Saúde pública

Caça-aranhas: eles deixam o medo de lado pra salvar vítimas da aranha-marrom

José Lúcio Alves Martins, o mais antigo caça-aranha da equipe do CPPI: "Ajudamos muita gente com nosso trabalho". Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Uniforme branco, luva e calçado especial. Não estamos falando de futebol ou outro esporte, mas fique sabendo que pertinho da gente existe uma verdadeira seleção que pode salvar a sua vida. São os Caça-Aranhas, que prometem para a temporada 2020 a captura de 45 mil aranhas-marrons no Paraná e parte de Santa Catarina.

Os Caça- Aranhas são formados por cinco técnicos do Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI) do governo do estado, na cidade de Piraquara, na região de Curitiba . O CPPI é referência nacional na produção do soro antiloxoscélico, utilizado contra a picada da aranha-marrom.

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Equipe de coleta de aranhas-marrons do CPPI: trabalho fundamental para coleta do veneno para produção do soro. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Segundo dados da Secretaria de Saúde do Paraná, em 2019 foram 3.752 vítimas do aracnídeo conhecido pela picada que necrosa os tecidos. Ao buscarem atendimento, o soro foi fundamental para a cura e, em muitos casos, até evitar a morte. Em apenas duas situações não foi possível reverter o quadro – uma em União da Vitória, no Sul do estado, e outra em Francisco Beltrão, no Sudoeste.

Para a produção deste soro, o processo não é simples. Além de tecnologia e investimento, os Caça-Aranhas colocam literalmente a mão na massa, ou melhor, nas aranhas. Neste seleto grupo, não existe espaço para medo, insegurança e receio de ser picado. O início da logística ocorre com as expedições quando Antônio Pinheiro, José Lúcio Alves Martins, Júlio Padilha, Acir do Rosário Mendes e Aroldo de Morais se encontram e partem rumo a lugares como fazendas, sítios ou até empresas abandonadas. A ideia é encontrar muitos tijolos ou telhas, que são perfeitos esconderijos para o temido aracnídeo.

Em um único terreno, os caça-aranhas chegam a coletar 500 aracnídeos. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

João Carlos Minozzo, médico veterinário e chefe da Divisão de Pesquisa do CPPI, conhece bem a equipe que não mede esforços para alcançar o objetivo de capturar três mil aranhas em cada expedição realizada. “São 14 viagens e chegamos a encontrar em um único espaço mais de 500 aranhas-marrons. Os Caça-Aranhas são ousados, capacitados com muito treinamento. Além de capturá-los com a mão, eles identificam as espécies, trazem ao laboratório e extraem o veneno.  Eles ajudam demais a população”, ressalta Minozzo.

A captura para esta turma é algo simples. Com uma luva especial que evita que a picada chegue até a pele dos Caça-Aranhas, a equipe recolhe uma aranha por vez. Se estiver muito pequena, o animal não é recolhido e permanece no local. A ideia é que a aranha cresça para que quando foi capturada, a quantidade de veneno seja maior.

Choque na Aranha!

Para retirar o veneno das aranhas, o trabalho é quase artesanal. Os especialistas utilizam pequenos choques no animal – para extrair os 15 mg de veneno que são injetados no cavalo para a produção do soro são necessárias 300 aranhas. O choque não mata o aracnídeo. Após chegar à CPPI, cada aranha passa por uma média de três sessões de choque a cada 40 dias.

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Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

As aranhas são alimentadas por pequenas baratas que são criadas em laboratórios e ficam alojadas em frascos. Após a extração do veneno, o líquido é aplicado nos cavalos junto com uma substância que anula o efeito da toxina para não envenenar o equino. Após 35 dias de inoculação do veneno, a primeira bolsa de sangue equinos é retirada dos equinos – são três no total. O plasma, onde ficam os anticorpos produzidos pelos cavalos, é separado para a produção do soro antiloxoscélico no Instituto Butantã, em São Paulo. Já os glóbulos vermelhos são reintroduzidos nos cavalos.

O Butantã é considerado para os Caça-Aranhas, uma espécie de Maracanã. O local produz quase um milhão de ampolas de soro por ano e fascina que tem interesse em trabalhar com pesquisas biológicas. José Lúcio Alves Martins, 71 anos, um dos Caça-Aranhas do Paraná, passou por um curso na capital paulista antes de ingressar nesta seleção. 

Ali estudou com detalhes a vida de animais peçonhentos e entendeu o significado de colocar a vida em risco para que outra pessoa venha a ser beneficiada. “Eu trabalhei no Ministério da Saúde e quando surgiu uma vaga, achei que era a hora de aprender ainda mais. Gosto muito daqui, pois ajudamos muita gente. Somos reconhecidos nas ruas e brincam conosco falando que chegaram os caras das aranhas. É muito importante este trabalho”, orgulha-se o veterano da equipe que veste a camisa há 13 anos.

Mesmo tendo os Caça-Aranhas a disposição, a população não pode brincar com o bicho.  O grande segredo é deixar todos os espaços limpos com uso de pano e aspirador de pó.  Geralmente, as aranhas ficam escondidas entre as roupas e calçados. No ambiente externo é preciso dar atenção para materiais de construção e restos de madeiras.  “É preciso ter cuidado, mas a aranha não é agressiva. Ela fica ofendida quando a pessoa altera a forma que ela está posicionada e quer fugir. A picada é para ela ficar livre”, garante José Lúcio Alves Martins.

O serviço é gratuito, mas recomenda-se que procure o Centro somente quando visualizar muitas aranhas dentro de casa. O telefone é o (041) 3673-8800.

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