“Infelizmente, isso virou uma cidade abandonada. Não parece o mesmo município que tínhamos antes da eleição. Agora que perdeu, o prefeito está castigando a gente”. Esse é o desabafo de uma profissional de saúde de Almirante Tamandaré em greve, já que está há mais de um mês sem receber o salário. A reclamação é a mesma de outros moradores da cidade na Região Metropolitana de Curitiba, que enfrenta problemas em diversas áreas. Segundo a população, tudo se agravou quando Aldnei Siqueira (PSD) não foi reeleito.
Alguns funcionários da administração pública afirmam que, nos últimos meses, foram “orientados” a transferir o título de eleitor para Almirante Tamandaré. “Estamos sendo castigados desde o dia 2 de outubro. Os CMEIs estão sem merenda, o transporte universitário até Curitiba acabou, assim como o transporte de crianças especiais. Os Armazéns da Família foram fechados. Além disso, ele demitiu todos os estagiários da prefeitura, o que provocou um caos nos serviços públicos”, afirma o contador Jony Meyki, 23 anos.
Na tarde de ontem, ele organizou uma passeata de moradores do terminal de ônibus até a prefeitura. Com cartazes, a população pedia providência nas áreas afetadas e denunciava que obras foram suspensas após as eleições.
Desde a semana passada, o pedreiro Valdemir Marchiori vai diariamente ao Armazém da Família no Lamenha Grande. “Está tudo fechado. É o lugar onde compro os mantimentos para minha família com um preço mais em conta. Infelizmente, vou ter que ir até algum supermercado e desembolsar mais do que esperava”.
No Pronto Atendimento 24 horas, ao lado da farmácia municipal, os cartazes nos vidros indicam a paralisação dos profissionais de saúde. Funcionários alegam que o salário está atrasado e dizem que precisaram entrar em greve para chamar atenção do poder público. “A gente tem família para sustentar, não tem como ficar sem dinheiro. Estamos trabalhando mesmo sem pagamento, porque o setor de saúde pública precisa sempre de pessoas de plantão. Mas a gente precisa que a prefeitura respeite nossos direitos”, exclama uma enfermeira.
Já nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), a reclamação é de falta de comida. Vitor Marcos é pai de um menino de cinco anos. “Desde a semana passada ele e os coleguinhas estão sem lanche. A gente tem que mandar comida de casa e alguns pais estão até fazendo ‘vaquinha’ para que os educadores comprem os alimentos para os pequenos”.
Prefeito responde
Em entrevista à Tribuna, o atual prefeito Aldnei Siqueira confirma parte dos problemas apontados pela população, mas justifica a situação de crise. “A prefeitura tem uma dívida histórica com o IPMAT (Instituto de Previdência do Município de Almirante Tamandaré) e ela sempre foi parcelada. Esse parcelamento é necessário para que nós consigamos honrar com a folha de pagamento dos servidores. O problema é que, recentemente, a Câmara de Vereadores reprovou, pela primeira vez nos últimos anos, o pedido de parcelamento. A decisão nos surpreendeu e provocou muito transtorno”, explica.
O atual prefeito acusa os vereadores de terem feito um acordo com o prefeito eleito, que assume a cidade a partir de janeiro de 2017. “Negando o parcelamento para mim, eles provocam muitos problemas, porque não tenho como empenhar as dívidas que a cidade tem com os fornecedores e, assim, as entregas de comida, por exemplo, são prejudicadas. Só que, no ano que vem, eles fazem uma votação extraordinária e aprovam o mesmo projeto, resolvendo o que poderia ser resolvido agora”, acusa Aldnei.
Sobre o problema pontual na unidade de saúde 24 horas, o prefeito diz que o impasse é devido à falta de certidão negativa que, neste mês, não foi apresentada pela empresa terceirizada responsável pelos funcionários. “Sem esse documento a gente não pode repassar o dinheiro. É uma questão legal. Para esta quarta-feira (26), tudo deve estar resolvido. A empresa nos disse que está providenciando”.
O problema no Armazém da Família também seria consequência da votação na Câmara.
“Fora tudo isso, precisei mandar embora mais de 150 estagiários e cerca de 80 comissionados. Cortei gratificações e diminuí os custos para que eu consiga pagar as pessoas que trabalham na prefeitura. Já que os vereadores não me permitiram parcelar a dívida com o IPMAT, estou fazendo o que posso para não deixar ninguém no prejuízo”.
Para tentar reverter a situação, o prefeito diz que entrou na Justiça e aguarda uma decisão favorável.
IPMAT contesta Câmara
A votação na Câmara de Vereadores, que terminou em 8 votos a 6 contra o pedido de parcelamento, aconteceu na última semana. Para o presidente do IPMAT, Edson Cruz, a decisão é, no mínimo, estranha. “O prefeito quis parcelar a contribuição patronal, porque a dos funcionários sempre esteve em dia. Os parlamentares municipais negaram o pedido por algum motivo que eu desconheço. Agora vamos registrar prejuízo neste ano. Se a situação continuar assim [sem o repasse da prefeitura], o instituto vai ficar deficitário e o município vai acabar ficando ‘negativado’ – dessa maneira, não conseguirá firmar convênios ou receber repasses estaduais ou federais, por exemplo”, detalha.
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