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Acostumado a ter um carro novo em sua garagem, o gerente de vendas Edson Valentim, 36 anos, procura pela primeira vez um carro usado para sua família. “Eu tinha um carro fornecido pela empresa onde trabalhava. Agora não terei mais. Por isso, vou usar o carro que era da minha esposa, que compramos na época zero quilômetro, ele é mais compacto e econômico. Para ela andar com as crianças, vou comprar um sedan seminovo. Com este investimento, em torno de R$ 50 mil, consigo pegar um carro maior e mais confortável para toda a família. Vai ser mais vantajoso do que comprar um novo”, conta.

Edson não está sozinho nesta escolha. Seja para trabalhar, passear ou para escapar do transporte coletivo, o fato é que muita gente não abre mão de ter um carro. No entanto, com a crise financeira, para não ficar a pé, muitas pessoas têm optado pelos modelos de segunda mão e em bom estado de conservação, ao invés de buscar por um veículo novo, que tem menor manutenção, mas custa mais. Um comportamento que vem aquecendo o mercado dos usados e, principalmente, dos seminovos – veículos com até cinco anos de uso.

César: migração do novo pro seminovo ocorre há 3 anos. Foto: Felipe Rosa

De acordo com o vice-presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado do Paraná (Assovepar), César Lançoni Santos, as vendas de veículos usados e seminovos no Paraná têm saldo positivo, não sofrendo nos últimos anos o mesmo impacto enfrentado por outros segmentos da economia, frente à recessão.

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“Há três anos vemos esta migração dos consumidores do carro zero para o seminovo. Isto porque o carro zero subiu e só depois se estabilizou. Esta procura maior é em função do seminovo ser mais barato do que o zero. E este ano o mercado começou a reagir, houve uma melhora em relação ao ano passado. Há mais confiança na economia e no país, e ela é refletida nas vendas e nos financiamentos”, explica.

Outros fatores também beneficiaram as vendas de usados e seminovos. “Com a estabilização da economia, a queda dos juros, concessão de crédito normalizada por parte dos bancos e a liberação do saldo do FGTS, vimos sinais positivos nas vendas. Houve uma melhora em todas as faixas (de preço) de veículos”, complementa.

Reação em números

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Dados divulgados pela Assovepar mostram que, em julho de 2017, houve um crescimento de 4% nas vendas de seminovos e usados no Paraná, em relação ao mesmo período do ano anterior. Em julho de 2017, foram comercializados no Estado 79.814 unidades de automóveis e comerciais leves – contra 76.676 no mesmo mês do ano passado. No mesmo período, segundo informações da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) o emplacamento de veículos novos (automóveis e comerciais leves) no Paraná caiu 18,59%, passando de 13.873 em julho de 2016 para 11.294 no mês passado.

Tiago: maioria busca carro completo a partir de 2015. Foto: Felipe Rosa

Diferenciais

Para o gerente da loja Rotta 8 Veículos, Tiago Carniel, este desempenho superior das vendas dos seminovos em relação aos veículos zero se dá principalmente por conta do preço e pela quantidade de opcionais que podem ser adquiridos nos carros usados. “O seminovo é mais atrativo em relação ao zero. O carro novo está muito caro. Hoje é possível conseguir um carro que ainda tenha garantia de fábrica, baixa quilometragem e que já esteja com seu valor depreciado”, diz.

De acordo com Carniel, os carros mais procurados hoje pelos compradores em Curitiba são aqueles completos com opcionais de fábrica, fabricados entre 2015 e 2016, e com custo entre R$ 25 mil e R$ 35 mil. “São os carros que não param no estoque. Além destes, hoje também temos como clientes os motoristas dos aplicativos como o Uber, que também buscam carros completos e com bom preço”, revela.

Revendas de seminovos comemoram vendas. Foto: Felipe Rosa

Sem se afundar em dívidas

Quem pensa em comprar um carro, seja ele novo ou usado, segundo o economista, professor e consultor de gestão e finanças Daniel Poit, precisa antes pensar se a compra é uma decisão acertada. “O mais importante é a pessoa ter certeza se precisa comprar este carro, se será uma decisão que trará benefícios, se é uma necessidade pessoal, profissional ou apenas um desejo a ser satisfeito. Uma vez decidido pela compra, é necessário avaliar a segurança desta negociação, buscando um valor compatível com sua renda”.

No caso de financiamentos, a orientação do economista é não comprometer muito da renda familiar com as parcelas do veículo. “As prestações não devem comprometer mais do que 10% da renda das pessoas. No entanto, muitas assumem parcelas que representam até 30% do que elas recebem. E ainda é necessário pensar que um veículo envolve outras despesas, como combustível, manutenção, seguro, estacionamento e IPVA, por exemplo”.

Para as pessoas que assumiram uma dívida e não estão conseguindo pagar, a dica é tentar vender o carro ou trocar por uma dívida com juros menores. “Em um financiamento, qualquer taxa acima de 2% é exorbitante. Em carros novos, o ideal é uma taxa de 1%. Quem não está conseguindo pagar as parcelas, minha orientação, dada até para alguns de meus alunos, tem sido: venda o carro. É possível comprar um de menor valor ou compartilhar um mesmo veículo com outras pessoas da família. Ou buscar por outros financiamentos com juros mais baratos, para quitar a dívida”, aconselha.

Carros entre R$ 25 mil e R$ 35 mil são os mais procurados. Foto: Felipe Rosa

Confiança e segurança

Para o diretor comercial da Karyzá Veículos, Isaac Ramos Ferreira, outro fator que atrai os clientes para os seminovos e usados é a garantia oferecida pelas lojas. “O que mantém uma loja e as vendas em alta é uma boa carteira de clientes e a qualidade dos produtos oferecidos. Os clientes hoje estão mais exigentes, eles querem carros top de linha e com procedência. O básico não tem mais mercado. E nas lojas conseguimos dar essa segurança aos clientes, já que trabalhamos com carros sem restrição”.

Para quem prefere adquirir um carro de outra pessoa, alguns cuidados devem ser tomados. “Particular não tem respaldo de uma empresa. Quem for comprar um carro por conta precisa avaliar o veículo, se possível, com ajuda de quem entende de carro e ainda precisa ver as certidões negativas no Detran, saber se não foi sinistrado ou se não tem outro problema”, orienta.

Mercado de luxo

No segmento de veículos seminovos premium, segundo o vendedor da Honda Prixx, Adilson Boida, não há crise. “Na venda de carros de maior valor, novos ou seminovos, a gente não sentiu queda nas vendas. Mas a crise ajudou muito as vendas de seminovos”, diz. Segundo ele, quem busca estes carros também quer um veículo com baixa quilometragem e mais opcionais. “Entre os mais procurados por este público, estão os SUV (sigla em inglês de veículo utilitário esportivo), sendo indiferente a marca escolhida. São os modelos que ficam menos tempo no estoque”, analisa.

Nas negociações, o vendedor explica que os carros de maior valor são vendidos geralmente à vista, enquanto os modelos mais baratos costumam ser comercializados com o uso do financiamento feito por bancos e financeiras. “Carros mais caros em média têm 65% de suas vendas feitas à vista, entrando na negociação, no máximo, o carro que a pessoa já possui. Já os carros mais em conta, especialmente na faixa de até R$ 30 mil, têm cerca de 80% das vendas feitas com financiamento”, afirma.