De tanto tempo que estão ali, já fazem parte do cenário e, algumas vezes, até acabam ignorados por moradores próximos. As marcas na lataria apontam que a estadia no local já completa aniversário. Não é difícil encontrar algum carro abandonado pelas ruas de Curitiba.
Até mesmo em áreas mais nobres da cidade, lá estão eles. Estacionados há meses ou até anos. Em casos mais graves, se tornando possíveis focos do mosquito aedes aegypti – transmissor da dengue, zika vírus e febre chikungunya.
No bairro Seminário, o carro, aparentemente, está em condições normais. Parado na Rua Major Alberto Pereira Jorge, esquina com a Rua José Scuissiato, o automóvel já se tornou algo comum para quem mora nas proximidades. “O problema é que quando algum veículo grande tenta fazer a curva, acaba batendo em um ou em outro canto dele”, diz uma vizinha.
“O proprietário largou ele aí há uns seis meses. Até onde eu sei, o motor não funciona mais e o dono acha que não compensa pagar pelo conserto, até porque o carro está cheio de débitos”, diz outro morador da rua.
No bairro Cristo Rei, mais uma situação flagrada. Apesar de ter uma trava no volante e de estar estacionado regularmente, o veículo foi largado na Rua João Pontoni “há meses”, ponderam os moradores de um prédio em frente.
Em outra região da cidade, na Cidade Industrial de Curitiba, o abandono é muito mais escancarado. Na Rua Rogério Pereira de Camargo, parado sobre um terreno, o veículo já não tem praticamente mais nada. É apenas sucata. Todos os itens internos foram removidos, algumas peças estão jogadas no porta-malas. “Tem dois anos que esse carro está aqui. O dono o trouxe num guincho e abandonou aqui no terreno. Ninguém sabe de quem é”, relata um comerciante.
Na região metropolitana, a mesma coisa…
Em Colombo, moradores reclamam de uma via pública que mais parece um depósito de ferro-velho. A Rua Tomás Antônio Gonzaga, na Vila Guarani, serve de espaço para, ao menos, nove carros. Alguns sem qualquer condição de rodar pelas ruas. Outros nem o teto têm mais.
Um homem, que se identificou como o proprietário de uma oficina mecânica e de serviços de lataria, diz que os automóveis foram comprados por ele para que as peças pudessem ser utilizadas em outros veículos. “Pra consertar alguns, eu preciso de componentes desses aqui. São todos documentados ou com nota fiscal”. Mesmo com alguns sem vidros ou sem cobertura, ele garante que não há risco de água parada. “Quando chove, a água escorre toda, não fica dentro deles”, explica.
Apesar disso, para a vizinhança, a situação não é tão tranquila assim. “Eu tenho um filho pequeno e morro de medo de que ele pegue alguma doença por causa desses carros. Alguns estão enferrujados, além de tudo”, diz uma mulher que vive na região.
A moradora diz que os carros em péssimas condições são mantidos na rua há mais de dez anos. “A prefeitura nunca fez nada”, afirma. A Prefeitura de Colombo esclareceu que os carros podem ser objeto de furto e/ou roubo, com débitos pendentes, entre outras questões, “portanto atualmente são de responsabilidade da Polícia Militar”. Mas destacou que está em estudo o Código Municipal Ambiental, que vai tratar deste assunto para tomada de medidas e responsabilidades.
Prefeitura não tem guincho
A Prefeitura de Curitiba não conta com serviço de guincho há mais de um ano. Desde setembro do ano passado, não há carros guinchados pela administração municipal. O problema seria um contrato vencido em 2015 e que ainda não foi renovado – mesmo após as promessas de que tudo seria resolvido até o mês de maio e, depois, julho.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Trânsito informa que uma equipe atende as denúncias de veículos abandonados e tenta localizar o proprietário para orientar a remoção. Apesar disso, se o veículo está estacionado de maneira correta, não há motivo para ser levado ao pátio da Setran. As denúncias pode ser feitas ao telefone 156, mas poderão gerar, no máximo, uma multa por infração de trânsito – se o carro estiver parado em área proibida.
Um levantamento de dezembro do ano passado apontou que, na capital do Paraná, existem cerca de 800 veículos abandonados nas ruas. Já a Secretaria Municipal do Meio Ambiente garante que faz um trabalho preventivo para evitar focos do mosquito, inclusive em ferros-velhos.