Antonina, no litoral do Paraná, chegou à sensação térmica de 82ºC na última terça-feira (18). E a temperatura continua alta desde então. A dona de casa Zenira Oliveira Ramos, 60 anos, é moradora de Antonina e anda num mau humor danado por causa disto, porque não consegue dormir, comer, sequer sentar no sofá, pois o tecido ‘pega fogo‘ mesmo dentro de casa, na sombra.
Zenira mora em Antonina há 35 anos, mas nunca viu um calor como o da última terça. Nem debaixo de coberturas as pessoas conseguem aguentar o calor, principalmente em casas com telha de Eternit, como a de Zenira. Durante o dia, ela enche potes de sorvete com água e coloca no congelador, para depois, à noite, colocar na frente do ventilador. “Ameniza um pouquinho, mas não resolve muito”, lamenta ela, que também dorme em cima de uma toalha molhada. “A toalha vai secando, a gente até consegue cochilar um pouco. Mas daqui a pouco a toalha está molhada de novo, mas de suor, e a gente não consegue dormir”, diz ela, que para piorar, nas épocas de lua cheia, sofre ainda com os bichinhos ‘porva‘, pequenos insetos que passam pela tela na janela, picam e causam muita coceira no corpo.
A mãe de Zenira, que mora com ela, é doente e anda passando muito mal. A idosa senta no sofá para tentar tirar um cochilo, visto que não dorme a noite, mas não consegue, porque as costas chegam a queimar no sofá. Pior é que nem as cobras estão aguentando o calor. Estão saindo das tocas e invadindo as casas. Zenira encontrou uma na calçada.
Cozinhando
No dia do pico de calor, na última terça, Zenira colocou um lençol de molho num balde e colocou no sol para a água esquentar e branquear mais a roupa. Quando foi pegar o balde, não conseguia tirar o lençol, pois a água dentro queimava a mão. E o lábio dela rachou, mas não de frio, como é comum no inverno, e sim do calor excessivo. Fome ninguém sente por lá também. Com o calorão, só conseguem comer frutas e coisas geladas. Chegam a acordar de madrugada para comer melancia, para se hidratar e tentar refrescar um pouco. Pior é que não há previsão de chuva, nem de que a temperatura caia em Antonina, nos próximos dias, o que está fazendo Zenira pensar em vir passar uns tempos com sua mãe na casa do filho, em Curitiba.
Uniforme grosso
O outro filho dela, que trabalha no Porto de Paranaguá, também anda sofrendo demais com o calor, pois trabalha como eletricista e mexe com altas voltagens, por isso precisa de um uniforme específico para se proteger. Além de trabalhar em locais abertos, sob o sol, usa blusa de manga comprida e calça grossa. “Ele não pode tirar o uniforme, por segurança. Mas ele diz que dá vontade de se esconder em algum cantinho e tirar a roupa, porque tá difícil aguentar o calorão. Ele não conseguiu dormir de segunda para terça-feira e não foi trabalhar de manhã. Ele é diabético e passou muito mal, ficamos com medo que tivesse algum ’piripaque’. Por mais que ele trabalhe perto do mar, não tem como aguentar esse forno. Ele contou que um dos caminhoneiros que chegou para descarregar no porto começou a passar tão mal que quase surtou. Começou a tirar a roupa xingando todo mundo”, conta a dona de casa.
Sem água
Não bastasse o calorão, ainda faltou água em Antonina, na terça-feira que deu a sensação térmica de 82ºC. “Dá pra acreditar nisso? Não tinha uma gota de água na torneira. Hoje tem, mas é um fio de tão pouca. No Facebook da prefeitura estava lá ‘A Prefeitura pede desculpas pelo transtorno, mas está arrumando uma tubulação’. Poxa! Tinha o inverno todo pra fazer isso. Foram fazer logo no verão, e bem no dia do calorão”, reclama Zenira.
“O que a gente sente aqui é como se estivesse dentro de um micro-ondas, sem poder abrir a porta para fugir. Olha … se eu morrer amanhã, vou direto pro céu, porque já paguei todos os meus pecados com o que estamos passando aqui”, brincou a dona de casa, tentando achar um pouco de bom humor no sofrimento.
Cuide da saúde
Enquanto São Pedro tira um cochilo em cima do botão ‘esquentar‘, lá na sua sala de comando, sem previsão de acordar e apertar o botão refrescar, o negócio é cuidar da saúde nestes dias muito quentes, para não passar mal ou adoecer neste calorão. Os cuidados básicos todo mundo conhece. Mas o médico cardiologista José Knopfholz dá orientações extras para que as pessoas ‘sobrevivam‘ com saúde.
Antes de mais nada, José explica o que é a sensação térmica: é a percepção do nosso cérebro em relação à temperatura. Às vezes as pessoas sentem mais calor ou mais frio do que a temperatura real, porque isso depende muito da umidade do ar, da pressão atmosférica, dos ventos e outros detalhes atmosféricos do local. Em Antonina, explicou ele, a temperatura chegou a 44ºC, mas as pessoas tinham a sensação térmica de 82ºC por que o local é uma baía, tinha pouco vento, entre outros fatores que criaram um abafamento maior.
E a saúde?
Em relação à saúde, o médico explica que o calorão pode afetar as pessoas em três sistemas orgânicos diferentes: cardiovascular, dermatológico e alimentar. Do ponto de vista cardiovascular, quando a temperatura esquenta, os vasos sanguíneos dilatam. Isso faz com que a pressão arterial baixe, produzindo na pessoa tontura, fraqueza, sonolência e até desmaios.
Do ponto de vista dermatológico, as altas temperaturas colaboram para a proliferação de bactérias e fungos, o que pode causar micoses, surtos de conjuntivite e queimaduras de sol. Sem contar a proliferação de mosquitos, aumentando o risco de dengue, zika, etc.
Do ponto de vista alimentar, como a pessoa sua mais que o normal neste calorão, além de perder água do corpo, também perde os eletrólitos. Para repor tudo isso, não basta tomar só água. São necessários sucos e água de coco, além de comer mais frutas e vegetais, para repor os eletrólitos e sais minerais perdidos no suor. Além disto, os alimentos estragam mais facilmente, o que pode gerar intoxicações alimentares e diarreia.
Idosos e crianças perdem mais água. Por isso precisam ingerir mais líquidos ao longo do dia e serem mais observados e mantidos em locais arejados.
Compras de Natal
Nesta época, as pessoas estão mais nas ruas fazendo as compras de Natal, o que aumenta a multidão dentro das lojas. José explica que ficar muito tempo em pé e dentro deste calor humano abaixa mais ainda a pressão arterial e pode causar desmaios. Então é preciso tomar muita água e dar intervalos de tempos sentado, para o corpo repousar alguns minutos.
Protetor solar
Protetor solar, diz o cardiologista, deveria ser usado em todas as épocas do ano, pois mesmo as lâmpadas são foto agressivas e promovem o envelhecimento da pele. Mas nestes dias de sol intenso, não se deve nem pensar em não usar, mesmo em pessoas que trabalham dentro de escritórios e lojas.
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