Curitiba

Beleza roubada

Escrito por Magaléa Mazziotti

Seja em dias de calmaria, seja nos domingos de sol e multidão, a beleza do Parque Passaúna cativa pessoas de dentro e fora de Curitiba mesmo sem a infraestrutura adequada. Tanto que quem tem a oportunidade de frequentar o local durante os dias de menor fluxo vira um apreciador fiel.

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É o caso do líder de açougue Elcio Dieder da Luz, 35 anos. Mesmo residindo no Tatuquara, ele consegue conciliar a jornada de trabalho e a distância da sua residência para visitar o local pelo menos duas vezes na semana. “Não há melhor lugar para se conectar com a natureza”, define. Diante de uma das principais atrações do local, o mirante de 12 metros de altura, que fica em um morro à beira da represa, com 60 metros do nível do lago, Elcio costuma passar horas contemplando a exuberância da mata e das águas que ficam em parte em Curitiba e parte em Campo Largo. “A vista daqui é deslumbrante, mas também recomendo descer e se esticar às margens do lago perto da olaria com chaminé desativada. Às vezes, acabo dormindo”, revela. Ele conta que não entra na água porque defende que quem gosta do lugar deve respeitar as regras de uso.

A dona de casa Eidi Jabonski, 43, que costuma acompanhar a filha e os sobrinhos no parquinho, reconhece a beleza do local, mas não recomenda no fim de semana, por conta da presença de usuários de drogas e jovens que, em bandos, provocam baderna. “Não existe fiscalização suficiente, tanto para controlar o som alto, quanto da pesca e das pessoas que mergulham na água do lago”, conta. “Naqueles telhados (das olarias) sempre vejo a garotada mergulhando e sem ninguém para proibir”, aponta.

Élcio visita local pelo menos duas vezes por semana. Foto: Cicíro Back
Élcio visita local pelo menos duas vezes por semana. Foto: Cicíro Back

Outra questão que incomoda a todos é o número insuficiente de banheiros diante do tamanho da área e da quantidade de apreciadores que passam por lá. Há quem nem saiba que o local possua sanitários, já que existem apenas duas unidades próximas ao posto da Guarda Municipal. “E isso cria um problema para o meu negócio, já que mesmo quem não é cliente acaba vindo usar aqui, o que aumenta os custos com a limpeza e manutenção”, aponta o professor e empresário Ibrahim El Chamaa. Desde agosto, ele está à frente do Passaúna Sup Club, empresa que comercializa e aluga pranchas para prática de stand up paddle, em que os praticantes remam de pé.

A situação do parque, no bairro Augusta, foi destaque da última Tribuna Regional CIC.

Pode ou não pode?

A prática do stand up paddle no lago do Parque Passaúna gera dúvidas devido à proibição de banho no local. O empresário Ibrahim El Chamaa se defende baseado na Lei 17.048/12, que liberou esportes náuticos para atividades em lagos, lagoas e represas. No entanto, a Companhia Paranaense de Saneamento (Sanepar), responsável pela gestão das áreas de barragens, explica que “o Decreto n.º 7.072/13, que regulamenta esta Lei, exige que, antes de ser aberta ao público, cada barragem tenha seu Plano para Uso e Conservação da Água e do Entorno do Reservatório aprovado”.

Eidi elogia a beleza, mas critica falta de fiscalização. Foto: Cicíro Back
Eidi elogia a beleza, mas critica falta de fiscalização. Foto: Cicíro Back

Conforme a Sanepar, a aprovação deste plano é feita pelo Conselho Gestor dos Mananciais da Região Metropolitana de Curitiba (CGMRMC). Atualmente o Plano de Uso da Barragem do Passaúna aguarda análise da Câmara Técnica do Passaúna, órgão responsável pela gestão da Área de Preservação Ambiental (APA) da Bacia Passaúna, e, posteriormente, do Conselho Gestor. Por isso, pelos critérios da Sanepar, as áreas das barragens utilizadas, incluindo a Represa do Passaúna, não poderiam estar sendo utilizadas para pesca ou prática de esportes aquáticos, como remo, vela e stand up paddle, porque ainda não atendem à legislação.

Quem fiscaliza

Em função do lago estar entre dois municípios, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba (SMMA) explica que a competência desse tipo de fiscalização é estadual, que liberou o uso embora não tenha regulamentado a lei. A pasta alega que é necessário readequar o local por conta do impacto ambiental dessas atividades em uma das principais represas responsáveis pelo abastecimento de água da Grande Curitiba. A SMMA informou ainda que está sendo programada uma ação intensiva de fiscalização quanto à proibição de som alto. Em relação à instalação de novos sanitários para atender a população e evitar que a mata seja utilizada para esses fins, o caminho depende de um acordo envolvendo as prefeituras de Curitiba e Campo Largo e o governo estadual.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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