A financista Marta Lima sabe muito bem que o dinheiro suado precisa ser bem gasto. E é por isso que ela opta frequentemente por trocar o carro sempre por um mais novo – mas nunca por um sem uso. “A partir do momento que você sai da concessionária com o zero, já amarga uma desvalorização enorme. Por este motivo eu prefiro um seminovo, que tem qualidade, é pouco rodado e já vem emplacado, por exemplo. Claro que faço muita pesquisa e sempre compro em alguma loja que já tenha boas referências”, diz.
Para ela, negociar as taxas de juros e condições de pagamento com o gerente ou o proprietário da revenda é imprescindível. Marta diz não saber quantas vezes já trocou de automóvel. “Umas 10, pelo menos”.
Comprar um automóvel zero quilômetro até tem suas vantagens. Saber que ele nunca passou pelas mãos de outro proprietário, sentir o cheiro de novo e ter a confiança de que, tão cedo, ele não apresentará defeito. Mas, em tempos de recessão econômica, Marta e grande parte do público consumidor têm optado pelo que sai mais em conta. Não é à toa que o mercado dos seminovos, principalmente de modelos com até três anos de uso, está bastante aquecido.
Aceleração
Dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) revelam que, no Paraná, em agosto, foram comercializadas 81.983 unidades, contra 76.676 em julho – aumento de 6% nas categorias automóveis e comerciais leves. No comparativo com agosto de 2015, o incremento é de 5%, já que no ano passado foram vendidas 77.573 unidades durante o mês.
Já com relação aos carros novos, a queda chega a 17,6%. Isso porque em agosto de 2015, 14.864 pessoas saíram com um novo automóvel de alguma concessionária no Estado. Em contrapartida, no mesmo mês de 2016, foram 12.241 clientes. “Em setembro de 2016 teríamos um aumento ainda maior, mas a greve dos bancários dificultou as vendas para todo o setor”, analisa o presidente da Associação de Revendedores de Veículos Automotores no Estado do Paraná (Assovepar), Silvan Dal Bello.
Até 30% mais barato!
Para o presidente da Assovepar, Silvan Dal Bello, o preço é o principal atrativo nos seminovos. “O cliente pode comprar um carro completo, top de linha, ano 2013 ou 2014, por até 30% abaixo do que custa um zero quilômetro atualmente e, muitas vezes, o novo é um modelo básico ou intermediário. É muito vantajoso. Além disso, o carro na concessionária está cada vez mais caro”.
A garantia legal dada pelos lojistas revendedores é de três meses. No entanto, para disputar clientes, alguns chegam a oferecer até um ano. Nedson Antônio de Oliveira, empresário do ramo há mais de 30 anos, defende que o importante é oferecer veículos que tenham, além de bom preço, boas condições. “Fazemos questão que o cliente traga alguém de confiança, como um profissional de mecânica ou de lataria, para avaliar o carro. Assim, ele garante o melhor negócio”, explica. “É possível encontrar carros ano 2013 com baixa quilometragem e em bom estado, com um preço muito em conta. É a vantagem que as pessoas procuram ultimamente”, relata.
Palavra do especialista
“Nos últimos dois anos a questão do financiamento vem se tornando um empecilho. Os bancos estão com uma restrição muito grande na hora de aprovar a ficha do cliente. Além disso, se antes era comum dar 30% de entrada – no máximo, agora temos um cenário muito diferente. As concessionárias exigem 50% ou 60% do valor total do bem para que se possa financiar o restante com taxas de juros competitivas”, explica o professor de Economia da Universidade Positivo, Lucas Dezordi.
O economista aponta outros fatores. “O custo do novo aumentou e o do usado se manteve, até abaixou. Fora isso, a taxa de financiamento do zero quilômetro ainda é menor do que a do usado, mas na hora de colocar tudo na ponta do lápis, o consumidor escolhe o carro seminovo. A entrada é menor e a quantia financiada, também”.