Veja como a percepção de mocidade x velhice mudou no Brasil em pouco tempo. Você se lembra daquela música do cantor sertanejo Sérgio Reis, “Panela Velha”? Relembre a letra: “Tô de namoro com uma moça solteirona / A bonitona quer ser a minha patroa / Os meus parentes já estão me criticando / Estão falando que ela é muito coroa / Ela é madura, já tem mais de 30 anos / Mas para mim, o que importa é a pessoa / Não interessa se ela é coroa / Panela velha é que faz comida boa”. Lá em 1983, quando a música foi lançada, uma pessoa com mais de 30 anos já era considerada “coroa”. E hoje, a partir de que idade uma pessoa é “coroa”?

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Para instigar ainda mais o seu raciocínio, pense em pessoas como a apresentadora Ana Maria Braga (70 anos), a jornalista Glória Maria (69 anos), o cantor Mick Jagger (75 anos) ou o beatle Paul MacCartney (76 anos), que recentemente fez uma turnê pelo Brasil, lotando estádios. Com tanta energia e vitalidade para continuar trabalhando e produzindo com qualidade, você os chamaria de “coroas”?

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A Bradesco Seguros divulgou, no mês passado, o resultado da pesquisa Longeratividade (junção dos termos longevidade e atividade), que demonstra muito bem como está sendo a “aposentadoria” dos brasileiros com mais de 50 anos: continuam sentindo-se em plena energia para seguir produzindo, ao invés de ficar em casa, de pijama, assistindo TV.

Velhos?

A Bradesco Seguros divulgou, no mês passado, o resultado da pesquisa Longeratividade. Foto: Divulgação/Bradesco Seguros

Na década de 1940, a expectativa de vida do brasileiro era de pouco mais de 40 anos. Hoje, menos de 80 anos depois, essa expectativa já chegou a 75 anos e o Brasil possui 24 milhões de pessoas com mais de 60 anos. E se somarmos os brasileiros a partir dos 50 anos, esse público aumenta para 54 milhões de pessoas, o que representa 1/4 da população nacional.

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Agora uma perspectiva futura: em 2050 (daqui mais 30 anos), a expectativa de vida brasileira deve superar os 81 anos. As pessoas com 50 anos ou mais representarão 98 milhões de pessoas, ou seja, 81% a mais do que somos hoje. A pesquisa apontou ainda que 7, em cada 10 brasileiros, acreditam que viverão até os 80 anos ou mais.

“Desde a Roma antiga até o início do século passado, ou seja, no decorrer de dois milênios, o máximo avanço conseguido foi um aumento de seis anos na expectativa de vida. Nas últimas décadas, graças aos avanços da medicina, conseguimos aumentar essa expectativa de 6 para mais de 30 anos. Foram avanços rápidos demais em tão pouco tempo. O Brasil está envelhecendo muito mais rápido que países ricos, mas estamos envelhecendo com mais pobreza e desigualdade”, analisa o gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC, da sigla original em inglês).

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“Pela primeira vez na história conseguimos ver quatro gerações juntas nas empresas ou em nossas casas”, analisa Jorge Nasser, presidente da Bradesco Vida e Previdência e presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).

A pesquisa Longeratividade, realizada pelo Instituto Locomotiva, foi realizada nacionalmente em novembro de 2018. Ela entrevistou 2.184 pessoas de forma online, além de reanalisar e cruzar dados de pesquisas já existentes: CENSO/IBGE, PNAD/IBGE, POF/IBGE e CETIC. Ela buscou focar no público a partir dos 50 anos, porque é a idade que muitos começam a se aposentar, porém ainda estão produtivos e aptos a girar a economia do País.

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“O que precisamos é de políticas públicas e políticas facilitadas nas empresas para o público com mais de 50 anos. E também investimento em cultura e educação, pois precisamos envelhecer com discernimento. Essa pesquisa é muito importante, porque sem dados, vamos envelhecer às cegas”, analisa Kalache.

Parar? Nem pensar!

