“Primeiro sou mãe, depois empreendedora e dona do primeiro food bike de Curitiba”, assim define Cleise de Lima, 50 anos, moradora do bairro Santa Quitéria e responsável pelo Café da Tia Anastácia, uma nobre homenagem para a personagem do ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’, da obra de Monteiro Lobato.
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Cleise é daquelas pessoas que não se contentam em ficar esperando a sorte mudar ou em ficar lamentando as dificuldades da vida. De bom papo, simpática e com mãos de fadas para cozinhar, essa curitibana está servindo empatia com grandes doses de paixão nos produtos que comercializa nas manhãs movimentadas da Arthur Bernardes, uma das principais avenidas da capital paranaense.
Para vender seus cafés especiais, bolos com sabor de infância, pão de queijo, quiche e até chipa em uma bicicleta adaptada, Cleise acorda à 5h da manhã. Com carinho que toda alimentação merece, ela não foge do frio e nem do mau humor de alguns curitibanos logo cedo.
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“Os dias mais frios são os piores, pois as pessoas não querem abrir o vidro do carro ou mesmo ficar em um lugar aberto. Chuva então, esquece. Chego entre 7h e 7h30, mas a preparação inicia mais cedo. Faço o café, o pão de queijo, tem o cappuccino, embalo o bolo que fiz na noite anterior. Digo que é importante pela visibilidade, pois sou a única food bike em Curitiba”, valoriza a empreendedora.
Aliás, a bike precisou ser modificada ao longo do tempo. A caixa de madeira foi confeccionada por um marceneiro e a corrente da bicicleta foi retirada para reduzir o peso. Um dos segredos revelados na reportagem para a Tribuna do Paraná é a ajuda de uma vizinha que guarda o veículo de duas rodas quando Cleise não está vendendo na rua. “Eu monto a bicicleta em uma vizinha e deixo na volta lá. Ficaria muito pesado se fosse da minha casa para o ponto com as garrafas de café e todos os produtos. Ficaria muito desconfortável pedalar devido ao peso”, revelou a moradora do Santa Quitéria.
Como surgiu o café na bike?
Em 2014, Cleise recebeu a melhor notícia para quem sonha ser mãe. Estava grávida, e o Nicolas viria para reforçar esse momento de felicidade. Naturalmente, a responsabilidade e os custos financeiros aumentam e a futura mamãe percebeu que precisava colocar em prática um desejo interno que estava recolhido ao trabalhar em uma empresa de Tecnologia da Informação (TI). “Trabalhava na área comercial de uma empresa de TI e engravidei. Então decidi procurar uma forma de adequar horários sem deixar de dar atenção ao filho, um grande problema para as mães. O modelo de empregabilidade não dá respiro para quem é mãe. Digo que a minha primeira profissão é mãe”, orgulha-se a curitibana.
Em 2016, a primeira grande tentativa de conciliar o trabalho com outra renda não deu certo. Cleise buscou ganhar dinheiro na internet com um blog em que o principal tema era enxoval de bebê. “As mães erram demais, gastam muito dinheiro, e eu focava em ajudar na hora da compra. O problema que não tinha tempo para escrever e não vingou”, confessou o ex-blogueira.
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Em 2017, a alimentação começou a entrar na vida de Cleise como dinheiro extra. Ela montou o Disk Pão de Queijo, mas devido à logística não foi para frente. Apesar das tentativas frustradas, Cleise não desistiu e buscou entender os motivos dos erros realizados. Fez terapia e ali recebeu a sugestão que mudaria o rumo do projeto, da venda e da forma que iria chegar ao público.
“Ela [terapeuta] falou que eu precisava ir para rua aproveitar meus dotes culinários, algo que gosto. Procurei pesquisas que mostravam que 30% das pessoas que estão na rua cedo não tomaram café da manhã antes de iniciar no trabalho ou no estudo. Fui conferir de perto isso, chegava na porta de empresas e perguntava na lata para quem chegava ao trabalho. Você tomou café da manhã? Isso foi fundamental para eu entender aquilo, ou seja, apesar de 30% não ser muito, eu tinha o público”, comenta Cleise.
Também em eventos
Após realizar mentoria no Sebrae, Cleise precisou escolher o nome para o seu café da manhã. Fã da Tia Nastácia – a amada personagem da obra do Sítio do Pica Pau Amarelo, responsável pelo surgimento da boneca Emília – ela fez uma consulta e obteve liberação para o uso da marca para Café da Tia Anastácia.
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“Tive essa ousadia de pegar o nome dessa quituteira de todos os mundos. Além disso, é uma homenagem a todas as mulheres negras que trabalhavam, que servem e dão carinho para quem está perto. As pessoas pensam que eu sou Anastácia ou se tenho uma tia com esse nome, aí olham a boneca da Emília que fica no carrinho e lembram. Eu quero levar as pessoas de volta a infância. É uma alimentação caseira, seja o café ou o bolo. As pessoas lembram da vó, essa é a minha pegada”, confessa Cleise.
A responsável pelo primeiro food bike de Curitiba fica somente na Avenida Arthur Bernardes no sentido Portão. Cleise não anda com a bicicleta pela cidade por vários motivos, seja da dificuldade de se locomover com os produtos ou mesmo pela ausência da liberação de venda no modelo comida na bicicleta.
“A prefeitura não reconhece o modelo food bike, algo que é liberado em várias cidades do mundo. Eu não posso ficar o dia inteiro, pois existe a fiscalização. Meu desejo é que um dia venha a ser liberado e aí eu possa aumentar o time do Café da Tia Anastácia”, disse a vendedora de emoção que ainda trabalha em um café na Sete de Setembro no período da tarde. Ela também faz eventos particulares levando a estrutura para eventos.
O Café da Tia Anastácia está nas redes sociais. Caso queira fazer uma cotação para eventos, entre em contato no Instagram pelo @cafedatiaanastacia.