Corrida concorrida

Foto: Giuliano Gomes

Quem precisa se deslocar por Curitiba agora, além dos táxis e do transporte coletivo, tem como opção mais um aplicativo de transporte individual privado. Na última quarta-feira (22) a Cabify iniciou sua operação na capital paranaense, passando a concorrer diretamente com a Uber e com a T81, que já atuam neste mercado, acirrando ainda mais a já tão inflamada disputa por passageiros entre os taxistas e os motoristas dos aplicativos, que não são regulamentados na cidade.

Apesar de o prefeito Rafael Greca (PMN) ter prometido – durante a campanha – regulamentar os aplicativos, a Urbs informa que não há previsão para isso acontecer. Para especialistas consultados pela Tribuna do Paraná, a falta de normatização municipal não quer dizer que os aplicativos estejam ilegais.

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Passageiros aprovam

Diana usa o aplicativo Uber pelo menos três vezes por semana
Diana usa o aplicativo Uber pelo menos três vezes por semana

A chegada de mais um aplicativo a cidade têm agradado os usuários, como a assistente administrativa Diana Ribeiro, 27 anos, cliente assídua deste tipo de serviço. “Uso Uber sempre, pelo menos três vezes por semana. É ótimo, o preço é bom e o serviço excelente. Com a chegada deste novo aplicativo, se a gente tiver a possibilidade de ter desconto, será ótimo, vou usar, ter os dois no celular. Acho que o serviço tradicional, dos táxis, está ultrapassado”, opina.

Leandro:
Leandro: Acredito que há espaço para todos aqui na cidade.

O educador físico Leandro Aguiar, 31, vê estes serviços com bons olhos. “Não uso muito, mas minha esposa costuma utilizar. Os aplicativos são bons, pela facilidade e pelo preço. Acredito que há espaço para todos aqui na cidade, principalmente para os que atuarem na região metropolitana. Seria legal se estes lugares fossem atendidos”.

Nascido em Parma, na Itália, o empresário Carlo Remondini, 56, também vê vantagens na ampliação da oferta de serviços de transporte individual. “Sou estrangeiro e aqui fui atendido por alguns taxistas mal educados e desonestos, que não sabiam onde era a rua para onde eu estava indo e que fizeram um trajeto maior, para cobrar mais. Mas também encontrei motoristas gentis. Já o Uber, eu acho excelente, principalmente pela avaliação que podemos fazer dos motoristas, depois das corridas”.

Sob protestos

Foto: Giuliano Gomes
Foto: Giuliano Gomes

Para o presidente do Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná (Sinditáxi) Abimael Mardegan, Cabify, Uber e demais aplicativos não são concorrentes dos táxis, e sim, serviços piratas. “Aqui não tem lei, todo mundo chega e explora. Pode tudo, carro particular, e daqui a pouco, até carroça, bicicleta ou levar os cliente nas costas. Por que cobram alvará e taxas somente dos taxistas? Nós temos que passar por fiscalizações e cumprir 48 determinações da Urbs, para podermos trabalhar. Curitiba até então era a única cidade que se enquadrava na Lei da Mobilidade Urbana, com os serviços de táxi comum e executivo. O taxista oferece segurança e qualidade aos passageiros e isso não acontece com estes aplicativos, que são irregulares. Mas o governo municipal é omisso, espera que algo seja definido em Brasília. A prefeitura deveria coibir isto e não esperar o congresso e uma lei federal. E quem sofre é a população, com a chegada de mais um transporte irregular e sem segurança”.

Olival: Fica difícil trabalhar assim, tem muita concorrência
Olival: Fica difícil trabalhar assim, tem muita concorrência

Há dois anos na praça, o taxista Olival Viera Cardoso, 65, diz que as coisas estão cada vez mais complicadas para a categoria. “Fica difícil trabalhar assim, tem muita concorrência. Se tivesse mesmo esse espaço, eles deveriam aumentar o número de táxis. Sou taxista há dois anos e com a crise e o Uber, vi o movimento cair bastante. Se ainda fosse regulamentado, seria mais justo. Mas não sabemos qual é a intenção das autoridades, que deixam eles trabalharem assim”.

