puchetti, o soldado Santos, que iniciou o confronto, não tinha nenhum tipo de indicativo psiquiátrico em sua ficha e foi considerado apto na última testagem psiquiátrica, feita com toda a troca da região, no ano passado. “Anualmente temos que submeter toda a tropa a essa testagem. Ano passado, conseguimos submeter 90% dos policiais à avaliação. E quem apresenta algum sinal de  distúrbio psiquiátrico, imediatamente é encaminhado à psiquiatria”, analisou o policial.

Caso Andrielly

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O soldado Diogo Coelho Costa continua sendo o principal suspeito de matar a ex-mulher, a estudante Andrielly Gonçalves da Silva, 22 anos, em junho. A jovem tinha desaparecido no mês  e maio e o corpo dela foi encontrado somente um mês depois, na Serra da Graciosa. Conforme investigações na época, ele não aceitava o fim do relacionamento e por isto matou a jovem.

Soldado Peterson

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O soldado Peterson da Mota, 30 anos, lotado no 22º Batalhão da PM, é suspeito de assassinar Renata Larissa dos Santos, 22 anos, após um encontro amoroso, no dia 1º de agosto, em São José dos Pinhais. Conforme investigações da Polícia Civil, ele atraia as vítimas através das redes sociais e, por ser policial, conseguia conquistar a confiança das mulheres. Nos encontros, ele tinha alguns fetiches e, se as vítimas negassem, ele partia para a agressividade. Depois da divulgação do caso de Larissa, quase 20 mulheres apareceram na Delegacia da Mulher denunciando Peterson por estupro. No entanto, pelo que se sabe, somente no caso de Larissa ele matou a vítima. Conforme o coronel Puchetti, Peterson havia passado pelas testagens psiquiátricas e foi considerado apto. Não foi detectado nenhum desvio no rapaz.

Acidente na Linha Verde

No dia 31 de julho, uma viatura da Polícia Militar, pertencente ao 20.º Batalhão, invadiu um ponto de ônibus na Linha Verde e matou quatro mulheres que estavam no local, esperando o coletivo. O policial que dirigia a viatura alegou que foi desviar de um homem atravessando a canaleta, perdeu o controle da direção e invadiu o ponto de ônibus, acertando em cheio as mulheres. Em seguida, bateu em dois carros que seguiam na Linha Verde. Por considerar que o caso ainda está em investigação, a PM não divulgou se os policiais envolvidos no acidente ainda passam por acompanhamento psicológico ou se ja estão de volta ao serviço. Preferiu ressaltar que, horas depois, psicólogos e capelães da PM foram atender os policiais, as vítimas sobreviventes e os familiares dos mortos. Os sepultamentos ocorreram em São Paulo e os familiares viajaram numa van da PM, acompanhados da equipe de psicólogos e capelães, serviço  que, conforme o coronel Puchetti, permanece à disposição dos policiais e das famílias das vítimas.

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