Seu Aderbal carrega uma televisão de tubo de 29 polegadas sozinho, o que muitos jovens nem se atrevem a tentar. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A área da eletrônica é uma das que mais mudou nas últimas décadas. Mas o técnico em eletrônica Aderbal Pedroso Cunha, 74 anos, não está nem aí. Conserta TVs desde a era das pretas e brancas até as atuais Smart TVs. E não teve problema algum em se adaptar às novas tecnologias que foram surgindo: as TVs à válvula, depois as transistorizadas, em seguida os circuitos integrados até as atuais com processamento digital.

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E não bastasse a plena capacidade intelectual, Aderbal também tem uma saúde física invejável: ainda levanta e carrega nos ombros aqueles televisores de tubo, de 29 polegadas, bem pesados e desajeitados, que muitos jovens que chegam lá na eletrônica com um desses para consertar sequer conseguem tirar o aparelho de dentro do carro. Não precisa de óculos, pois enxerga muito bem os circuitos eletrônicos que lida o dia todo, ou as letras miúdas da Bíblia que lê nas horas de lazer. Quase nunca fica doente e raramente vai ao médico.

E Aderbal nem pensa em parar de trabalhar. “Estacionar ou desanimar? Nunca!”, diz ele, que trabalha diariamente em sua eletrônica ali na Rua Abel Scuissiato, no bairro Alto Maracanã no município de Colombo, região metropolitana de Curitiba, junto com o filho, Adeíldo Guilherme Cunha, 41 anos.

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Lá na oficina da família, Aderbal conserta também micro-ondas, aparelhos de som (dos antigos até os mais modernos), fritadeira elétrica, secador de cabelo, chapinha, aspirador de pó, ventilador, e o que vier precisando de reparo eletrônico. E não bastasse toda essa energia para trabalhar e aprender coisas novas, Aderbal ainda se dedica à construção de uma Casa Pastoral, pertencente à igreja que ele frequenta. Três vezes por semana ele fecha a eletrônica às 18h e vai trabalhar na obra.

Maturidade

Aderbal diz que, de todos os termos que descrevem a terceira idade, a palavra “maduro” é a que melhor lhe define. Não se considera velho, pois está muito ativo e produtivo. “Estou disposto para qualquer coisa. Até pra uma corrida de rua”, diz ele.

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Continuar trabalhando depois da aposentadoria foi algo natural para o técnico, que não se sentia cansado. “Além de eu precisar do complemento de renda, também é para manter a minha saúde física e mental. A vida segue devagar e sempre. A gente não sabe o dia de amanhã. Mas quero viver até os 100 anos”, afirma ele.

Youtuber

A atriz Regina Vogue. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Quem também acha que idoso e velho são termos que não lhe cabem é a atriz Regina Vogue, que no auge dos seus 74 anos, vai virar youtuber. A atriz, que leva uma vida bem ativa, cheia de compromissos, vai justamente falar sobre a sua idade e vitalidade no canal “Gira Regina”, que foi lançado no último dia 7, em Foz do Iguaçu. “Se precisar eu falo até de sexo”, conta a atriz, que diz estar amando a sua idade, porque ela está lhe dando cada vez mais trabalhos. Além de continuar atuando (dia 1º de junho ela inaugura o seu monólogo A Espera), ela também dá palestras e cuida do teatro que leva seu nome, sem contar os numerosos compromissos pessoais.

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“Idade é algo que está na cabeça de quem inventou isso. Enquanto a gente tem um sopro de vida e lucidez, tem que viver. Quando vou ao banco, não fico na fila de idoso não. Eu ainda tomo meu vinho, saio na noite. Eu tenho cabelos brancos, mas não gosto deles! Prefiro meu cabelo vermelho, outro dia preto. Não existe pessoa velha. Existe a forma como você encara o mundo”, diz ela, que já acorda ligada no 220.

Em relação à saúde, Regina se considera “privilegiada” por já ter todas as “ites” que a medicina pode lhe diagnosticar. “Eu tenho problema no ciático, não enxergo bem, tenho labirintite, artrite. Mas estou aqui, andando, vivendo”, brinca Regina, sempre feliz.

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“E os mais jovens nunca podem olhar os mais velhos como descartáveis e inúteis. Experiência não conta? A gente tem que ser criança a vida toda. E para todos eu digo, principalmente para quem já viveu bastante: nunca desista dos seus sonhos. Enquanto estiver vivo, tenha um sonho”, diz Regina, contando o segredo da sua vitalidade.

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