Opinião compartilhada pelo taxista Rodrigo dos Anjos, 34. “Não somos contra a concorrência. Somos a favor que ela aconteça, mas de uma forma legal e leal. Eles são clandestinos, nós temos que ter alvará e atestado de antecedentes criminais. Já no aplicativo, qualquer um pode alugar um carro e começar a pegar passageiros. O que falta é aplicar o mesmo critério que serve para nós, para os clandestinos, sejam eles do Uber, Cabify ou outro aplicativo. A lei tem que ser cumprida, para garantir a segurança dos passageiros”.

Rodrigo: Não somos contra a concorrência. Somos a favor que ela aconteça, mas de uma forma legal e leal. Foto: Giuliano Gomes
Rodrigo: Não somos contra a concorrência. Somos a favor que ela aconteça, mas de uma forma legal e leal. Foto: Giuliano Gomes

Novo aplicativo

Segundo a gerente geral da Cabify em Curitiba, Thais Cunha, a plataforma espanhola iniciou sua atividade na cidade com centenas de motoristas cadastrados, atendendo incialmente os bairros mais centrais da capital e o aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais. “Sempre começamos a operação com um perímetro pré-definido, mas em dois ou três meses devemos cobrir toda a cidade. E Curitiba é para nós o lançamento mais aguardado do Brasil. Acreditamos muito no potencial de Curitiba, capital de pessoas conectadas, que ainda depende muito de sua frota de ônibus e que em comparação com outras cidades, tem um trânsito mais tranquilo”.

De acordo com Thais, entre os diferenciais trazidos pela empresa estão o processo de seleção dos motoristas, a personalização do serviço e a precificação da tarifa, que não é dinâmica. “Somos super rigorosos no processo de seleção de nossos motoristas. Ele começa online, com o cadastramento da CNH (Carteira Nacional de Habilitação), antecedentes criminais e documentos do carro, que deve ter sido fabricado a partir de 2012. Depois disto, os motoristas cadastrados passam por uma grande capacitação e seus veículos são vistoriados. E nós trabalhamos com um “trajeto ótimo”, com uma tarifa cobrada em cima do trajeto mais curto, ela garante que o motorista tenha ganhos e que os usuários não paguem a mais em determinados momentos”.

Marcelo está otimista com Cabify. Foto: Pedro Serápio
Marcelo está otimista com Cabify. Foto: Pedro Serápio

Já cadastrado, o motorista Marcelo Franco, 46, conta que a Cabify tem se mostrado uma ótima opção de trabalho. “O cliente escolhe como quer ser atendido, que rádio quer ouvir, se quer o ar condicionado ligado, que abram a porta ou se quer ir no banco da frente ou de trás. Também trabalhamos com preço fixo, uma vantagem para o cliente que quiser se programar para ir e voltar para o trabalho durante o mês, por exemplo. Para mim, que era consultor SAP e que há três anos ficava fora de casa, de segunda a sexta-feira, viajando a trabalho, foi uma troca pensada na qualidade de vida. Com ela, minha renda diminuiu cerca de 40%, mas já vejo perspectiva de ganhar 80% do que recebia antes e, melhor de tudo, hoje estou próximo da minha família. E a empresa valoriza muito o parceiro”, revela.

Mais conforto

Atuando em Curitiba há um ano, a Uber, também anunciou novidades. No último dia 16, a empresa disponibilizou para os usuários de Curitiba a categoria Uber Select, uma opção intermediária entre o UberX, que conta com os carros mais simples e o serviço de luxo Uber Black. Segundo a empresa, com essa nova categoria, a Uber vai oferecer carros mais confortáveis por um preço, em média, até 20% maior do que o do UberX. Novidade disponível em Curitiba e em outras 13 cidades brasileiras.

