Cadê meu carro?

Assaltantes levaram uma média de 26 carros por dia em Curitiba, de janeiro a março deste ano, o que significa mais de uma ocorrência por hora. Dados divulgados pela Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) mostram que os furtos e roubos de veículos na capital caíram 9,1% no primeiro trimestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado – quando a média era de 28,6 registros diários. Apesar disso, em uma rápida passagem da Tribuna do Paraná pelas ruas, a reportagem percebeu que a população continua alerta e com medo das ações dos bandidos.

Conforme a DCCP, em 2017 foram 236 ocorrências de furtos e roubos a menos do que no mesmo período do ano passado (veja o infográfico). Em termos percentuais, a queda superou muito a redução na frota de veículos na cidade. Segundo dados do Detran, a quantidade de automóveis em circulação encolheu 0,8% em relação a março de 2016: são 11.834 unidades a menos nas ruas.

Para o delegado Wagner Holtz, titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), a diminuição nos furtos e roubos está ligada a vários fatores, entre eles a presença mais efetiva da Polícia Militar (PM) nas ruas e às operações deflagradas pela especializada. “Acaba sendo uma soma de fatores que, juntos, fazem efeito. O patrulhamento, as operações policiais, a integração das forças de segurança e o acompanhamento do helicóptero do Grupamento de Operações Aéreas (GOA)”, aponta o delegado Miguel Stadler, que comanda a DCCP.

Bandidos na área

Miguel: Os bandidos estão na área e não vão parar de agir
Miguel: Os bandidos continuam na área e não vão parar de agir

Apesar do recuo nos registros, os policiais explicaram que o trabalho deve ser incansável e sem trégua. “Porque nós sabemos que os bandidos continuam na área e não vão parar de agir”, ressalta Stadler. Ele observa que as operações feitas pela DFRV surtem efeito logo nos primeiros dias. Nestas ações, muita gente já foi presa, como no caso das três operações com objetivo de prender envolvidos com clonagem de placas que levaram 20 pessoas para a cadeia e 30 carros foram apreendidos. “Tivemos casos, por exemplo, que enquanto uma quadrilha que prendemos estava na cadeia, os números diminuíram. Quando os bandidos voltaram às ruas, um mês depois, as estatísticas voltaram a subir”, explica Holtz.

Artifícios

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

O medo nas ruas já tem feito com que muita gente adote alguns artifícios para tentar escapar dos assaltantes. De cinco entrevistados, quatro já foram roubados e uma jovem estava junto com a amiga que foi assaltada.

“Minha mãe parou o carro de um lado da rua e a minha amiga do outro. Nisso veio um bandido armado, aproveitou que estávamos em mulheres e levou tudo”, conta Daniele Cruz Santos Gomes, 28 anos. Segundo a jovem, um minuto de distração foi o suficiente. “E tem sido bem complicado. Em qualquer lugar a gente está passível de assalto, ainda mais se bobearmos”.

Josemir Estevão Koler foi assaltado no semáforo, no Boqueirão. “Logo que parei, me abordaram armados. Não tive nem como tentar escapar. Curitiba está muito violenta”, considera.

O representante comercial Darci Garcia de Souza, 47, não só já viu alguns assaltos, como também foi vítima de furto. “Fui para a praia e quando voltei, meu carro não estava mais no local que havia deixado. Agora eu tenho tomado atitudes diferentes, uso trava, tenho seguro, pago estacionamento, mas mesmo assim não me sinto seguro”.

Mais visados

Mesmo com travas no carro, pagando seguro, estacionamento. Darci não se sente seguro
Mesmo com travas no carro, pagando seguro, estacionamento. Darci não se sente seguro

O bairro Água Verde sempre esteve nas estatísticas como o mais visado pelos bandidos e continua na lista. Mas a Tribuna do Paraná apurou que os bairros da região central agora estão no topo da lista. “Talvez pela maior concentração de pessoas o que, obviamente, gera também um maior fluxo de veículos”, aponta Stalder.

No Água Verde, a facilidade encontrada pelos bandidos sempre foram as saídas que o bairro tem para outras regiões, por isso a região continua na lista dos maiores registros. “Principalmente por ser mais residencial, praticamente sem muito comércio. Isso faz com que os bandidos cresçam os olhos”, nota Holtz.

O titular da especializada não detalhou os modelos mais roubados, apenas citou que os veículos de médio porte, de R$ 30 mil a R$ 40 mil, são os mais procurados pelos bandidos. Segundo apurou a reportagem, Ônix, HB20 e Sandero têm sido alvos fáceis. “Muitos desses carros não têm sido desmanchados e sim clonados para circular na mão de marginais”, destaca o chefe da DCCP. “Os bairros mais assaltados e veículos mais visados refletem no valor do seguro. Por isso temos trabalhado duro para diminuir estas estatísticas”.

A recuperação dos veículos foi um fator que não aumentou nestes primeiros meses do ano. Em 2016 foram recuperados 39 veículos a mais do que neste ano, mas segundo o chefe da DCCP, estes números ainda podem ser considerados bons, pois se manteve a média.

Tentando escapar

A forma mais comum, mas nem sempre barata, de quem tem carro dormir tranquilo sempre foi o seguro. “Foi isso, que depois de quitar o carro, nós optamos fazer. É caro, mas pelo menos a gente tem a consciência tranquila de que vamos ser respaldados se algo acontecer”, fala uma motorista, que não se identificou.

Segundo os policiais, além do seguro do veículo, as dicas são instalar equipamentos que dificultem as ações. “Como aquele aparelho que corta o combustível. Se o bandido quiser mesmo levar o carro, ele vai levar, mas o corte de combustível é um dos melhores, porque pega o assaltante de surpresa”, aponta o delegado Holtz.

Joacir foi assaltado três dias depois de colocar o corta-combustível
Joacir foi assaltado três dias depois de colocar o corta-combustível

Também é importante ficar atento e não ficar muito tempo parado na rua. “Por exemplo, conversando com amigos ao lado do carro, mexendo ao celular com o veículo estacionado ou retocando a maquiagem, no caso das mulheres. Tudo isso é facilidade para os bandidos e nós podemos cuidar”.

Joacir Kubaski, 57, foi assaltado três dias depois de colocar o corta-combustível. “Parecia que eles estavam até adivinhando. Ele me abordou armado, eu nem pensei em reagir, deixei levar. O bandido andou pouco mais de um quilômetro e o carro parou”, conta. Apesar da sensação de insegurança, Joacir diz ter ficado satisfeito com o aparelho que contratou. “A segurança tá ruim, então temos que investir da nossa forma”.

RAIO-X DE CURITIBA

Frota de veículos

Em março de 2016: 1.415.667 veículos
Em março de 2017: 1.403.833 veículos
Queda de 0,8%

Furtos e roubos de veículos

De janeiro a março de 2016: 2.578
De janeiro a março de 2017: 2.342
Queda de 9,1%

Veículos recuperados

De janeiro a março de 2016: 1.197
De janeiro a março de 2017: 1.158
Queda de 3,2%

Fonte: Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP)

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