Fabiano presta serviços para a Uber e busca cadastramento no Cabify. Foto: Giuliano Gomes
Fabiano presta serviços para a Uber e busca cadastramento no Cabify. Foto: Giuliano Gomes

Para o motorista da Uber Fabiano Zalasko, 42, cadastrado nas categorias X e Select, atuar com a plataforma tem sido recompensador. “Acho que aqui tem espaço para todos e a concorrência com outros aplicativos vai fazer com que existam mais ofertas para os passageiros. Curitiba só tende a ganhar com isso. Eu estou satisfeito em trabalhar com a Uber. Agora, depois do Carnaval, principalmente nos dias de greve dos ônibus, nosso movimento melhorou bastante, está ótimo para trabalhar, não tenho do que reclamar. Tem que estar nas ruas, mas para quem trabalha, compensa”.

Segundo ele, o público tem se mostrado cada vez mais adepto ao serviço. “Aqui na cidade, principalmente o público feminino está usando o serviço da Uber, pela segurança e praticidade. Com o Select, agora as pessoas escolhem o carro, e isto tem agradado especialmente quem vai para um casamento ou para a balada, por conta dos carros melhores”, conta o motorista, que também está de olho na concorrência e já efetuou seu cadastro, para em breve, também atuar junto ao Cabify.

Regulamentação

De acordo com o doutor em direto e especialista em direito administrativo, advogado Bernardo Guimarães, a regulamentação dos serviços prestados pelos aplicativos de transporte individual pode ser útil, no sentido de aplacar os conflitos entre os motoristas destas plataformas e os taxistas. Mas ressalta que a atuação deles não é irregular.

“O serviço de contratação de transporte privado, com motoristas particulares, é algo que sempre existiu no Brasil. Pessoas utilizam este serviço, com os ônibus que levam os funcionários de suas empresas ou quando contratam em ocasiões, como em casamentos, motoristas e carros especiais. Este tipo de serviço é amparado no Código Civil, que trata dos contratos de transporte de pessoas. No transporte público, o serviço é fiscalizado e concedido pelo Estado. No caso da Uber e de outros aplicativos, o que acontece é que estas empresas conseguiram, por meio da tecnologia, conectar o motorista particular aos clientes. E ninguém é obrigado a utilizar somente os serviços públicos. Assim, acredito que a regulamentação pode ser feita, com o objetivo de criar regras de segurança e não de criar embaraços, para proteger uma categoria pública. Mas do ponto de vista legal, os aplicativos não são ilegais”, esclarece.

Para o arquiteto Carlos Hardt, professor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a regulamentação envolve muitos aspectos. “É uma análise complicada, temos ganhos com este serviço se comparado ao carro particular, mas antes de mais nada, nenhum sistema de transporte individual deve substituir o transporte coletivo. Todos estas aplicativos devem ser entendidos como serviços complementares. O táxi é fundamental para a cidade, mas seu formato precisa ser revisto e discutido, para que continue sendo uma alternativa aos aplicativos. Mas se a regulamentação não for feita, a tendência, é que a longo prazo, os táxis acabem. É preciso determinar sobre quais regras esses serviços podem atuar, para que com o tempo, a qualidade e a segurança não se deteriorem”, analisa.

Sem avanços

A Cabify informa que atua junto com os órgãos públicos e é favorável à regulamentação. Com a definição das regras, a empresa acredita que todos poderão trabalhar e conviver em harmonia. Já a Uber se diz amparada pelo Plano Nacional de Mobilidade Urbana, alegando não ser um serviço de transporte público individual, mas privado. A T81, que atua em Curitiba desde dezembro de 2016, não respondeu aos questionamentos da Tribuna.

Já a Prefeitura de Curitiba informou que não há novidades com relação à possível regulamentação dos serviços de transporte individual. Em janeiro deste ano, a administração anunciou que uma comissão seria criada dentro da Urbs para estudar o assunto, mas o órgão não tocou mais no assunto.

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